Capítulo 4

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"I can see the end as it begins. My one condition is...
Say you'll remember me standing in a nice dress
Staring at the sunset, babe, red lips and rosy cheeks
Say you'll see me again, even if it's just in your wildest dreams"
(Wildest Dreams - Taylor Swift )

Aceito o convite de Izzy, e marco um encontro, na mesma tarde, em um parque que fica no meio do caminho entre nossas casas. Não faço ideia de como me arrumar para esse tipo de ocasião, então como sempre faço, escolho a primeira camisa que acho, e coloco uma calça jeans qualquer.

No caminho até lá, penso e repenso, tudo o que preciso falar a ela. Mas não há nada que faça sentido o suficiente para ser colocado em voz alta.

Ao encontrá-la me sinto tonto. Sua beleza era ainda maior do que eu lembrava. Seus cabelos e olhos negros assumiam uma cor diferente e única no sol.

Não sei como reagir. Não sei se a abraço ou só a cumprimento dando a mão. Confusão. Com certeza é o sentimento que ambos sentimos. Ela me abraça com toda sua força e eu me assusto, não é bem o que eu esperava, mas é o que preciso. Retribuo o abraço desejando que ele dure para sempre.

"O-oi...", gaguejo tímido enquanto ainda estamos abraçados.

"Simon...", ela sussurra meu nome de uma forma que eu nunca ouvi antes, e sinto a mesma, infelizmente, se afastar dos meus braços. "Eu devia ter te contado... Mas é uma história bem mais complicada do que parece...", é possível sentir a decepção em sua voz.

"Como assim?", pergunto confuso, tombando a cabeça para o lado esperando que ela continue a história.

"Ah...", ela suspira como se estivesse se preparando para contar toda a história de um livro de mil páginas. "Na verdade, eu só não tenho alguém, como também estou noiva", ela diz ao levantar a mão para mostrar seu anel, franzo o cenho na mesma hora, o brilho do diamante foi atingido diretamente pela luz do sol, o deixando ainda mais chamativo.

Pergunto-me como não havia percebido naquele dia. É lindo e provavelmente muito caro. Idiota. Eu sou um idiota."Já passou da hora de me consultar com um oftalmologista novamente", penso comigo mesmo.

"M-..., é..., eu.... O que??", tento falar algo em voz alto, mas tudo que saem são palavras incompletas .

"Não é bem assim", ela diz enquanto me ajuda a sentar no banco perto de onde estávamos, me puxando pela mão, eu tiro minha mão bruscamente do contato com a sua, e ela provavelmente percebeu, mas apenas se sentou no pequeno banco disponível. "Eu não o amo".

Não sei o que sinto quando ela solta aquelas palavras. Além de confuso, me sinto aliviado, mas ainda culpado, me sento ao seu lado fundo, respirando fundo e torcendo para que minha voz não falhe. "N-não o ama?", gaguejo novamente.

"Não, Simon... Os meus pais são muito ricos e influentes aqui em Nova Iorque, como eu te disse naquela noite. Eles praticamente me prometeram ao meu noivo quando eu nasci... Sei que estamos no Século XXI, mas por incrível que pareça, ainda existe isso", ela diz rápido, quase sem parar pra respirar, me assusto um pouco com a resposta, eu nunca iria imaginar que ela passava por esse tipo de situação.

Eu fico mudo. Minha cabeça está doendo mais do que nunca, e meu estômago, assim como eu, está confuso. É muita informação para digerir.

"Pelo santo anjo, Simon... Você não sabe como a minha vida é difícil, eu já tentei me livrar disso tantas vezes... Mas praticamente, se eu nao aceitar isso, meus pais podem perder grandes contratos e acabar amizades de décadas. Eu amo eles, nao conseguiria viver vendo eles infelizes.", ela continua, sinto uma pontada no coração, ela iria fazer aquilo por amor a família, é um gesto bonito, mas muito doloroso emocionalmente para ela.

"Mas, você vai sacrificar o resto de sua vida, passando ela com um homem que não ama, só para não degradar seus pais?", pergunto, mesmo tentando entender seu lado, aquilo era demais para mim.

"É mais complicado que isso...", ela responde, quase chorando. "Você não conseguiria entender o quanto isso é importante, Simon. Às vezes até eu não entendo como a minha vida funciona. Me sinto como se eu fosse uma marionete em um show que sou a personagem secundária mal desenvolvida, que só aparece quando convém aos outros..." Ela desabafa, e então, começa a chorar compulsivamente, suspiro baixinho e me aproximo dela.

"Ei...", a abraço, envolvendo meus braços ao redor do seu corpo frágil, tentando acalmá-la. "Com certeza, eu nunca entenderia como é a sua vida. Mas as vezes eu também me sinto assim... A personagem secundária mal desenvolvida... Desde minha infância foi assim", digo enquanto percebo que, mesmo de formas diferentes, temos bem mais em comum, do que poderia imaginar.

Ela me abraça mais forte, e me sinto como um urso de pelúcia. Sem perceber, começo também a chorar, lembrando de tudo o que já passei, mas tento não fazer barulho, para que ela não perceba. Pode até ser o clichê do menino "nerd" que era excluído, mas todos que já se sentiram não pertencentes a lugar algum, sabem como dói. Acho que Isabelle também se sente assim. Toda sua vida foi manipulada e mesmo pertencendo a mais alta sociedade, no final se sentia sozinha.

Quando ela percebe que também estou chorando ela se levanta e não diz nada. Só me encara. Nossos olhos presos um ao outro, não se movem. Nesse momento, percebemos que nossa conexão foi estabelecida e será difícil de rompê-la.

"Sei que não vamos conseguir ficar juntos", eu digo após um longo suspiro. "Mas por favor, lembre-se de mim, mesmo que seja em seus sonhos mais obscuros".

"Simon, eu não quero que seja assim", ela responde. "Não podemos deixar isso passar e acabar assim... Eu quero me lembrar muito de você, mas não assim. Eu quero escrever uma história, mesmo que seja boba."

"Mas não podemos ficar juntos, Isabelle.", respondo pessimista.

"Simon, você não entendeu. Eu quero seguir com este relacionamento de qualquer maneira, mesmo que ela seja ilícita. Mesmo que seja com a luzes apagadas escondido de todo mundo", diz Izzy insistente, fecho os olhos com força e balanço a cabeça, meu lado impulsivo pedia para aceitar a proposta na hora e sentir seu gosto novamente, mas meu lado racional dizia que eu deveria encerrar por ali, porque eu poderia sair mais machucado do que sairia agora.

Eu não sei se consigo fazer isso. A minha cabeça que já estava cheia, transbordar de pensamento e eu fico paralisado. Izzy não parece entender o que está acontecendo, mas estou tentando analisar toda a situação.

Eu quero muito tê-la comigo. Mas não consigo me imaginar num relacionamento com alguém que tenha outra pessoa a esperando em casa. Mas em um impulso repentino tomo uma decisão.

"Eu quero tentar", digo em voz alta. "Mesmo que as chances de alguém se machucar sejam grandes, eu quero correr esse risco com. você", digo enquanto a abraço novamente, meu cérebro dizia para eu pensar melhor, mas eu não queria pensar, eu queria ela, apenas ela, apenas Izzy.

Illicit Affairs - SizzyOnde histórias criam vida. Descubra agora