Kim Taehyung perdeu sua mãe quando tinha apenas 12 anos. Era um dia ensolarado de primavera, quando seu pai, Dong-Yul, chegou em casa com uma expressão abatida, os olhos vermelhos e a voz fraca. Sentou ao lado do filho na pequena escada do jardim florido e tentou lhe contar o que havia acontecido. Desde então, Taehyung passou a odiar a primavera.
Chorou à noite inteira, chamava pela mãe quando estava em seu quarto trancado, e piorava ao ouvir os murmúrios de seu pai pelos cantos dos cômodos, alegando que ela não merecia isso, que ele deveria estar no lugar de sua amada.
Os dias começaram a amanhecer sempre tristes, e por mais que não entendesse muito de sentimentos, sabia que Dong-Yul não estava bem. Ele não acordava para trabalhar, vivia cansado e estressado mesmo que passasse o dia sentado, e acabava descontando toda sua frustração na bebida.
Taehyung não conseguia entender o que estava acontecendo com seu pai, e tinha em sua cabeça que quando não entendia alguém, acabava machucando essa mesma pessoa, e ele não queria machucar ninguém. Não queria deixar ninguém triste. Por esse motivo, não conseguia dormir a noite, ficava pensando e pensando... mas nada se encaixava em sua cabeça.
Como ele poderia ajudar seu pai? Por que ele tinha que ser e falar coisas tão maldosas para Taehyung, se ele queria apenas ajudar?!
O cansaço foi se acumulando no corpo do jovem, fazendo com que se estressasse facilmente, isso acarretava muitas crises escandalosas várias vezes na semana, e Dong-Yul se viu ainda mais perdido por não conseguir ajudar o próprio filho, e confundir ainda mais sua cabeça.
Mesmo tendo um diagnóstico cedo, Dong-Yul ainda sentia que não sabia nada sobre o autismo de Taehyung, não sabia como o rapaz via o mundo e não entendia suas atitudes, Hyung-Ae era quem sabia lidar com isso. Ela tinha a sabedoria que lhe faltava. No final das contas, ele não era nada sem ela, não merecia nada daquilo, estava apenas piorando a situação de seu filho.
Dois anos se seguiram dessa forma, Taehyung estava tomando remédios controlados, para ajudar nas crises. Passou a ter mais impulso e voz nas situações simples do dia a dia, o que seria algo ótimo se fosse desenvolvida da forma correta, se seu pai estivesse psicologicamente bem para lidar com isso.
Porém, como esse não era o caso de Taehyung, o garoto foi intensamente limitado e controlado por seu pai, mesmo sendo um adolescente de 14 anos, era tratado como uma criança indefesa. Suas aulas eram onlines e particulares, assim como todos os cursos que desejava fazer. Era péssimo, isso gerava muitas brigas logo pela manhã, as quais acabavam com um Taehyung furioso e um Dong-Yul lhe falando besteiras ofensivas.
— Tae, eu só quero ajudar! Você não vai saber...
— Eu não preciso da sua ajuda! Eu não sou burro, saia daqui! — Respondeu já alterado, ele queria apenas fazer seu próprio lanche.
— Eu não disse isso! — Retrucou, com o tom de voz mais firme.
— Mas você pensa! Você me acha burro, acha, você acha!
— Você pode acabar se cortando! — Apontou para a faca nas mãos do mais novo, e após perceber o olhar irritado do garoto, suspirou pesadamente — Taehyung... eu não duvido da sua capacidade, apenas...
— Não quero ouvir, não quero ouvir. Você estava gritando!
Dong-Yul se calou e olhou para o filho, aproximou-se vagarosamente e fez com que se afastasse da cozinha. Lágrimas rolavam pelo rosto de Taehyung, e ele empurrou seu pai com força, subindo as escadas em direção ao seu quarto.
— Quero ir embora daqui! Quero ficar longe de você!
— Tae...
— Cala a boca!
O Kim mais velho se jogou no sofá e sentiu raiva de si mesmo. Não culpava Taehyung, era o que ele estava sentindo, Dong-Yul era uma pessoa ruim, seu filho não era obrigado a crescer dessa forma desgastante.
E foi por isso que no dia seguinte, o adolescente acordou com um carinho no rosto. E com a carícia leve e aconchegante, viu sua tia, Kim Nam-Kyu, que tinha um sorriso quadrado nos lábios.
— Bom dia! — Falou baixinho, demonstrando muita alegria.
— Nam-Kyu-ssi! — Despertou rapidamente, animado com a visita repentina.
— Tae, eu conversei com seu pai ontem — Começou, enquanto ajeitava os fios de cabelo despenteados que caiam sobre os olhos do mais novo — Ele me contou da briga que vocês tiveram, e do que falou...
— Appa é chato. — Fez uma expressão emburrada.
— Oh, querido... não vou dizer nada sobre isso. — A mulher riu de forma nasalada. — Mas, o que acha de ficar em minha casa por um tempo, hm? Não acha que vai ser legal?
Taehyung a olhou apreensivo, ele não gostava de mudanças, mesmo que por pouco tempo, não era legal. Mas ele conhecia a casa de sua tia, sabia como era os cômodos, sabia que era ventilado e que costumava fazer frio.
— Escute, eu sei que você não gosta de mudanças, mas também prometo que vamos fazer o possível para que se sinta confortável, o que me diz? Pode voltar a frequentar a escola se quiser, ou cozinhar comigo, ou... enfim, o que você se sentir à vontade para fazer.
— Acho que tudo bem, Nam-Kyu-ssi. — Disse não encarando os olhos da mais velha.
— Ótimo, meu pequeno! Vou lhe ajudar a arrumar suas coisas.
Taehyung assentiu, e após concluir sua rotina matinal e tomar um gostoso café da manhã, Nam-Kyu ficou surpresa com a organização do rapaz.
Em sua mala, as blusas estavam organizadas por cores, juntamente com as calças igualmente largas, e algumas bermudas. Sem falar nos outros objetos, que Taehyung fez questão de guardar do jeito que achava melhor.
Porém, antes que saíssem de sua casa, Tae parou abruptamente.
— Onde está o appa? Ele não quer falar... — Parou para pensar um pouco. — Comigo?
— Ele... foi atrás de melhorar a própria vida, Tae.
A resposta certamente não havia ajudado em nada, mas ele não insistiu, apenas seguiu sua tia até o carro cinza.
Mesmo tendo brigado com seu pai no dia anterior, esperava ver ele hoje, e especialmente no dia seguinte, já que seria seu aniversário de 15 anos. E Dong-Yul prometera que sempre iria comemorar essa data ao lado do filho, iriam comer bolo de morango e tomar muitos milkshakes! Taehyung estava animado para isso.
E quando o dia festivo chegou, Dong-Yul não apareceu. Ganhou de sua tia uma caixa de livros que há muito tempo pedia, mas aquilo não era o suficiente, Taehyung queria seu pai, mas ele realmente não quis nem ao menos fazer uma ligação, ou dar uma explicação.
Kim chorou muito durante a noite, o que havia feito para ser largado assim? Não conseguia entender, e mais uma vez isso voltava a lhe irritar.
E sem perder as esperanças, esperou por mais um ano. Quando o calendário marcou dia 30 de dezembro, Dong-Yul também não apareceu.
Isso se seguiu por mais 3 anos. Nam-Kyu dizia que era por conta do trabalho, ou da correria que era a vida de um adulto, mas mesmo assim... era seu aniversário, e ele havia prometido...
Promessas eram feitas para serem compridas, e não para serem quebradas. Taehyung nunca iria perdoá-lo, aquilo doía muito... muito mais do que um machucado em sua pele, doía por dentro.
E nos livros que gostava de ler, sempre mostrava complicações em relação aos sentimentos, talvez por isso era tão difícil entendê-los, talvez por isso o cansasse tanto.
Era complicado, mas ele ainda queria entender alguma pessoa, queria sentir coisas boas ao ponto de não conseguir explicá-las, era assim nos livros e filmes.
Não pensava em nada metaforicamente bonito. Na verdade, Taehyung detestava metáforas, eram todas sem sentido, mas queria poder entender o mundo, assim como aprendeu a compreender os livros, ele poderia ser capaz, não poderia?
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Your Eyes Tell • kth + jjk
FanfictionJeon Jeongguk foi diagnosticado com Transtorno Afetivo Bipolar. Enfrentando os altos e baixos da doença, acaba conhecendo Kim Taehyung, um jovem de jeito estranho, que parecia estar vendo o mundo pela primeira vez. Taehyung queria entender cada par...