Está frio. Mesmo coberta da cabeça aos pés com pele de orc peludo das montanhas - ao qual pegamos em minha última parada antes da estação de trem Sumdi, em algum lugar onde já tinha sido uma floresta, ambos mortos, talvez procurando abrigo ou alimento, ele estava magro - o frio ainda acha um jeito de me tocar e tocar a todos, uma brecha, um sentimento, um olhar. O frio já tomou de conta. O vagão do trem está semi vazio, eu diria que em torno de uns cinco corpos sem alma, mas não literalmente e contando comigo, eu não gostava de observá-los. E mesmo com a minha mãe ao lado, me abraçando e afirmando que será uma breve viagem até a baía, eu ainda sinto um pouco de medo de que eles estejam me procurando.
...
Dormi.
Será que já estamos chegando? Será que já se passaram pelo menos três horas desde que partimos? Tudo aqui embaixo fica confuso. Tudo aqui embaixo está morrendo, se já não o fez. Eu só queria ter tido a chance de ver as três luas gêmeas, somente mais uma vez...
Vasculhei na bolsa qualquer coisa para comer quando eu me deparei, de canto de olho, com alguém se aproximando.
Dia monótono, né? - um jovem rapaz de um belo sorriso, provavelmente da minha idade, cabelos lisos e olhos puxados, pretos como carvão em contraste ao tom claro e amarelado de sua pele, alto e com vestes pretas da cabeça aos pés, um sobretudo, luvas, cachecol, calças folgadas e botas de cano longo, sentou-se bem ao nosso lado, tentou até ser simpático. Que raridade!
Ouvi dizer que em Sumdi as pessoas são tão frias quanto o clima. Bem, talvez hoje não seja tão monótono - ele parecia se vestir com roupas novas, provavelmente deve ter pegado de alguma loja de grife, já todas abandonadas. Já eu estava com calças largas e remendadas com tecidos diferentes, grandes botas marrons de couro que iam até a altura do joelho, com quase nem um salto, o que as tornava confortáveis, amarradas com cordões resistentes ao redor do pelo de orc para o frio, além de usar no braço direito envolto a um bracelete pelos mesmos cordões usados nas botas, mas o braço esquerdo eu cobria com tecidos diversos que eu encontrava, formando uma luva que cobria meu braço todo, segurados por amarras de couro no início e no pulso. O pelo eu também usava como casaco, e tinha até um capuz com chifres onde já foi a cabeça da criatura, eu prendia uma ponta a outra com umas grandes presilhas de gemas granada lapidada, presente da mamãe, mas essa era a única parte mais chique. Por debaixo do casaco fedido, eu usava um pano preto para usar de forma improvisada como camisa, e na cintura três cintos, um largo, outro normal e outro pequeno, e em cada um eu levava alguma sacola ou pequena bolsa para guardar qualquer coisa. Os detalhes em que eu mais gostava eram os elásticos presos no cabelo que teimava em saltar sobre minha face. Eu também usava um prendedor de cabelo elástico e velho, mas acho que ele não irá notar tal detalhe.
Eu não sou de Sumdi - sorriu e logo olhou sobre o meu ombro - Sua mãe?
É sim - tadinha da mamãe, ela tem se esforçado tanto ultimamente que deve está exausta, acabou dormindo - Bem, qual é o seu nome? Você é daqui?
Meu nome é Dan e eu sou de Anis.
Anis? Estamos bem distantes de Anis.
Viagem de negócios, sabe como é - sorriu novamente.
Não. Na verdade eu não sei - parecia que uma bola de neve havia me atingido.
Talvez tenha sido uma péssima piada.
Bem, ela seria interessante há alguns anos atrás - não me leve a mal, mas nada mais tem graça ou muita saturação de cor aqui embaixo. Logo o belo e teimoso sorriso em sua cara desvaneceu-se - Eu sinto muito pelo o que aconteceu lá.
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Utopia - O Sonho de Magnus
PertualanganEm uma realidade onde humanos estão ameaçados de serem extintos da face de Ho após a inteligência artificial conhecida como Magnus, tomar o controle do mundo com a sua frota de robôs demoníacos. Seria possível, Hope e a Resistência, serem capazes d...