capítulo 2

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Sejanus lembrava-se da primeira vez que o viu. Estava com uma roupa pequena demais para seu corpo esguio e desajeitado. O corpo em crescimento de uma criança de seis anos. Naquela época ele só pensava em brincar em meio a guerra, não que entendesse o que aquilo tudo significava. Sabia que seu pai trabalhava para um bem maior, e que sua mãe o encantava com histórias e melodias inventadas para esquecer o que acontecia a sua volta. Ela lhe deu uma infância tranquila em meio as adversidades da guerra e das percas irreparáveis.

Naquele dia, Marcus estava recebendo o sermão da professora, tinha brigado com um garoto no intervalo que havia tentado roubar seu sanduíche. A professora não parecia acreditar nele, já que o outro garoto era pequeno e magro.

Sejanus lembrava-se da primeira vez que ele havia o notado. Estava atrasado para a aula e com medo de um possível sermão ou castigo abriu correndo a porta da sala prendendo o dedo na dobradiça. Tentou disfarçar a dor lancinante que lhe atingiu. A professora o olhava brava e nada compreensiva. Sentou-se em sua carteira, tentou prestar atenção no que estava acontecendo e ignorar a dor. Mas seu dedo latejava e parecia inchar cada vez mais. Foi quando Marcus levantou-se da onde estava sentado, encaminhou-se até uma das janelas, levou a Sejanus um pouco de neve. Foi o suficiente para fazer a dor parar e o inchaço diminuir.

Sejanus encarou seus olhos duros e melancólicos e tentou imaginar o que se passava na cabeça desse colega estranho e mal visto por todos. Ele não era bruto, prestava atenção a sua volta, assim como ele. Era gentil e introspectivo. Ele jamais esqueceu esse gesto, fora a primeira vez que sentiu-se notado por outra pessoa sem ser sua mãe. Marcus era especial.

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