— Voltar pra Paris?— Ina e Aikoh perguntaram ao mesmo tempo, Clara havia acabado de voltar da sala com o rosto tranquilo antes de anunciar aos dois jovens que partiria em breve.
— Sim, não se preocupem eu não pretendo causar problemas, estou indo porque talvez eu consiga algumas respostas lá.— Tentou acalmar os dois a sua frente que pareciam ter ouvido a coisa mais surpreendente do mundo.
— Você precisa contar isso para Caio logo, ele está se esforçando para investigar tudo desde de que fugimos.— Ina aconselhou a amiga.
— Tem razão, não posso ignora-lo.— Precipitou-se pela casa a procura do ruivo, entrou no segundo quarto da casa e avistou Caio sentado em uma cadeira a frente de uma pequena mesa de madeira com muitos papéis soltos em volta dele e alguns e suas mãos, rabiscados e amassados.
Clara não bateu na porta, apenas entrou silenciosamente e observou o conteúdo dos papéis que cercavam Caio. Haviam inúmeras pesquisas sobre o governo russo, suas ambições, alianças e desavenças, no computador a sua frente havia uma página de busca aberta com o nome "Unio" e nenhuma resposta. Clara conseguia sentir a frustração de Caio de longe, então pensou que poderia anima-lo com sua teoria.
— Acho que posso descobrir algo.— observou os olhos brilhosos de Caio se voltarem para ela.— Mas preciso voltar para Paris.- No lugar do brilho havia espanto agora.
— Explique.— Caio fez sinal para que a loira se sentasse na cama ao lado de sua mesa.
— Existe uma pessoa, uma pessoa que podemos confiar.— Disse afirmando com a cabeça e conferindo a expressão do ruivo.— Ele mora em Paris e conhece um cara que tem ligação com a Unio.
— Como ele conhece alguém assim? Como você sabe disso? Eu pedi pra você explicar, não me deixe mais confuso!— Clara viu uma veia saltar em seu pescoço e seu rosto branco se envermelhar como resposta a irritação que sentia.
— Tudo bem, serei clara!— sua voz soou mais forte, não gostava quando a tratavam com rispidez mesmo que fizesse isso com os outros sem perceber vez ou outra.— Esse meu amigo, Tau, tem contatos com fornecedores de drogas. Eu sei disso porque ele foi a única pessoa em quem usei minhas habilidades nos últimos dez anos, e também é a única que confio de olhos fechados. Visitei suas memórias inúmeras vezes e ainda tenho acesso a maioria, mas algumas se perdem em minha mente quando eu não as dou uso. Isso aconteceu com essa memória em que Tau se encontra com alguém que conhece o nome Unio, por isso eu não pude me lembrar tão rapidamente e associar os fatos, se isso tivesse acontecido ainda na mente de Aikoh ele teria acesso a essa lembrança também e lhe pouparia um dia inteiro de pesquisa. Desculpe por isso.
— Por isso você quer ir a França? O que pretende fazer lá? Não sei se consigo confiar em você ainda.— Seu rosto havia suavizado alguns milímetros, ele continuava a pensar em formas de tirar proveito dessas informações.
— Sim... Eu quero procurar esse homem, Tau vai me ajudar a encontrá-lo, ele é nosso aliado. Eu posso te mostrar se quiser.— Clara entendeu a mão direita para Caio de forma com que a palma estivesse virada para cima e o pulso completamente exposto.
— Se eu... se eu encostar em você...— Engoliu o seco, seus dedos estavam a poucos segundos de encontrar a mão pálida de Clara
— Não. Não vai acontecer nada já que eu nunca estive ai dentro.— Havia um raro sorriso no canto da boca da jovem ao apreciar a cara de hesitação de Caio.— Eu só quero saber se posso te mostrar tudo que eu tenho até agora. Assim você pode explicar aos outros, já que eu não faço questão de fazê-lo, mas sei que você faz.— ofereceu a mão novamente.
Caio a agarrou, e encarrou os olhos azuis de Clara. Ela fez questão de contar cada detalhe, as visões que teve quando entrou em contato com Lorenzo e como isso se concretizou, serviram para alertar o ruivo que o pior poderia vir ao seu encontro. Também mostrou as lembranças de Tau e as suas que deixava nítido o tipo de relação que mantinham. Caio não questionou nada, apenas assistiu e entendeu que talvez Clara estivesse certa em voltar a Paris e investigar por lá.
Enquanto ela estivesse fora, ele poderiam voltar a floresta novamente e tentar descobrir sobre a relação da Unio e o governo russo. Assim, estariam evoluindo duas vezes mais, foi esse o principal critério que ele usou para aceitar a partida da jovem.
Estar em contato com a mente dela também o fez deixar sua cautela de lado em relação a loira, percebeu que ela realmente almejava a vingança assim como todos os outros. Mas isso também despertou um receio em seu peito. Clara era de longe a criança mais lesada durante esses dez anos, já que nem ao menos desfrutou de uma família ou de amigos, sabendo que a única pessoa que tem tudo dela é Tau, Caio começou a se preocupar sobre a segurança da loira. Um humano frágil não seria capaz de protege-la se algo desse errado. Alguém precisava acompanha-la, talvez... Ártemis?
— Eu não posso deixar você ir sozinha, é arriscado. Se te pegarem, nós não vamos conseguir te ajudar de tão longe. Ártemis é a melhor opção.
— Ela vai me matar antes mesmo de chegarmos em Paris.— disse séria.— Se quer me matar faça isso você mesmo, eu não vou dar esse gostinho a ela.— resmungou.
— Eu só achei que ela seria a mais competente para fazer isso.— disse cabisbaixo.
— Se é mesmo pra alguém ir, que seja Lorenzo. Eu ainda quero descobrir mais sobre as visões e ele pode ser útil, creio eu.— Se levantou, esperando a resposta do ruivo.
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Não Olhe Em Seus Olhos
Science FictionSeis crianças que vivem como cobaias por causa de suas capacidades sobre humanas, vêem suas perspectivas mudarem absurdamente quando uma delas é induzida a se rebelar. Dez anos se passam após as crianças serem separadas. Suas vidas tomam rumos compl...