Apesar da mente brilhante, tinha uma péssima conduta: isso era o que todos
diziam dele, Ricardo era o típico gênio problemático. Parado diante do cartaz de uma rave que aconteceria no próximo final de semana, já sabia que a semana seria cheia e que seu celular não pararia de tocar a partir de então. No final do dia, enquanto todos estavam comentando na saída da escola sobre o tal evento, Ricardo só pensava em passar na papelaria para comprar material, correr para casa e começar a produzir as identidades falsas que em breve seriam encomendadas.Ele era bom no que fazia, aos 16 anos já havia falsificado vários RGs e
carteirinhas de estudante sem ser pego. Gostava daquilo, apesar de que sob a visão de alguns, estava apenas desperdiçando sua inteligência. Notável, era como alguns professores o chamavam. Ricardo era visto como alguém com um futuro promissor e
gostava de se sentir superior aos outros, porém por também se sentir único, havia uma espécie de solidão, um sentimento que não conseguia se livrar. Odiava a popularidade que seu Ql alto Ihe proporcionava, com os holofotes voltados para si era quase impossível fugir quando necessário.Passava o dia inteiro fora, a maior parte do tempo na escola e depois dela, curtia um pouco da liberdade que tinha, indo a tabacarias e conhecendo mais pessoas que possivelmente viriam a ser clientes seus. Fazia sucesso com as meninas, tinha beleza, astúcia e uma boa lábia, assim como todo geminiano. Embora tivesse facilidade em lidar com as garotas, nunca se envolvera profundamente com alguém, tinha medo, um medo não identificado, ainda não compreendido e também ignorado.
Talvez fosse em parte culpa de sua criação garantida por mãos estranhas, já que sua mãe sempre ausente por consequência do trabalho, nunca tinha tempo para investir o mínimo afeto nele. Hoje seu contato com ela se baseava apenas em mensagens triviais via WhatsApp uma vez por semana. Ricardo vivia naquele apartamento na Praia da Costa praticamente sozinho, apenas com a companhia da diarista que aparecia duas vezes na semana para deixar tudo limpo e organizado. Seu pai falecera quando ainda era uma criança, mas ele aprendeu a superar essa ausência através de uma busca incessante por satisfação, mesmo que mornentânea.
Se satisfazia ao ultrapassar os limites pré-determinados, fazendo falsificações e frequentando lugares impróprios para sua idade. Se satisfazia ao conquistar várias garotas sem pertencer a nenhuma, se envolvendo sempre de forma superficial. Afinal, como ele ia saber o que era afetividade se isso nunca fizera parte de sua vida?
Ricardo preferia fingir que toda aquela ausência não o afetava, só que afetava sim. Ele sentia que aquele não era o seu lugar, ansiava por mais, por
novos horizontes, pessoas e realidades. Estava cansado de acordar todos os dias e olhar para os mesmos rostos na escola, lidar com a mesma indiferença em casa, cansado de estar sozinho mesmo rodeado de tanta gente. Gente vazia, que estava mais interessada em seu aspecto fisico e na sua inteligência do que na sua essência.
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O melhor lugar é onde você quer estar!
Dla nastolatkówDois adolescentes, deslocados de suas realidades, resolvem juntos fugir de casa. Uma narrativa sobre os desafios da vida adolescente, sobre famílias que precisam repensar a forma como lidam com seus filhos, mas principalmente, uma história que mostr...