Capítulo 14 - A Chegada

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Senti braços acolhedores passando pelas minhas pernas e costa, envolvendo meu corpo no que parecia um abraço de consolo. Logo fui erguido para mais perto do corpo que me segurava e senti-o quando me tirou do chão. Me recusei a olhar seu rosto, eu ardia em vergonha e ainda sentia medo pela situação que me cercava. Pra mim, era tudo demais. Não o suficiente pra me fazer explodir com todos como Matt e sua paciência miserável, mas o bastante para me manter irritado o tempo inteiro, sem direção, desorientado.

Eu podia sentir ondas enormes de energia percorrerem meu corpo quando estávamos nos tocando, sempre, mesmo quando haviam centímetros para que nossos corpos se chocassem. Eu ainda tinha meu rosto afundado em seu peito e me recusava a olhar pra qualquer um, mesmo sabendo que detinha os olhares todos sobre mim e ele.

— Você está bem, Grimm? – A voz me pegou de surpresa, um grande impacto me atingiu certeiro e dessa vez eu o olhei completamente antônito.

— A-Alec? – Movimentei a cabeça em busca de um furioso Matt, mas tudo que encontrei foram as paredes internas do fundo da caverna que já se tornara algo comum pra mim.

— Descanse – Me colocou cuidadosamente no chão coberto por tecidos não tão brancos como eram antes, e deixou um casto beijo na minha testa. Acompanhei-o até que sumisse completamente do meu campo de vista. Eu estava quase desabando em meio a tudo aquilo que se apoiava em mim. O pior é que nem sabia se podia contar com a pessoa a quem eu estava ligado.

Fechei meus olhos, pus a mão no peito e suspirei adormecendo.

No dia seguinte, Irena fora a primeira a me parabenizar por algo que eu não entendia. Segundo ela, o ciclo da lua começou em mim. Denotando confusão, Irena tratou de explicar detalhadamente o que o ciclo da lua faria a mim e que seria benéfico até certo ponto e que talvez me deixasse irritado por outro.

— Meus cabelos vão cair?! – Perguntei assustado.

— Não... Bem, não do jeito que imagina, somente mudarão de cor como se troca de pele – Procurou o melhor modo de me explicar como se fosse natural acontecer em meio a eles.

— Merda – Bufei olhando pros meus sapatos pra em seguida levantar a cabeça até o alto em frustração.

— Vai ficar lindo de cabelos brancos.

— Vou parecer um velho – Ela riu.

— Eu não diria "velho" – Enquanto Irena falava empolgada pela coloração que eu receberia até o fim do ciclo da lua, meus olhos correram o acampamento da matilha procurando por Alec, este que não tinha dado às caras desde ontem quando me deixou na caverna... Isto é, se realmente havia sido ele ou algum tipo de delírio.

— Logo você se acostuma com os fios pratas – Finalizava sua conclusão sobre minhas novas madeixas, olhei agradecido pelos elogios e incentivos. Nisso, não pude evitar olhar para onde Matt estava agora. Um pouco depois da caverna havia um pequeno riacho que cortava um lado da selva do outro.

Na companhia de outras duas garotas muito bonitas, esbanjando um sorriso conquistador e com seus trejeitos típicos de quando estava a fim de se aproximar de alguém. Sim, eu convivo com ele há muitos anos para saber exatamente o que ele queria com gestos. Não pude evitar a frustração mais uma vez, que parecia ser a única coisa que eu sabia demonstrar nos últimos dias. Também vergonha, ele estava interligado a mim, não à essas garotas! Mesmo que nenhuma delas demonstre o mesmo interesse por ele. Implorei mentalmente que ele olhasse pra mim e em um giro rápido, seu olhar gélido caiu sobre mim. Não tinha certeza se fora a conexão ou puro instinto.

Quebrei o contato olhando para Irena, que observava o que fazíamos sem muito se importar.

— John? – Alguém perguntou aproximando-se por minhas costas. Quando me virei para atender, uma surpresa. David estava bem ali.

Lobo MauOnde histórias criam vida. Descubra agora