O dia do retiro chegou e eu não poderia estar menos preparado. Confesso que cogitei ligar para Taehyung diversas vezes e cancelar nosso acordo. Contudo, meu espírito empreendedor e declaradamente falido me diziam que eu deveria tentar. Quatro dias não seriam nada se comparados a tudo que eu faria com a mesada de Taehyung pelo resto das férias.
Às seis e meia eu já estava pronto. Minhas olheiras estavam enormes. Por sorte meu protetor solar também era base e hidratante. O fato é que eu não consegui pregar os olhos na noite anterior. Se eu tiver dormido três horas, foi muito. Era uma ansiedade estranha me borbulhando por dentro.
O interfone tocou às sete da manhã em ponto. Metódico e pontual, como Taehyung. Quando abri a porta quase fui derrubado pelo indivíduo que pendurou-se em meu pescoço como aqueles cachorros grandalhões que não tem noção de seu tamanho, mas são cheios de amor pra dar.
— Bom dia, flor do amanhecer. Pronto para ser meu? — perguntou repleto de uma energia até então incompreensível para mim.
Eram sete horas da manhã... em pleno final de semana. Nas férias do cursinho... Dia bom é o caralho.
— Não estou pronto e nunca estarei.
Taehyung entrou como se já fosse de casa e deixou a mala enorme em cima do sofá da sala
— Vai se mudar? — indaguei ao observar a quantidade de roupa que ele estava levando. — E essa cara feliz? Qual o seu problema, garoto?
— Ai, Jungkook-ah, relaxa velho, vai ser legal. Eu já disse que é só a galera jovem que vai. Não vão ter adultos. — Explicou colocando os óculos de sol na cabeça.
— Como se os almofadinhas gospels da sua igreja fossem diferentes dos pais deles... — Revirei os olhos e me joguei esparramado no sofá.
— Você é muito negativo, nossa... — disse sentando-se ao meu lado. — Cadê sua mãe?
— Tá ali dentro. — Apontei para o quarto, onde Minyung terminava de realizar seu culto matinal.
Nosso apartamento provavelmente era muito menor e mais humilde que a casa de Taehyung. Mas era fato que muitas das vezes ele preferia estar com a gente do que atuar no papel de hétero escroto na luxuosa residência dos Kim.
— Como vai, querido? — disse Minyung dando o ar da graça.
Taehyung correu em sua direção e lhe deu um abraço apertado.
— Vou bem, noona. — Assentiu, recebendo um afago na cabeça.
— E mamãe e papai? Estão bem?
— Ah, noona... Você sabe... O mesmo de sempre.
Minha mãe também era vítima dos desabafos recorrentes de Taehyung. Ele via nela a figura materna que não tinha em casa. Com Minyung, Tae tinha total liberdade para falar de tudo. Quase tudo. As partes mais obscuras sobravam para o coitado aqui.
— Sempre que você estiver se sentindo mal, pode vir pra cá, tudo bem? Essa casa também é sua — disse segurando suas mãos com firmeza. Ele lhe sorriu agradecido.
— Mãe, não dá liberdade que ele acredita. Daqui uns dias aparece com essas mesmas malas falando que veio morar aqui — falei apontando para a bagagem de Taehyung.
Em seguida levantei-me do sofá e peguei minha bolsa, caminhando em direção à porta. Quando olho para trás, vejo minha mãe e Taehyung cochichando e dando bisbilhotadas de canto para o meu lado.
— Tem certeza que vai levar ele? — Perguntou Minyung baixinho, mas alto o suficiente para que eu pudesse ouvi-la.
— Ai, Noona, não sei. Ele é muito enjoado.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Um Crush Espiritual || Jikook
HumorA grande amizade entre Park Jimin e Jeon Jungkook teve um final inesperado no início da adolescência, quando foram pegos brincando de um jeito suspeito no banheiro da igreja. Anos depois, o acaso decide reuni-los novamente num retiro espiritual para...