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O amor é como uma criança
que anseia por tudo aquilo que vê.
— Os dois cavalheiros de Verona.

— Bem, não posso dizer que estou surpreso. — All entrou na sala de estar, equilibrando uma bandeja com xícaras, pires e bolos. — É difícil imaginar você gostando de um trabalho onde ficava cercada de gatos. Você nunca foi ligada em animais. Lembro que uma vez levei você e a Jirou ao zoológico e, sempre que nos aproximávamos das jaulas, vocês gritavam.

— Isso não é verdade — Uraraka protestou. — A Jirou tem medo de tudo, concordo. Mas eu adorei o zoológico. Tenho muitas lembranças boas de quando você me levou lá. — Ela sorriu com a menção da irmã mais nova. — Ela mandou um oi, por sinal.

— Ah, você falou com ela?

— Nós ainda conversamos por Skype toda semana. Ordens da Hagakure. — Uraraka revirou os olhos.

— A boa e velha Hagakure controla tudo. É para isso que servem as irmãs mais velhas, né? — Ele sorriu de forma gentil.

— É tipo uma operação militar — ela concordou. — Com a Jirou em Los Angeles e a Hatsume em Maryland, a Hagakure e eu somos as únicas no mesmo tudo horário. Tentar ligar para todas ao mesmo tempo é como juntar gatos. — Mesmo assim, Tooru estava a mais de quinhentos quilômetros de distância, em Edimburgo. As irmãs Kim eram como flores espalhadas pelo vento.

All colocou a bandeja na mesa de café polida, se inclinando para servir earl grey do bule chinês ornamentado nas xícaras. Entregou uma para Uraraka pegou a outra e a levou com ele até a cadeira de balanço junto à lareira. Fechando os olhos, inalou o aroma antes de tomar um pequeno gole.

— Ah, felicidade.

Uraraka tomou um gole de chá, apreciando o suave aroma floral. Como muitas outra coisas, fora All quem a apresentara às complexidades do chá, forçando-a a aprender as muitas variações de folhas em um momento em que seus amigos tomavam Coca-Cola. A partir dessas primeiras degustações, ela passou a gostar da bebida quente, apreciando o luxo de uma folha bem preparada, sendo capaz de diferenciar um lapsang souchong de um hong pao de olhos fechados. Para All, o chá era um ritual, algo a ser saboreado. Ele estremecia toda vez que via alguém simplesmente balançando um saquinho em uma caneca cheia de lente e água quente.

Baixando a xícara, Uraraka se sentou no sofá e curvou os pés debaixo de si.

— Já que eu adoro chá, imaginei que trabalhar em um café seria simples.

— São duas coisas completamente diferentes, minha querida — All disse. — É como saborear um bom bife e depois compará-lo ao trabalho em um matadouro.

— Esse pode ser meu próximo emprego — Uraraka falou, de forma sombria. — Se bem que eles provavelmente nem me dariam uma chance. Não com o meu histórico.

Ela se recostou e olhou ao redor do charmoso apartamento de All. O prédio de tijolos vermelhos em Mayfair não poderia estar mais longe do edifício triste onde Uraraka morava, embora apenas alguns quilômetros o separassem. No entanto, no quesito estilo de vida, oceanos os separavam. All era um herdeiro de dinheiro antigo, e sua falecida mãe havia lhe deixado o apartamento quando ele tinha vinte anos. Os móveis eram relíquias de família. As cadeiras variavam da época da Regência ao período vitoriano, e, apesar da idade, todas as mesas pareciam quase novas, com a madeira polida e brilhante. Até as paredes mantinham evidências de sua linhagem, com o bisavô, morto havia muitos anos, olhando para eles de uma pintura acima da lareira.

— Isso tem que parar. Você sabe, né?

Ela virou a cabeça para olhar All.

— O que você quer dizer?

Um Verão na Itália Onde histórias criam vida. Descubra agora