Capítulo 5

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Poderia ser ele. Seu nome lido em voz alta na colheita. Seus pulsos sendo algemados. Seu corpo recebendo socos sem motivo. Seus olhos se acostumando com a penumbra do trem. Seu estômago roncando de fome. Sua boca seca de sede. Seria ele exposto, com estranhos levando os filhos para assisti-lo dentro de uma gaiola. Tentou explicar isso a Coriolanus, emitiu alguns fatos, como Marcus não ser só um colega de classe, porém contou sobre o episódio do dedo. Por um momento quase trocou seu tributo poderoso com Lucy Gray. Mas seus problemas não seriam solucionados tão facilmente.

Quando chegou em casa o desprezo de seu pai o atingiu. Palavras como escória e vergonha foram as mais fáceis de serem engolidas. Ele vociferava o quanto era vergonhoso ter um filho como ele que se juntava e alimentava os animais na jaula.

― São crianças pai!

― São escória! Por isso os jogos são importantes! Precisamos lembrá-los que não são iguais a nós.

Ele chorou. Chorou porque nada daquilo era justo, chorou porque seu pai não entendia que mesmo com todo dinheiro do mundo não tiraria sua essência que estava intrincada em si. Era mais tributo que mentor.

― Mãezinha eles adoraram seu sanduíche.

A senhora Plinch sorriu enquanto acariciava os cabelos do filho, que chorava em seu colo.

― Como está Marcus? Aceitou suas desculpas?

― Ele me odeia.

Ela negou com a cabeça e tentou explicar ao filho que era impossível odiá-lo. Pediu para dar tempo ao tempo.

― Seu tempo está contado mãezinha, logo morrerá.

― As apostas estão altas nele.

― Se ao menos aceitasse minha ajuda.

Passou o resto da noite conversando com a mãe e imaginando um mundo em que a guerra tivesse sido esquecida e não lembrada ano após ano, com crianças destinadas a morte.

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