Capítulo 8 - Matt e Seus Métodos

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Sair do castelo durante a noite em que todos dormiam seria muito suspeito e poderia me custar uma noite inteira na prisão, achei melhor esperar até o amanhecer e quando este chegou, não hesitei em dizer adeus ao lorde. Ele mandou guardas me conduzirem, depois de me perguntar se eu gostaria de ficar para o almoço, eu recusei, não entendia o que ele ganhava me mantendo ali.

Chegar atrasado na escola da aldeia não era algo comum pra mim. Melídia parecia cansada e Mike finalmente estava a seu lado, mas parecia apressado, como que já fosse embora logo e assim o fez quando sentei perto dela.

— Aconteceu algo?

— Ele não vai ao baile comigo – Suspirou em frustração, pensei um pouco sobre o que dizer e cheguei a uma conclusão.

— Por que não vamos juntos? Tenho certeza que ele não iria se importar.

— É, eu acho que não vai ter nenhum problema... Mas e o Alec? – Perguntou como se fôssemos as pessoas mais próximas da aldeia.

— Sem chances, ele mal sabe que eu existo – Um pouco injusto, visto que sempre recebia seus cumprimentos, mas eu tinha uma certa pretensão ao drama.

— Eu não diria isso – Disse com ar de mistério.

— E o que você diria então? – Fiquei curioso, sabia que ela tinha novidades sobre.

— Bem, ele esteve procurando você essa manhã, parecia preocupado – Meu coração aqueceu em ouvir a frase completa, mas simplesmente não me vinha nenhum motivo que ocasionaria na sua busca por mim, e de qualquer forma isso não alterava meu pensamento.

— E tava me procurando pra que?

— Eu não sei... te convidar pro Baile talvez?

— Nunca – Sugeri risonho, mas com uma pontada de desapontamento. — Ah, não importa mais, agora eu vou com você – Completei.

— Não é porque eu não vou com o garoto que eu quero que você também não pode ir – Retrucou em advertência.

— Você é minha melhor amiga, eu sempre quero ir aos lugares com você.

— Que bom que disse isso... Eu fiquei sabendo que dormiu no castelo do lorde é verdade? – Como as notícias voavam, mas acho que o fato de ser levado as pressas, quase preso em uma carruagem ajudaram.

Sorri tocando em sua mão.

— E conheci o filho dele – Terminei sua afirmação.

— Sério? Meu Deus, isso não é proibido à reles mortais como nós? – Melídia achava que a nobreza era tratada como uma divindade, o que realmente era, por isso ela sempre zombavam quando podia.

— É sim, foi durante a noite, topei com ele em um dos corredores. Ele é bonito pelo menos, acho que a espera valeu a pena.

— Eu queria vê-lo também – Disse com uma falsa tristeza.

— Quem sabe ele não escolhe você no Baile de Neve?

— Para com isso, além do mais eu já tenho o Mike, isso se ele me tirar para dançar – Desacelerou suas palavras ao tocar no nome dele.

— O que tá acontecendo entre vocês?

— Sinceramente, eu não sei.

Depois da aula, eu estava receoso em voltar pelo caminho que fazia até minha casa, algo em mim tinha mudado depois que eu falara com aquele lobo. Estava tudo muito confuso. Então segundo o professor ele era minha alma gêmea? Isso só pode ser brincadeira, mas duvidar das coisas tinha me custado caro nas últimas semanas. Atravessei meu caminho olhando para os guardas sentinelas que eu esbarrava aqui ou ali.

— Graças a Deus, eu fiquei tão preocupada, aquele lorde acha que pode tirar meu filho de mim após um ataque desses?! – Minha mãe puxou minha cabeça pra baixo tecendo beijos da minha testa até meu rosto.

— Eu tô bem mãe.

— Por que não veio direto pra casa?! Esqueça a escola em ocasiões como essa, filho – Minha mãe continuava seu discurso de como fui irresponsável.

— E o papai?

— Seu pai está caçando, deve voltar amanhã a noite.

— Ele ainda não sabe?

— Eu acho que não, ele já não estava aqui ontem, quando você devia ter chegado.

Depois de muitas perguntas, finalmente ela me diz que tem novidades, comprou roupas para o famigerado Baile de Neve que estava prestes a acontecer. Eu não diria a ela que já conheci a maior novidade desta edição, seria informação demais pra ela e perguntas demais pra mim.

Eu olhei pela janela naquela noite, eu queria mesmo tê-lo visto mais uma vez. Encarei a neve que caía durante as noites e esperava vê-lo, abrindo seus olhos esverdeados para amarelos brilhantes pra mim e queria que falasse comigo mais uma vez, o que não aconteceu. Adormeci conformado.

Na escola, encontrei um Matt furioso esbarrando em mim pelos corredores, pensei que tudo tinha voltado ao normal com as implicâncias de sempre, mas ele só queria me adverter.

— Por que não foi treinar comigo ontem? Eu fiquei esperando – Esbravejou.

— Desculpa, eu esqueci totalmente – Só agora minha mente tinha me lembrado dos treinamentos que deveríamos ter tido, mas aconteceu tanta coisa no dia em questão que eu não tinha lembrado.

— Hoje, sem falta. E para de me fazer esperar!

— Tá, tudo bem – Ele nada mais disse, só apontou o dedo como uma ameaça, antes de sumir.

As aulas foram passando uma por uma e na aula de combate eu observava Matt duelar com os outros garotos, ele era muito rápido, muito forte, mas não conseguia vencer Alec e isso me deixava feliz de certa forma.

— Tá olhando o que? – Ele perguntou assim que se levantou do chão, depois que perdeu para Alec, este que piscou para mim passando por trás de Matt, tentando amenizar o humor amargo do amigo.

— Nada – Eu respondi sorridente. Fez cara feia e seguiu rumo ao próximo desafio. Não era muito do meu interesse observar garotos, mas algo chamou a minha atenção neste treino. Todos os que andavam com Alec e Matt eram tão bons lutadores quanto os próprios, e ninguém se aproximava deles se não fosse para admirá-los.

Depois da aula, eu vi Matt ficar parado enquanto todos saíam. O professor nos deu permissão para treinar, mas antes disse que deveríamos sair antes do sol se pôr por conta do perigo. De início eu achei que não seria tempo o suficiente, mas hoje mesmo decretaram que as aulas acabariam um dia antes para poupar os alunos de possíveis ataques.

E lá estava ele, segurando um bastão, o rodopiando e trocando de mão com uma flexibilidade incrível.

— Pensei que fôssemos treinar o combate corpo a corpo – Expressei minha dúvida. Ele rodou seu corpo movimentando o bastão e apontou na minha direção.

— Você vai, não eu – Não questionei, apenas franzi o cenho e esperei que ele me explicasse. Em um movimento rápido, o bastão acertou um de meus pés e eu já estava no chão reclamando da dor em minha cabeça com uma mão massageando o local.

— A aula de hoje é sobre velocidade – Tentei chutar sua perna como resposta para o tombo, mas fracassei e fechei a cara, ele por outro lado parecia se divertir com a minha desgraça.

— Ainda não, pequeno John – Estendeu a mão para mim. Hesitei um pouco, mas peguei no fim. Matt parecia ser um cara durão, talvez eu aprenda algo com ele.

Depois de me levantar, eu tentei prestar atenção melhor em seus passos, seus movimentos e foi impossível não reparar em seus braços, logo meu olhar percorria cada parte de seu corpo, se ele percebeu eu não sei, mas sei que ele gostou de me deixar sem graça, conheço cada um dos sorrisos dele e o que mais usa pra mim é o de se contentar por algo que me afeta.

Meus pensamentos pararam de súbito quando fui trazido para seu peito com força e agilidade. Minha respiração alta e o bastão na minha frente segurado por ambos nossos braços. Quase olhei pra trás, mas algo em mim não me permitiu. Passei muito tempo sentindo sua respiração em mim até criar forças para me livrar de seus braços. Puxei um longo sopro de ar e voltei a posição inicial, seria um longo fim de tarde.

Lobo MauOnde histórias criam vida. Descubra agora