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— Está enfiada novamente nos livros, Lady Celeste? — O estalar da caneca invadindo meu espaço pessoal, logo tratou de acompanhar a voz imponente do indivíduo à minha frente, posteriormente, ao quebrar do transe em que estava, me estimulei a formar um sorriso para o emissor. — Estudando para alguma prova? — Ele arqueou a sobrancelha.

— Nada de provas, D! — Fechei o livro rapidamente em uma brisa de constrangimento. — Trata-se somente de... algumas frivolidades.

— Dentro dos meus conhecimentos, você é a única usuária do SPES capaz de estudar ao som ensurdecedor dessa taverna e diante da patuscada feita pelos visitantes!


Ele tinha razão.

Grande parte da minha habilidade era conseguir magicamente me isolar de qualquer ambiente e impedir os vestígios da socialização. Quando almejava a solitude, não havia um feixe de luz capaz de redirecionar minha atenção. Estava ali pelo mergulho musical que o cenário poderia proporcionar, satisfeita com a taverna.

— É um desafio devo admitir, porém você também tem que reconhecer a tranquilidade que esse lugar está hoje! — Explorei com os olhos a locação de maneira geral, analisei a freguesia e o comportamento do ambiente naquele exato momento, conduzindo o jovem ogro a acompanhar o meu inusitado passeio estático.

— Infelizmente percebi. — Proferiu com tom de frustração.

Eu o assisti contornar aquele fato transparecido em sua face, enquanto D ilustrava outra caneca com a flanela macia em suas grandes mãos esverdeadas, posto a familiar expressão séria de caninos para fora. Após um acanhado momento de gélidas e inaudíveis pronunciações, o corpulento quebrou o silêncio e decidiu expor o pensamento que trouxera em seu consciente.

— Você deve ter visto o novo negócio que abriram ao lado.

— Estão chamando as casas noturnas de negócios por aqui? — Indaguei injuriada, sob uma leve acidez incrédula.

— Sabe que a tempos insistem em nos pairar aqui dentro a ideia de tornar comumente a valorização desse estilo de vida. — O ogro girou o dedo indicador como uma mania impulsiva durante sua fala. Um dedo imaginariamente mágico que sentia fazer efeito na sua explicação.

— Mas tal questão sempre se tratou do lado obscuro presente no SPES, e agora estão aparecendo na surface como ervas daninhas em uma plantação de temporada.

— Eu compreendo sua insatisfação, mas é dessa forma que a cultura está caminhando. Vivemos em uma terra sem lei, consequentemente estruturados na liberdade de situações!

— Ou deveríamos viver! — Indaguei ao interromper sua linha de raciocínio com frustração. — Não podem nos forçar a respeitar atitudes que reconhecemos por erradas.

— Isso se essa conclusão não encarecer com a vontade dos jogadores, sabe disso Celeste.

— Então não somos libertos, vivemos sob uma relação de dependência e aceitação diante do que a maioria clama.

— É assim desde a permissão dada aos usuários para importar seus códigos nessa realidade virtual.

Não obtive dissimulação suficiente para frear o largo suspiro que insistiu sair como um jato dos meus lábios, pressionando minhas têmporas como um gesto dissipador. — De tempos em tempos eu tomo o questionamento sobre essa ter sido uma boa decisão para a comunidade.

— Não sei você, mas eu enxergo pontos positivos na inovação. Graças a essa ideia surreal, temos pessoas vivendo com o que ganham no SPES, movimentando novas oportunidades e encontrando uma simples brecha para se sobressair nesses tempos difíceis.

SPES: The gameOnde histórias criam vida. Descubra agora