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Pobre é o amor que pode ser contado.
— Antônio e Cleópatra

— Você está demitida.

Não era a primeira vez que Uraraka Ochako ouvia essas palavras. Não era nem a sexta, mas foi a única dita dentro do ridículo Cleopatra's Cat Café, o novo estabelecimento de alta gastronomia para amantes de felinos em Londres.

Ochako pensou que seria uma ideia maluca combinar chá da tarde com gatos peludos que pareciam ter prazer em espalhar seus pelos por toda a comida e bebida. No entanto, desde que ela começara a trabalhar ali, duas semanas antes, o lugar estava com todas as reservas preenchidas e cheio de turistas barulhentos que adoravam o jeito como os gatos se aconchegavam a eles enquanto tomavam chá de lapsang em xícaras de porcelana fina, agarrados a seus paus de selfie.

As pessoas, não os gatos. Os gatinhos preferiam lamber leite nos pires pintados à mão.

— O quê? — Não fosse pelo fato de precisar desse trabalho, ou, pelo menos, de ele pagar o aluguel, ela estaria rindo na cara da dona agora. Não se podia mesmo descrevê-lo como o emprego dos sonhos, carregar bandejas de sanduíches enquanto tentava não tropeçar nos gatos, pois eles pareciam saltar deliberadamente na sua frente. Mais de uma vez eles a tinham feito perder o equilíbrio, derrubando pratos cheios de bolo em cima de clientes desavisados.

— É óbvio que você não está preparada para trabalhar aqui — Tsuyu, a proprietária, falou. — No seu currículo, você dizia que era apaixonada por gatos, mas não faz nada além de gritar com Tootsie, Simba e os outros. E o que você acabou de dizer ao sr. Tibbles foi imperdoável.

— Ele acabou de fazer xixi em cima de uma bandeja de chá da tarde — Ochako protestou.

— Se você tivesse pegado a bandeja assim que eu fiz o pedido, isso não teria acontecido. Esses gatos estão muito tensos. Eles precisam marcar território. É nosso dever impor limites a eles. Você me disse que tinha experiência com raças raras como a do sr. Tibbles.

Pelo canto do olho, Ochako o viu vagando em direção a elas. O sr. Tibbles era um gato sphynx, uma raça sem pelos que fazia parecer que ele havia tirado toda a roupa para ficar saltitando pelo café, todo pomposo.

— Tenho um pouco de experiência. Havia muitos gatos onde eu morava quando era mais nova... — Ochako se interrompeu, sabendo que havia mentido para conseguir a vaga. Não que o emprego fosse grande coisa, mas, quando ela viu o anúncio na vitrine, estava desesperada. O suficiente para trabalhar cercada de gatinhos que ronronavam sem parar e pareciam não querer fazer nada além infernizar sua vida.

— Bem, não está dando certo. Os clientes reclamaram da forma como você vem tratando os animais. Você não pode simplesmente enxotá-los sempre que se comportam mal.

— Eu não enxotei, só tirei da mesa. E foi no meu primeiro dia. Não sabia que os clientes iam gostar de dividir a comida.

— Esse é o ponto. — Tsuyu suspirou. — Uma verdadeira amante dos gatos não pensaria duas vezes. Está claro que você é uma impostora. — Ela baixou a voz, afastando o cabelo do rosto suado. — Você ao menos gosta de gatos?

Dividida entre o desejo natural de ser sincera e a necessidade de manter o emprego, Ochako hesitou. Como se pudesse sentir o drama, o sr. Tibbles perambulou, passando entre as pernas dela. Encarando-a com seus olhos azuis, ele os estreitou como se fosse um desafio.

— Eu... Hum... Não muito. Mas precisava do trabalho e nunca tive problemas com animais. Costumava passar os fins de semana brincando com o cachorro do nosso vizinho.

Tsuyu estremeceu.

— Amantes de cachorros não são bem-vindos aqui — sibilou, soando quase como uma gata. — Pegue suas coisas e vá embora antes que você irrite o sr. Tibbles com essas palavras desagradáveis.

Um Verão na Itália Onde histórias criam vida. Descubra agora