Capítulo IV

361 28 5
                                    

– Não, eu não vou fazer isso. – Ben abotoava o último botão de sua camisa enquanto conversava com aquilo que sua cabeça projetava para si.

Ah, Por favor! Vocês mal se conheceram e ela te chama para um jantar?

– Os amigos dela também vão, ok? – Na cama, Ben apanhou o cinto para colocá-lo. – Escuta, será que eu não posso curtir uma noite da minha vida em paz?! Eu não vou mais fazer os seus joguinhos.

Não tem ninguém com "joguinhos" aqui. – Ele a viu gesticular aspas no ar. – Elas não são boas para você, querido. Você precisa ficar comigo, eu cuidarei de você.

– Ficar com você? – Sorriu friamente. – Você morreu para mim! EU - MATEI - VOCÊ!!!

Sua voz firme naquele momento faria qualquer um estremecer, odiava ter que gritar, não era ele.

O silêncio ensurdecedor pairou sobre o quarto.

Bem...Eu estou viva. Você consegue me ver. Como me explica isso então?

– Grrr apenas saia da minha cabeça! – Seus dedos bagunçaram seus fios. – Eu vou àquele jantar e espero que não me siga! – Ele pegou suas chaves sobre a mesinha e saiu com o bater de porta logo atrás.

Em frente a porta de Ali ele tentava se acalmar. Organizou as mechas soltas no cabelo o máximo que pôde, bateu as mãos sobre a roupa e finalmente tocou a campainha.

Respira.

Sua mente agitada e inquieta o desconfortava. Logo a porta foi aberta e a visão arrebatadora da mulher surgiu diante de seus olhos. Até mesmo a confusão que lhe sondava parecia ter silenciado.

– Oi!! Que bom que você veio. – Um rápido contato de bochechas foi feito.

Assim que adentrou a porta o clima pesado que vinha sentindo antes pareceu converter-se em um eufônico. Sem enrolação a mulher lhe apresentou as pessoas em sua sala e lhe ofereceu uma pequena taça de vinho.

A noite estava agradável. Já haviam degustado o delicioso frango assado feito pela própria Alissa no jantar e agora Ben conversava com os homens na sala enquanto as mulheres estavam na cozinha.

A conversa deles era tão vazia, tudo girava em volta de futebol, bebidas e filmes. Ben detestava isso, era um homem culto. Preferia debates, livros, reflexões, coisas que expandisse sua mente e não que entupisse seu cérebro de batata.

Se perguntava porquê a mulher na sua cabeça também não o incentivava matar os homens. Nunca gostou deles mesmo, falta é que não sentiria.

Nojentos.

Ben decidiu se levantar e se oferecer para ajudar na cozinha. Assim que seu pé pisou no local o assunto se encerrou, a explicação era óbvia: o assunto havia chegado, ele também havia notado as bochechas coradas de Ali. – Bingo – Sorriu internamente.

– Podem continuar o assunto, eu não me importo. – Sorriu colocando sua mãos no bolso da calça.

As quatro mulheres se entreolharam e Ali sutilmente negou com a cabeça esperando o entendimento do sinal. Todas captaram e se silenciaram.

– Eu falo. – Menos uma. – Qual o problema, gente? – Elen sorriu.

Elen era a mais falante dentre as mulheres e a única solteira ali – a conhecida "vela" – sem papas na língua ela falava sobre absolutamente tudo, até mesmo quando deveria estar calada.

– Eu gostaria de saber o que rola entre vocês dois. – Seus dedos indicavam Ali e Ben. – Porque a minha amiga não quis me dizer. – Alissa estava chamuscando pelos olhos. Adorava sua amiga, mas às vezes era tão incoveniente.

– Alissa e eu somos apenas amigos. – Com seu jeito sereno Ben sorriu enquanto via Ali observá-lo, estava nítido o "obrigada" em seus olhos.

Mas é óbvio que Elen e as mulheres ali não engoliram muito bem, no entanto isso não lhe importava, havia falado a verdade mesmo no fundo querendo que não fosse.

De repente um assunto que ele esperava não ser discutido se iniciou na roda de conversa.

– Gente, vocês andam vendo as notícias? – A mulher mais velha, Emma, comentou. – O tal do cara que vem matando as mulheres, parece que a cada semana eles encontram uma nova jovem.

Todas se entreolharam preocupadas.

– Eu vi algumas coisas. – Elen acrescentou. – Parece que ele deixa a cena do crime impecável, sem sangue e esse tipo de coisa cruenta.

– Mesmo assim, não deixa de ser um desalmado. – Emma ditou com certeza. – Não concorda, Ali?

– Vocês sabem a minha forma de pensar. – Sem rodeios, Alissa preferiu não opinar.

– Claro. Ali fez uns anos de Psicologia e agora sente compaixão por todos, Ben. – Emma depositou um biquinho irônico nos lábios. – Ela acha que tudo nessa vida tem um por quê e sempre tenta enxergar o lado do próximo. – Riu. – Pra mim é pura besteira. As pessoas são ruins e às vezes não há um motivo para isso.

– Já chega, Emma. – Julie que até então permanecia quieta se pronunciou.

– Eu não vejo problema na forma de pensar da Ali. – Ben também teve seu lugar de fala. – Acho que as pessoas apontam o dedo para os outros porque é muito mais fácil do que apontar para si mesmo. – Os olhos de Emma cresceram surpresos. – O ser humano é individualista, eles julgam você, apedrejam você antes mesmo de saberem seu nome. É óbvio que algumas pessoas podem sim ser ruins porque querem, mas assim como a Ali eu acredito que tudo teve um ponto de partida.

Com a maior naturalidade, Ben encerrou sua fala educadamente e observou o brilho nos olhos de Ali sobre si. As demais mulheres, ressaltando Emma, se calaram.

Logo após o acontecido, eles voltaram para a sala e conversaram por mais alguns minutos até todos irem embora. Emma foi a única a despedir-se de forma ríspida de Ben, parece que alguém havia se doído.

Ao ficar a sós poucos minutos com Alissa, ele lhe agradeceu pela noite maravilhosa e aproveitou juntamente para lhe convidar para um sorvete na pequena sorveteria não tão longe dali e não demorou para receber o sim.

Aquela mulher o cativou de uma forma que não conseguia explicar, mas isso era o de menos. O que isso lhe proporcionava era muito bom, estava vivo de novo.

Arrumou as últimas coisas em sua casa para finalmente deitar. A noite havia sido suficiente, deixou um pequeno sorriso aparecer e fechou seus olhos.

Mas a figura que tanto lhe desconfortava se materializou ao seu lado na cama.

Boa noite, querido.

Ben não queria começar uma nova discussão, nada estragaria o que estava sentindo. Puxou de si a respiração mais pesada e soltou de forma leve.

– Boa noite, mãe.

A Próxima VítimaOnde histórias criam vida. Descubra agora