3 - Estrada para o inferno

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O dia do retiro chegou e eu não poderia estar menos preparado. Confesso que cogitei ligar para Taehyung diversas vezes e cancelar nosso acordo. Contudo, meu espírito empreendedor e declaradamente falido me diziam que eu deveria tentar. Quatro dias não seriam nada se comparados a tudo que eu faria com a mesada de Taehyung pelo resto das férias.

Às seis e meia eu já estava pronto. Minhas olheiras estavam enormes. Por sorte meu protetor solar também era base e hidratante. O fato é que eu não consegui pregar os olhos na noite anterior. Se eu tiver dormido três horas, foi muito. Era uma ansiedade estranha me borbulhando por dentro.

O interfone tocou às sete da manhã em ponto. Metódico e pontual, como Taehyung. Quando abri a porta quase fui derrubado pelo indivíduo que pendurou-se em meu pescoço como aqueles cachorros grandalhões que não tem noção de seu tamanho, mas são cheios de amor pra dar.

— Bom dia, flor do amanhecer. Pronto para ser meu? — perguntou repleto de uma energia até então incompreensível para mim.

Eram sete horas da manhã... em pleno final de semana. Nas férias do cursinho... Dia bom é o caralho.

— Não estou pronto e nunca estarei.

Taehyung entrou como se já fosse de casa e deixou a mala enorme em cima do sofá da sala

— Vai se mudar? — indaguei ao observar a quantidade de roupa que ele estava levando. — E essa cara feliz? Qual o seu problema, garoto?

— Ai, Jungkook-ah, relaxa velho, vai ser legal. Eu já disse que é só a galera jovem que vai. Não vão ter adultos. — Explicou colocando os óculos de sol na cabeça.

— Como se os almofadinhas gospels da sua igreja fossem diferentes dos pais deles... — Revirei os olhos e me joguei esparramado no sofá.

— Você é muito negativo, nossa... — disse sentando-se ao meu lado. — Cadê sua mãe?

— Tá ali dentro. — Apontei para o quarto, onde Minyung terminava de realizar seu culto matinal.

Nosso apartamento provavelmente era muito menor e mais humilde que a casa de Taehyung. Mas era fato que muitas das vezes ele preferia estar com a gente do que atuar no papel de hétero escroto na luxuosa residência dos Kim.

— Como vai, querido? — disse Minyung dando o ar da graça.

Taehyung correu em sua direção e lhe deu um abraço apertado.

— Vou bem, noona. — Assentiu, recebendo um afago na cabeça.

— E mamãe e papai? Estão bem?

— Ah, noona... Você sabe... O mesmo de sempre.

Minha mãe também era vítima dos desabafos recorrentes de Taehyung. Ele via nela a figura materna que não tinha em casa. Com Minyung, Tae tinha total liberdade para falar de tudo. Quase tudo. As partes mais obscuras sobravam para o coitado aqui.

— Sempre que você estiver se sentindo mal, pode vir pra cá, tudo bem? Essa casa também é sua — disse segurando suas mãos com firmeza. Ele lhe sorriu agradecido.

— Mãe, não dá liberdade que ele acredita. Daqui uns dias aparece com essas mesmas malas falando que veio morar aqui — falei apontando para a bagagem de Taehyung.

Em seguida levantei-me do sofá e peguei minha bolsa, caminhando em direção à porta. Quando olho para trás, vejo minha mãe e Taehyung cochichando e dando bisbilhotadas de canto para o meu lado.

— Tem certeza que vai levar ele? — Perguntou Minyung baixinho, mas alto o suficiente para que eu pudesse ouvi-la.

— Ai, Noona, não sei. Ele é muito enjoado.

Um Crush Espiritual || JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora