Camomila

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Fuja comigo
Parece que precisamos ir a qualquer lugar agora
Porque você parece que vai chorar em breve
Está tudo bem
Devemos fugir?
Para qualquer lugar, de qualquer jeito
Eu estarei ao seu lado
Você pode chorar o quanto quiser
Depois disso
Podemos voltar mais fortes
(sunwoojunga – Run with me)

No caminho de volta ao hotel, envoltos pela chuva dourada do amanhecer, tudo o que Natsu conseguiu foi observá-la de longe. Mantinham um silêncio cortante, gelado e constrangedor, quebrado apenas pelos passos desritmados de ambos. Os olhos negros percorriam sem interesse as ruas de Hargeon; estava muito mais empenhado em descobrir em que ponto a nudez translúcida deu magicamente lugar ao vestido cor-de-rosa surrado, e por que Juvia tentava disfarçar um suspiro toda vez que olhava para trás.

O Dragneel enrolou o cachecol encharcado em volta do pescoço e voltou a enfiar as mãos nos bolsos, tentando aplacar o estranho frio que sentia. Àquela altura, mal sabia o que estava fazendo, mas não tinha dinheiro nem vontade de voltar para a guilda. Estava cansado de repassar mentalmente seus erros e esperar que o destino, em alguma das suas misteriosas reviravoltas, lhe desse uma segunda chance com Lucy. E manter o foco nos cabelos azuis lhe parecia muito mais simples do que lidar com seu passado assombrando-o pelas ruas de pedra.

Começou, então, a ensaiar todo tipo de pedido de desculpas; a maioria soava falsa, estranha ou constrangedora demais para ser dita em voz alta, mas... Coçou o cabelo molhado, envergonhado; depois de todas as coisas horríveis que disse a ela — e, de quebra, depois do papel ridículo que fizera ao achar que podia colocar fogo na chuva só com a força de vontade —, uma vergonha a mais ou a menos não faria tanta diferença desde que ela o deixasse ficar. Nem precisava que ela o perdoasse de verdade... Podia aguentar xingamentos e até quase morrer afogado de novo, qualquer punição era melhor do que voltar para casa e responder a uma infinidade de perguntas. Só precisava de uma trégua... Se é que isso era possível.

Parabéns, Natsu, murmurou com um sorriso nervoso, você realmente tem um dom pra estragar tudo. Talvez já tivesse esgotado todas as oportunidades possíveis e impossíveis de fazer as pazes com ela, mas, toda vez que estava perto de perdê-la de vista, Juvia sempre colocava o cabelo atrás da orelha e sutilmente olhava para trás... Deixando-o confuso se queria realmente que ele fosse embora ou que ficasse ali.

Na dúvida, preferia a segunda opção.

[...]

Não queria olhar para trás.

Juvia adentrou o hotel a passos largos, fingindo muito mal ignorar a presença de Natsu em seu encalço. Quem ele acha que é? Murmurou para si mesma, quase marchando pelos corredores, fazendo tilintar as chaves em suas mãos; como se fosse fácil daquele jeito dispersar as grossas nuvens cinza do céu. O sol despontou, uma imensa bola de fogo manchando as nuvens de laranja; não queria olhar para trás, queria continuar com raiva dele, mas...

O amanhecer era lindo e, de alguma forma, olhar para trás e saber que Natsu continuava ali era reconfortante. Era inevitável não se derreter ao vê-lo quase correndo para alcançá-la, com olhos negros preocupados, murmurando desculpas de péssima qualidade que a faziam querer sorrir e dar um soco nele ao mesmo tempo. Sendo o herói irritante que não desistia de nenhum amigo.

Nem dela.

Por isso, quando abriu a porta do quarto e percebeu que o corredor estava vazio, não conseguiu evitar o desapontamento. Deu um sorriso sem graça e, tentando se convencer de que estar sozinha não era nada demais, resolveu que um banho de banheira e todos os sais de banho coloridos da prateleira eram a única companhia de que precisava. Arrancou aquele vestido horroroso do corpo, jogando-o de qualquer jeito no lixo, e usou a própria magia para encher a banheira com água quente; mas, mesmo em meio à espuma cor-de-rosa que tanto amava, não conseguia parar de imaginar se algum dia veria a luz do sol de novo.

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