O que eu era?

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Aqueles olhos a quem atribuí desprezo, são os mesmos exaltados diante do espelho da própria ignorância. Vesti-me de acordo com o que achei adequado, sai e senti que não devia estar fazendo aquilo, em minha cabeça estavam diretamente apontados ao meu corpo, olhos que julgavam e determinavam o que eu significava naquele momento em que andava abertamente na calçada, tentando transparecer  uma identidade que aquela roupa exigia de mim. Estava de calças jeans, um casaco de couro que julguei ser a porta de entrada para a popularidade, uma camisa social branca por baixo fazia me sentir mais importante.
Quando cheguei aos corredores lustrados da Universidade, vi meu próprio refelexo na janela de uma sala vazia, exceto por uma moça estranha que não percebi estar me olhando enquanto arrumava meu cabelo.
- Ei! - disse ela de forma exaltada - você está flertando com a janela?
Senti-me constrangido sem ter uma reação adequada, queria ser misterioso, e numa situação inesperada, eu não seria nada além daquilo que eu já estava acostumado a ser.
- N..não, eu..
- Você é particularmente estranho, qual seu nome?
- Charles - demorei uns dois segundos pra responder, me deu um calafrio na barriga e minha ansiedade estava em alta.
- Ao meu ver, você está tentando se engajar num grupo popular da universidade, o que de fato fez-lhe mudar toda sua aparência, mas preferia você antes disso, quando andava por ai procurando algo que não sabia, com seus fones, e...um livro na mão.
Eu não soube reagir, nesse momento eu devia estar com uma cara muito estranha, o clima ficou tenso.
- Não, você...anda me espionando? - as vezes não penso o que falo, de fato penso, mas não sei porquê falo.
- Eu sei, de todo mundo - ela dissera essa frase de um forma tão peculiar e suspeita, que me fez crer ser ela uma psicopata ou algo do tipo. - Eu sei de todos a minha volta, e anoto cada nome em uma lista negra para que depois eu possa pega-las a sós e cortar suas gargantas sem que percebam.
- Sério? - dissera eu de forma inocente, muito inocente.
- É óbvio que não, um serial killer nunca diz que é um serial killer. Enfim, prazer, kelly.

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