Tulipa

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Assisto você escorregar pelas minhas mãos,
Enquanto eu morro aqui outro dia
Porque tudo que eu faço é chorar por trás desse sorriso
Eu te desejei o melhor do que o mundo pode dar
E eu te disse quando você me deixou
"não há nada para perdoar
Mas eu sempre pensei que você ia volta
Me dizer que tudo que você encontrou foi um coração quebrado e tristeza
É difícil para mim dizer
eu tenho inveja da maneira que você é feliz sem mim

(Labrinth – Jealous)

Se arrependimento matasse...

Natsu desabotoou o terno preto e tocou delicadamente seu antebraço, retirando-a do doloroso torpor em que se encontrava.

— Juvia... — murmurou ele num falso tom de monotonia, sem em nenhum momento fitá-la nos olhos azuis marejados — Não aguento mais ficar aqui.

O desespero percorreu o corpo da Lockser num violento arrepio. Eram padrinhos, estavam ali juntos, não? Agarrou suavemente a manga do terno de Natsu, implorando com os olhos que também a levasse, mas, parecendo ignorar o sofrimento estampado em suas feições, ele afrouxou a gravata rosa e deixou a Lockser para trás.

Estava sozinha.

Juvia engoliu as lágrimas, ignorando o nó em sua garganta e o inevitável fluxo de magia que escapava por seus poros, e ergueu novamente os olhos... Apenas para ver o Gray-sama, que um dia havia sido seu, com um smoking cinza e o sorriso mais lindo do mundo. Segurando a mão da noiva como se fosse a coisa mais preciosa da face da terra e, com a voz rouca, recitando os votos; dizendo, finalmente, as palavras que Juvia tanto ansiava ouvir... Para alguém que não era ela.

Mordeu os lábios, tentando abafar um soluço; o anel dourado deslizou lentamente pelo dedo da noiva e, com os olhos negros cintilando numa felicidade incontida, Gray se curvou e beijou a mão dela. O rosto de Lucy ganhou um tom de vermelho, risadinhas pipocaram aqui e ali, mas os noivos, embriagados pela alegria do momento, trocaram um sorriso cúmplice, como se nada — nem a porta da guilda fechada com força, nem os muitos comentários sobre o quão brega aquilo era — pudesse estragar aquela estranha sintonia.

Por que estava ali mesmo?

O convite para ser madrinha, aceito num impulso ridículo de provar às pessoas que estava bem, que era uma mulher adulta e não faria nenhum feitiço para prejudicar sua rival do amor no dia do casamento, cobrava seu preço... E, naquela noite de sábado, ele parecia infinitamente mais doloroso. Porque, enquanto Lucy recitava seus votos, com os lábios trêmulos e a voz embargada, Juvia segurava o pomposo buquê de tulipas vermelhas nas mãos com um sorriso, tentando ignorar a pequena pegadinha do destino deixando bem claro que, não importava o quão perto chegasse, o quanto lutasse, insistisse e se humilhasse, o amor eterno nunca seria destinado a ela.

Juvia sabia disso; mesmo que ela se recusasse a aceitar, mesmo que procurasse rivais a quem culpar, os pequenos sinais sempre estiveram ali. Em cada olhar de desconforto, cada sorriso sem graça, cada vez em que tudo parecia se encaixar e eles pareciam se tornar perfeitos um para o outro... Até Gray se levantar da cama no meio da noite e ir embora sem qualquer satisfação, como se ela não fosse nada além de um passatempo. Como se a tal perfeição que a deixara nas nuvens fosse apenas um de seus muitos devaneios.

Juvia sabia disso, mas... A promessa de dias mais ensolarados a iludia, envolvendo-a com um ridículo fio de esperança, tornando a menor das respostas dele uma humilhante motivação para continuar. Porque, após uma vida inteira de cinza, um homem lhe estendeu a mão e mostrou, pela primeira vez, que o céu podia ser azul e a vida, cor-de-rosa. Não podia ser uma coincidência, não é?

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