Just Breathe

Cap 10 - O Pesadelo

Estava frio e escuro. Gritei à procura que uma voz retornasse ao meu apelo. Ninguém. A única coisa que ouvia era o meu próprio eco e o bater acelerado do meu coração. Senti alguém puxar o meu braço. Senti o cheiro a cachimbo. A pela seca e quente. Um nó na garganta começou a formar-se. Estava a ser arrastada e não conseguia parar. Gritei, gritei o máximo que conseguia porque já sabia o que ia acontecer depois. Debati para me soltar, mas continuei a ser arrastada. Gritei ainda com mais força. Sentei-me de imediato na cama, estava transpirada. A minha garganta doía do grito que acabara de dar. Foi um sonho. Foi a merda de um pesadelo.

- Estás bem? - perguntou Liam. Esqueci-me que ele ainda cá estava. Merda. Deixei-o dormir, não tivera coragem para acordá-lo, mas agora arrependo-me. Notava-se que estava ensonado. Não lhe respondi. Apenas me virei, sentei-me na cama colocando os pés no chão e tentei acalmar a minha respiração. - Ei, que se passa? Tiveste um pesadelo? Está tudo bem? - ele colocou a sua mão no meu ombro e depressa me desviei.

Levantei-me e dirigi-me à casa de banho sem lhe dar uma explicação. Porque é que não o mandaste embora? Porquê Emily? Porquê? Ele agora vai fazer mil e uma perguntas sobre o pesadelo e tu não queres responder. Fechei a porta da casa de banho. Lavei a cara e limpei-a. Apoiei as minhas mãos no lavatório e observei a água a correr. Liam bateu à porta mas ignorei.

- Se não me disseres nada vou entrar mesmo assim, não quero saber se estás vestida ou não. - ele disse. Percebia preocupação na sua voz.

- Estou bem. - descansei-o.

Ele parou de bater. Olhei para o meu pulso esquerdo e toquei na tatuagem que tenho gravada. Tentei acalmar-me. Olhei para o espelho e vi a minha figura. És uma triste. Aqui estás tu aos 20 anos ainda a ter os mesmos pesadelos. Odeio-te. Odeio-te. Disse a pequena voz na minha cabeça. As imagens do meu passado começaram a passar, uma e outra vez, na minha cabeça. As lágrimas encheram os meus olhos e não as contive. Comecei a chorar sem conseguir controlar. Fiquei sufocada e comecei a soluçar. És uma triste. Ninguém gosta de ti. Nunca ninguém te vai querer. Até podes pensar que sim, mas basta contares o teu passado para terem nojo. Vais ficar sozinha. Estás danificada e ninguém te vai ajudar. Ninguém... Mandei um soco contra o espelho e levei as mãos contra a cabeça, tapando os ouvidos na esperança de calar a voz que ecoava na minha cabeça. O espelho partira-se e fizera bastante barulho. Liam entrou de rompente na casa de banho.

- Estás bem? - começou. - Ouvi qualquer coisa a partir e... - Ele parou ao olhar para mim, sentada no chão, como se fosse uma criança com medo do bicho papão. Ele fechou a torneira e sentou-se ao meu lado no chão. - Estás bem? Ei, ei... tem calma, estás a tremer. - Abraçou-me como se me estivesse a proteger. Deixei-me ficar. Ainda estava a tentar lutar contra a voz na minha cabeça, não poderia lutar contra ele também. Beijou-me a cabeça e por momentos comecei a sentir-me segura.

Ficamos assim algum tempo. A voz tinha desaparecido e apenas as imagens ficaram. Já não tapava as orelhas. Ele largou-me e pegou numa toalha, molhou-a e começou a limpar o sangue que tinha na mão do murro de à pouco. Gemi quando ele passava a toalha húmida pelos cortes, não eram profundo mas eram frescos e doíam.

- Acho que não precisas de pontos. Uns pequenos pensos e ficas como nova. - ele sorriu mas não consegui retribuir. Ele ficou sério. - Anda, volta para a cama. Estás mais confortável lá.

Ele ajudou a levantar-me e guiou-me. Não tinha reação, não conseguia sorrir ou falar. Senti-me desprotegida depois de ele me largar. Senti que alguém poderia fazer mal a qualquer momento. Ele baixou-se à minha frente depois de me sentar na cama.

- Tens de descansar. São apenas 3h da manhã e ainda tens muito tempo para dormir. Posso ficar se quiseres, mas se me disseres para ir embora, eu vou. Não te vou perguntar o que aconteceu, contas se quiseres. Queres que fique?