Reencontro desagradável

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TREZE ANOS ANTES

Acordei sentindo uma chuva fina cair sobre mim. A carroça onde estávamos sacudia, passando sobre um chão arenoso e cheio de pedras. Meu estômago roncou alto, como se tentasse pedir socorro. Tinha dois dias que eu não comia nada além de beterrabas velhas e murchas. E agora estava chovendo. Ótimo!

Kakashi roncava mais alto que meu estômago, sem perceber a garoa que nos ensopava. O condutor da carroça conversava baixinho com seu cavalo. Que velho louco. Eu não via a hora de voltar para casa.

Estávamos em uma missão longa, chata, cansativa. Tínhamos que nos infiltrar em uma cidade distante, como camponeses, para tentar encontrar um esconderijo de Orochimaru. Informações tinham chegado à Konoha dizendo que ele estava reunindo ninjas talentosos, a maioria dotada de kekkei genkai, para atacar vilas, saqueá-las, alcançar poder militar. Aparentemente, ele tinha se escondido nesse fim de mundo, onde chovia todas as tardes e só as beterrabas sobreviviam ao clima.

- Vamos precisar refazer aquela cerca – o condutor disse, falando comigo dessa vez, não com o cavalo. Seu nome era Ye, ele era um homem simples, de meia idade, que morava sozinho e tinha uma plantação.

Meus dedos estavam esfolados de tanto cortar madeira e pregar cercas no lugar. Nem podia usar meu chacra ou outra habilidade, para não chamar atenção. Para todos os efeitos, Kakashi e eu éramos dois camponeses viajantes, em busca de um novo lugar para morar e plantar nossas batatas.

- Acho que essas batatas só saem no ano que vem, Kimichi – Ye ironizou com seu cavalo, referindo-se às sementes que tínhamos trazido e não tivéramos tempo de plantar.

Estávamos sempre arranjando desculpas para sair pelas fazendas vizinhas, buscando pelo esconderijo ou por algum sinal de Orochimaru. Se ele realmente estava por ali, estava fazendo um bom trabalho em se esconder. Não havia um fio de cabelo que fosse que nos indicasse sua posição. Eu ficava cada vez mais impaciente.

A carroça parou na frente da casa de Ye. Kakashi acordou, estalando a língua e coçando os olhos.

- O que eu perdi? – perguntou, no meio de um bocejo.

- Duas horas de terapia com Kimichi – sussurrei, ironizando a conversa que Ye tivera com seu cavalo.

Descemos da carroça, seguindo para o pequeno quarto, separado da casa, que fora designado a Kakashi e a mim. Eu estava cansado de carregar sacos de beterrabas e ouvir o assunto de um velho com seu cavalo, então mal podia esperar para deitar em minha cama. Mas aparentemente precisaria esperar. O telhado do quarto havia sido desgastado pela chuva constante e agora tudo estava encharcado do lado de dentro, goteiras molhando cada centímetro do cômodo.

Kakashi e eu nos entreolhamos, exaustos e sem humor para um conserto. Sem precisar dizer nada, decidimos que íamos dormir no celeiro e resolveríamos aquilo outra hora.

O celeiro tinha um pé direito enorme, dois cavalos (Kimichi e sua esposa, Kay, com quem Ye também conversava), uma galinha da minha idade e dois porcos tão magros que seria prejuízo mata-los para comer.

Deitamos no chão duro e frio, Kakashi com seu Icha-Icha em mãos. Ele evitava ler durante o dia, tanto pelo trabalho pesado que tínhamos que cumprir, quanto para evitar que alguém o reconhecesse. Esses livros eram uma de suas marcas registradas, afinal.

Pela porta do celeiro, eu via o céu nublado daquela noite chuvosa. Quanto mais era capaz de chover nessa terra? Eu não aguentava mais aquele tempo horrível. Sentia falta do calor da minha casa, do cheiro de biscoitos caseiros nos domingos de manhã. Sentia falta de Sakura e de sentir os chutes do nosso bebê antes de dormir.

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