Família em primeiro lugar

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- Talvez devêssemos ir para o hospital – Sarada sugeriu, tentando disfarçar o tremor em suas mãos. Ela estava mais nervosa que a mãe.

- Está nevando e as contrações já estão muito próximas – expliquei. – Não dá tempo.

Empurrei a mesa de centro da sala, abrindo espaço no tapete felpudo. Sakura escorregou do sofá para o chão, ficando mais confortável. Ela segurava sua barriga e gemia, ofegando.

- Não acredito que você vai fazer isso de novo – ela brincou, entre uma contração e outra.

- Assim ninguém fica com ciúmes – respondi, ajudando-a a despir as roupas de baixo.

A cabeça do bebê já estava começando a aparecer. Eu já podia me inscrever para uma vaga no hospital, como parteiro. Estava ficando craque nisso.

- Sarada, pegue uma manta para enrolar o bebê – pedi, colocando-me em posição.

Ela assentiu e correu para o segundo andar. Eu podia ouvi-la perambulando pelo quarto do bebê, procurando.

- No armário branco, com o patinho na porta – gritei, orientando-a.

Seus passos desceram a escada e ela surgiu com uma manta, uma roupinha de recém nascido e uma fralda limpa. Eu tinha de admitir que ela era uma boa assistente.

Sakura gemeu, fazendo força. A pior parte tinha passado: os ombros. Então tronco, pernas, pés.

- Nasceu – anunciou Sarada, animada e incrédula.

Segurei o bebê com delicadeza e o envolvi na manta limpa que minha filha trouxera.

- É um menino – falei, ouvindo o choro forte de meu filho preenchendo a casa.

Sakura sorriu, lágrimas escorrendo pelo seu rosto. Eu podia ouvir os cliques da câmera de Sarada, registrando o nascimento do irmão mais novo.

Entreguei nosso filho à Sakura, que chorou ainda mais ao ver seu rosto. Ele tinha cabelos pretos, pele branca e olhos verdes e brilhantes, como os dela.

- Ele é a sua cara – admiti.

O bebê encontrou o seio da mãe, fazendo sua primeira refeição. Sarada ficou admirada, olhando o pequenino que acabara de chegar ao clã. Ela se abaixou ao meu lado, observando Sakura amamentando. Envolvi-a em meus braços.

- Mais um Uchiha – ela disse, secando as lágrimas.

- Coitado do treinador – brinquei, fazendo-a rir.

***

- Você conseguiu, Sasuke – disse Naruto, segurando meu filho no colo. – Fez uma criança igual à mãe.

- Ei, eu pareço com a mamãe – defendeu-se Sarada.

Parada ao meu lado, ela me encarou. Naruto, Hinata, Kakashi e Sakura fizeram o mesmo, variando o olhar de Sarada para mim. Todos riram, como se ela tivesse contado uma piada.

- Se cortarmos seu cabelo, todos achariam que Sasuke viajou no tempo e sequestrou a si mesmo – zombou Kakashi.

Sarada bufou, fazendo-me rir. Acariciei seu braço, acalentando-a.

- É tão ruim parecer com seu pai? – perguntei, em tom de brincadeira.

Ela fez um biquinho, mas depois riu e se conformou.

- Agora vocês têm um de cada – Hinata concluiu.

- Já decidiram o nome? – indagou Naruto.

Kakashi tentava pegar o menino do colo de Naruto, mas este andava pela sala, fugindo de ter que entregar o bebê. Meu filho tinha um dia de vida e já estava roubando corações.

- Shion – disse Sakura, esticando a mão na direção da minha. Nossos dedos se entrelaçaram, fazendo-a corar. – Shion Uchiha.

- Shion – repetiu Kakashi, sendo driblado por Naruto. – É perfeito.

Kakashi tentava pegar o bebê por cima de Naruto, que se abaixava. Pareciam duas crianças brigando por um doce. Shion pareceu gostar da disputa, porque riu, no colo do tio.

- Viu, ele prefere ficar comigo – Naruto provocou.

- Porque ele ainda não veio no colo do tio Kakashi – ele soltou, com uma voz infantil.

Ficamos observando a disputa, rindo e conversando sobre o parto e o futuro. Nossa família tinha mais um integrante, mas era maior do que eu pensava. Não éramos só Sakura, Sarada, Shion e eu... Éramos todos nós: Kakashi, Naruto, Hinata, Boruto, Himawari.

Não compartilhávamos o mesmo sobrenome, nem a mesma casa, mas éramos uma família unida. Faríamos qualquer coisa um pelo outro, arriscando nossas vidas para salvar a vila e nossas famílias.

Kakashi finalmente conseguiu enganar Naruto e pegou Shion no colo, sendo recebido com um golfo de leite em sua roupa. Naruto caiu na gargalhada.

- Bem feito – provocou.

Kakashi pareceu não se importar, observando os olhos verdes brilhantes do bebê.

- É bom ir se preparando para muitos golfos, fraldas, choros de madrugada – Hinata nos avisou, como se não soubéssemos. – Pelo menos Sarada é grandinha e irá te ajudar, Sakura.

Minha esposa fez que sim com a cabeça, concordando.

- Eu também irei estar aqui – avisei.

- Sim, mas quando você viajar, Sakura ficará sozinha com os dois – Hinata concluiu, apontando para nossos filhos.

- Na verdade... – Naruto interrompeu. – Sasuke vai estar aqui o tempo inteiro.

Todos na sala pararam de falar, andar, respirar e encararam Naruto.

- O que? – disseram em uníssono.

Observei Naruto, com seu sorriso de quem tinha conseguido algo. Ele não tinha me contado ainda, estava guardando para dizer a todos de uma vez.

- Sasuke apareceu lá em casa de madrugada uns meses atrás e me pediu dispensa das viagens – explicou Naruto, lembrando do dia em que eu o acordara às cinco da manhã. – Eu avisei que demoraria um tempo para encontrar alguém que pudesse substituí-lo, mas que tentaria... E eu consegui hoje.

- Sasuke-kun – Sakura sussurrou, apertando meus dedos com carinho.

- Quem vai substituir Sasuke? – perguntou Kakashi, recebendo outro golfo de leite de Shion. Mal tinha nascido e já estava dando trabalho aos senseis.

- Shikamaru – respondeu Naruto.

Todos assentimos, pois fazia sentido que Shikamaru assumisse minha função. Ele era de confiança, era um ótimo ninja e muito próximo de Naruto.

- E quem vai ficar no lugar de Shikamaru? – questionou Hinata.

- Yori – Naruto disse.

- Coitado, ele acabou de ficar noivo – Sakura disse, triste pelo rapaz, mas feliz por nossa família.

- Yori está noivo? – indagou Sarada. – De quem?

- Do médico ninja que Sakura treinou – revelou Hinata.

O queixo de Sarada caiu com tanta violência que eu pude ouvi-lo estalar.

- Aparentemente ele não estava roubando corações só das meninas da cidade – concluiu Kakashi.

- E pensar que papai estava morrendo de ciúmes dele – Sarada disse, caindo na gargalhada.

Todos na sala riram, fazendo-me encarar Sarada de forma ameaçadora. Não adiantou de nada, ela me deu a língua e seguiu rindo. Por um instante, quando ela fez isso, ficou idêntica ao meu irmão Itachi. Sorri, nostalgicamente, lembrando dele e de suas brincadeiras e manias.

Todos diziam que Sarada era idêntica a mim, mas era mentira. Ela era igual ao tio na aparência, e em algumas partes de sua personalidade também. Era bondosa, preocupada, dedicada e seria uma ótima ninja, exatamente como Itachi.

Minha família estava completa, mesmo que não de forma tradicional. Eu tinha dois filhos, uma esposa maravilhosa, amigos por quem eu daria minha vida. E, de alguma forma, em traços físicos, manias e hábitos, tinha meu irmão por perto.

Era tudo o que eu poderia pedir.

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