Aviso gatilho: contém tortura e insinuação de violência
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1968
Lembro-me deste dia como se fosse ontem.
31 de dezembro de 1968. Narcisa e eu voltávamos do mercado, para iniciar os preparativos do Ano Novo que comemoraríamos em família. Minha irmã havia esquecido alguma coisa para trás - não me recordo o quê – e voltou, deixando-me entrar primeiro em nossa mansão.
Da sala de estar, já ouvi gritos. O barulho de alguma coisa quebrando, o choro que com certeza era de minha mãe. O que foi que ela fez agora?
Parei para ouvir, com os punhos fechados. Odiava ter uma mãe tão fraca.
Odiava ainda mais ter qualquer semelhança com ela.
Em seguida ouvi os gritos de meu pai, atacando-a. Barulhos.
Corri dali, para o fundo dos jardins.
Conhecia aquela sensação, e a identificava como fraqueza. A súbita vontade de chorar, sentimento de impotência, talvez um pouco de culpa. A tristeza transformou-se em indignação, que por sua vez transformou-se em fúria.
Na hora, um esquilo passou em minha frente.
O erro foi dele, de aparecer aqui justo agora.
Apontei a varinha ao animal, determinada. "Crucio."
Assisti o esquilo agonizando. Quanto mais ele sofria, mais eu me sentia livre de minha própria miséria. A sessão de tortura acalmou-me um pouco, deixando-me um pouco mais leve.
"Brava." Ouvi uma voz parabenizar-me, aplaudindo-me lentamente atrás de mim. "Bellatrix Black, a terrorista de esquilos."
Virei-me.
Voldemort.
Não estava com paciência para decoros naquele momento. "O que está fazendo aqui?"
Ele respondeu-me com casualidade. "Confesso que estava passando. Pretendia fazer uma visita à casa dos Black, quando me deparei com cena tão agradável."
Eu ainda estava muito alterada. Tão alterada que nenhuma resposta rápida me veio à tona.
Ele me estudava. "Sei o que estava fazendo. Direcionando sua raiva em outro ser. O fez muito bem, devo dizer." Aproximou-se, sem pudor. "Sei porquê faço o mesmo. É bom, não é?"
Dei de ombros. "Revigorante." Admiti.
Ele riu, negando com a cabeça. "Pobre criatura." Parecia estar se referindo mais a mim do que ao esquilo.
"Não preciso de sua caridade," Ouricei-me, estranhando a repentina intimidade. Afastei-me em um passo. "Tom Riddle." Pronunciei lentamente, sentindo o doce de cada sílaba em minha boca. Queria provocá-lo, por estar sendo tão impertinente.
Ele ergueu a sobrancelha. "Qual a sua necessidade de diminuir-me sempre que pode?"
Retruquei: "Qual a sua necessidade de diminuir todos à sua volta, milorde?" Reforcei a última palavra.
Acho que foi a primeira vez que vi Voldemort desconcertado. E raras foram as vezes que tal expressão se repetiu.
"Rodolfo me contou sobre o que fazem, na tal gangue do algodão-doce." Provoquei, cercando-o. "Uma seita. Deve ser bem confortável para o seu ego, cercar-se de pessoas que só repetem o quão incrível você é por conseguir fazer um ou outro feitiço das trevas com maestria."
Voldemort ergueu a sobrancelha, cruzando os braços. "Parece ser bem íntima do Lestrange."
Transamos eventualmente, responderia se lhe devesse satisfações.
"E você parece ser bem íntimo da habilidade de se esquivar de assuntos que não te agradam." Minhas palavras eram tão rápidas que nem as cogitava antes que saíssem.
"Engraçado..." Confessou Tom Riddle. "Eu poderia dizer o mesmo da senhorita."
Nos encaramos por alguns segundos. Creio que estamos quites. Por enquanto.
Dei as costas, voltando para a minha casa. A esta hora, se eu tiver sorte, meu pai já terá se acalmado.
"Sabe que há formas mais produtivas de trabalhar sua raiva do que... Descontá-la em roedores." Voldemort insistiu, mais uma vez.
"É mesmo?" Questionei, voltando-me a ele com os braços cruzados. "E como, por o acaso?"
"Colocando todas as suas energias na causa em que acredita." Respondeu ele, simplesmente. "Compareça amanhã à nossa gangue do algodão-doce e verá o que quero dizer."
Bufei. Ele me lançou um olhar quase que sedutor. "Aproveitemos o novo ano para novos inícios."
Revirei os olhos, afastando-me de vez.
Mas logicamente, não resisti em comparecer na mansão dos Lestrange no dia seguinte.
Afinal, era um encontro.

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Bellatrix
Fiksi PenggemarConfesso que em determinados momentos, desejava a morte. Talvez fosse mais fácil - me tornar um fantasma e amedrontar trouxas pelo resto de minha existência. Mas infelizmente, eu era habilidosa demais para ser derrotada com facilidade. Creio que est...