Longa Jornada

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NOTA DA AUTORA: Essa história é a continuação da minha fanfic "A Cura" (vocês podem encontrá-la no meu perfil). Dá para ler essa sem ler a anterior, mas algumas coisas podem ficar soltas, então recomendo que leiam a anterior.

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Uma nevasca ameaçava começar, nuvens pesadas escondiam as estrelas no céu. O vento frio era cortante, corando minha pele e ressecando meus lábios. A caminhada longa era cansativa, dificultada pela neve acumulada no chão, do dia anterior.

Havia sete meses que eu estava longe de casa, mas, apesar disso, voltar nem sempre era tão fácil. Eu me sentia um estranho dentro do meu próprio lar. Minha esposa entendia, mas eu conseguia sentir uma distância entre nós. Ela sempre ficava surpresa quando eu voltava, sem saber muito bem como agir ao meu redor. Como se eu fosse uma visita, quando eu era seu marido tinha mais de doze anos.

Abri a porta, surpreso de encontrar luzes acesas pela casa. Já passava das onze da noite, Sakura não costumava dormir tão tarde, muito menos Sarada.

Na sala, sentada no chão, rodeada por álbuns de fotos, cartas antigas, documentos de família, estava minha filha. Sarada observava a bagunça ao seu redor com tanta concentração que mal me percebeu chegando. Deixei minha capa no gancho ao lado da porta de entrada, tirei os sapatos e entrei, sentindo o tapete felpudo sob meus pés.

Eu sentia falta desse tapete quando estava longe. E do cheiro de flores frescas e biscoitos caseiros que minha casa tinha. Sentia falta de jantar com minha família, de ouvir sobre seus dias.

Sarada folheava um álbum de fotos, ajeitando a todo momento seus óculos. Ela estava alguns centímetros mais alta que quando eu viajara, seu rosto tinha mudado um pouco. Aos poucos, minha filha começava a perder sua expressão infantil e desenvolvia traços mais maduros.

Essa era a parte mais difícil de voltar para casa depois de tanto tempo fora: ver que o tempo me roubava momentos preciosos com Sarada. Minha única filha, a continuação do clã Uchiha, meu maior orgulho. A cada vez que eu voltava, ela estava diferente, com novas feições, novos hobbys, novos melhores amigos. E eu perdia tudo isso. Todas as histórias engraçadas, as reuniões na escola, as apresentações de qualquer instrumento que ela tocasse, ajuda-la em um treinamento.

Eu tentava não pensar sobre isso, porque só deixava mais difícil a hora de partir. Mas quando eu chegava, era sempre o que estava em minha mente, martelando constantemente.

- Ainda está de pé? – falei, baixo para não a assustar.

Sarada tremeu levemente, erguendo os olhos do álbum que segurava.

- Papai! – Sua voz soou animada, mas ela não levantou de onde estava para me cumprimentar.

Sentei em uma poltrona, a mesa de centro nos separando.

- Não está tarde para reminiscências? – falei, mas sorri para demonstrar que não a estava repreendendo. – Sua mãe já dormiu?

- Não, ela está no hospital – Sarada respondeu, fazendo um gesto em direção a onde ficava o local. – E eu não consegui dormir.

- Sakura ainda está no hospital? – perguntei, intrigado. – Ela não tinha deixado os plantões no ano passado?

Sarada assentiu.

- Mas um ninja médico novo chegou à cidade e pediram que mamãe o recebesse e orientasse. Ela tem trabalhado com ele tem uns dois dias, mal para em casa.

- Está meio tarde para treinamentos – soltei, estranhando.

- É o primeiro plantão dele, mamãe foi ajuda-lo, apesar de eu achar que nem precisava, com certeza todas as enfermeiras iriam fazer de tudo para ensinar qualquer coisa que ele precisasse saber – O tom dela era irônico.

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