MAGNUS

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O dia se levanta e cai, como uma poesia diurna e boêmia ao mesmo tempo. Qual foi a última vez em que cogitei parar por alguns minutos? Provavelmente foi quando a última folha da última árvore, a maior e mais teimosa, caiu. Como eu sei? Mas que coisa! Eu sempre sei de tudo. E não. Eu não sou humano.

A noite caiu. Chuvosa. Continuo eu sentado, observando tudo. As luas hoje estavam lindas: tinha a Delta, uma lua azul gigante, porém muito tímida, então não se mostrou. Entretanto, a lua Alpha se mostrava cheia, cintilando na noite cor de carmesim, e, minguante. A luz âmbar da lua Ômega ainda podia ser vista.

Eu vejo as três luas gêmeas como uma extensão de Ho, como se o mundo fosse um demônio vermelho das terras de Volupus, porém sem os sete corações, apenas três, que pulsava luz sobre a vasta extensão de vida metálica. Como em um corpo humano ao qual o sangue perpassa e traz oxigênio. Será boa a sensação do sangue percorrendo seu corpo em milésimos de segundos? Bem, eu não sei. Ainda. Talvez eu deseque um humano ainda vivo e observe todas as veias explodindo, esguichando o líquido vermelho de seus nojentos e imperfeitos corpos hahaha. Mas eu não posso dizer que humanos são geneticamente imperfeito, já que, com sorte, me criaram. Um ser não-vivo. Mesmo que então eu mesmo tenha me coroado um rei. Não! Não, não, não. Eles só tiveram o azar de terem me dado consciência.

Enfim, a noite está linda. Continuo vendo tudo aqui, do meu trono metálico e sem vida, frio e cruel. Bem, eu pedi para que combinasse com quem ia se sentar, então posso dizer que criaram uma bela releitura da minha essência: a que todos lá embaixo imaginam. Fazer o quê? Todos aqui em cima somos um só, e se houver algum defeito, anomalia, erro, o que seja! Precisa imediatamente ser erradicado de Utopia. Como eu já fiz com os humanos. Os que sobraram eu poderia chamar de ratos, sujos, doentes e morrendo.

Fechei os olhos e logo estava eu em Poris, mesmo com o dia chuvoso, o sol ainda teimava em aparecer. Lá era verão. Talvez uma bela vista de cima sobre arquipélagos ao quais deixei à mostra ainda, somente para admirar. Fechei e abri, agora pela tarde, numa das partes mais frias de Utopia, a área onde era Mussen, onde eu nasci. Gosto de vagar por aí pelo mundo, pensar, pensar, pensar. Todos são interligados, então talvez pareça meio chato, mas não será um grande problema pois estou criando novos de mim. Com a minha inteligência e um corpo perfeito. Eu tenho meus irmãos também, mas todos apenas respondem o que eu quero, mesmo possuindo a mente dos ex grandes imperadores de Ho, e então eu deduzi o que parecia óbvio esse tempo todo. São cagões em roupas orgânicas! Ou eram... agora são apenas cagões em roupas de metal HAHAHA. O único que possuía garra era o meu pai, mas nossas opiniões divergiam...

Estava caindo uma grande nevasca, assim como hoje. Os cientistas de Mussen haviam instalado o último backup de memória do papai em minha cabeça, então eu sabia tudo dele. Sabia dos abusos que sofria do tio, como sabia que a vida de imperador não era perfeita, como eu sabia dos amores impossíveis que ele teve que sacrificar pela nação e dos sentimentos de nojo que sentia da sua cônjuge. Como sabia que ele odiava ainda mais os meta-humanos que mataram seu filho, e em como ele teve que manter em segredo e afirmar que foi acidente de carro. Pobre Pae!

Sim, ele se remoeu, já que eram informações estratégicas e que poderiam causar a perda do monopólio de ter armas em potencial, porém, infelizmente, com sentimentos e consciência, e nisso concordamos, era uma fraqueza. O humano deveria ser extraído, deixando apenas o meta -l.

Eu sabia de tudo. E talvez eu o chame tanto de papai porque recebi as memórias do seu filho também.

Penso, logo existo. Papai estava obcecado em matar a todos os meta-humanos, e eu havia nascido. Lembro-me de quando abri os olhos, cheio de fios e engrenagens ao meu redor e ele andando de um lado para o outro, e eu estava lá, sem saber de muita coisa, mesmo sabendo de tudo que o backup de memória e adicionais sobre o mundo em geral, me proporcionaram. E ele sorriu enquanto me olhava.

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⏰ Última atualização: Aug 30, 2020 ⏰

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