Lavanda

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Porque são 4 da manhã
E essa é a hora em que eu começo a devanear
Pensando em todas as maneiras que eu quero isso
E é a hora de você saber
Que eu não consigo parar de pensar em você
E eu não sei o que eu vou fazer
Eu não consigo parar de pensar em você
(Katie – Thinkin' bout you)


Era apenas uma fotografia.

Só uma foto, o Dragneel repetiu para si mesmo, fitando pela milésima vez a pequena polaroid amassada entre seus dedos. Ainda faltava algum tempo para o amanhecer, mas, depois de horas se debatendo entre os lençóis, já tinha desistido de dormir. Tudo o que tinha era um chá de lavanda requentado com magia e aquela foto do parque de diversões.

Àquela altura, Natsu já havia decorado a imagem: o fundo repleto por luzes coloridas que, sem foco, mais pareciam estrelas; ele parado, com uma mão no bolso e a outra posta sobre os ombros dela, com olhos vermelhos e um sorriso macabro que denunciavam que não estava tão calmo quanto seu gesto fazia parecer.

Medonho.

Deu um gole no chá com uma careta; não gostava muito de olhar para si mesmo. Na verdade, se dependesse da sua aparência, aquela foto já tinha virado cinzas há muito tempo, mas, feliz ou infelizmente, não conseguia jogar aquilo fora. Tinha tido várias oportunidades ao longo da quarta-feira, podia muito bem ter se livrado dela enquanto faziam compras, mas no fim a pequena polaroid sempre acabava de volta em seu bolso.

Tudo por causa dela.

Da maçã-do-amor suavemente apontada em sua direção, das bochechas rosadas e da surpresa com que os olhos azuis encaravam o seu rosto... E, principalmente, por causa daquele incomum e adorável sorriso, que o deixava confuso, feliz e mais um monte de outras coisas que não conseguia explicar direito. Ela estava linda, de um jeito que nunca tinha notado antes.

E era esse o problema.

Era melhor não ter reparado.

Sempre soube que Juvia era bonita; já tinha perdido as contas de quantas vezes ouvira os caras da guilda elogiando-a e pedindo, com um sorriso sem vergonha, que ele não contasse a Gray. Para Natsu, entretanto, a beleza da Lockser nunca tinha feito diferença. Ela era só mais uma — só uma companheira de guilda, uma amiga, alguém com quem dividia o quarto. Ela ainda é só mais uma, ele repetiu, engolindo o chá de uma vez e levantando da cama, mas...

Merda. Era tarde demais.

Mais do que nunca, estava consciente da presença dela. Da magia, dos lábios, das curvas e da péssima mania de dançar, apenas de sutiã e calcinha, enquanto caminhava para tomar banho. E de como ela andava pelada pelo quarto sem nenhum motivo, usando a mesma desculpa sem vergonha de que as roupas tinham desaparecido magicamente. Esfregou o cabelo com força, andando em círculos pelo quarto; antes nada daquilo tinha importância, mas agora qualquer coisa que Juvia fazia o deixava daquele jeito.

Ansioso, meio tímido e muito muito idiota.

Mal conseguia olhá-la nos olhos, muito menos formular uma frase decente, e Juvia já estava começando a perceber que algo estava estranho. Não, não a achava desagradável, não estava cansado da presença dela nem se arrependendo daquela viagem como a vira questionar, amuada, antes de dormir. Um suspiro escapou dos seus lábios; era exatamente o contrário. Juvia era estranhamente incrível, de um jeito que parecia inevitável observá-la.

Os olhos negros espreitaram, então, a figura adormecida da mulher, observando com curiosidade os fios azulados espalhados pela cama, a expressão séria e a camisola amarela embolada na cintura, que lhe proporcionava uma visão privilegiada das coxas e da bunda numa calcinha de renda branca. Um meio sorriso surgiu sem aviso no rosto do Dragneel; encolhida no meio da cama, com as mãos pequenas agarrando o travesseiro, ela parecia assustada, indefesa e linda.

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⏰ Última atualização: Apr 02, 2021 ⏰

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