7. Pecados da carne

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— ...eu gostei, Jungkook.

Fui tocado por um misto de emoções quando as palavras saíram da minha boca. Meu coração protestava no peito. Esperava que o desabafo amenizasse a angústia que me perseguiu durante a tarde, mas isso não aconteceu. Ainda havia algo dentro de mim, como um disco quebrado, tentando me convencer de que era loucura.

— Você não parece muito feliz... — disse Jungkook diminuindo o sorriso.

— Sim... Quer dizer... Eu não sei... — Suspirei frustrado emitindo um muxoxo. — Eu não sei o que pensar, Jungkook-ssi.

— Olha, Jimin-hyung, eu entendo que esteja confuso... mas não acha bom que tenhamos gostado? Não fica feliz que foi recíproco?

— O problema não é esse. — Ele me encarou em silêncio aguardando explicações. — Isso é errado, cara... Não deveríamos ter gostado daquele beijo.

— E por que, na sua concepção, não deveríamos ter gostado? — Ajeitou-se na espreguiçadeira branca cruzando os braços.

— Não é óbvio? Somos meninos. — Jeon me julgava com aqueles olhos de meritíssimo. — Ser gay é pecado... Os gays vão para o inferno.

Notei o peito do moreno inflar-se e suas íris moverem-se para cima, no globo ocular. Já esperava que ele me despejasse uma avalanche de críticas.

— Eu não queria lhe ofender... Só não compreendo como você consegue lidar tão bem com isso, Jungkook.

Ele ergueu meu queixo com o indicador, me forçando a admirar seu lindo rosto. Não haviam mais sinais de julgamento ou impaciência.

— Você tem medo? — Ele perguntou e minha cabeça respondeu-lhe movendo para cima e para baixo. — Do que você tem mais medo, hyung?

Demorei alguns segundos para abrir a boca.

— De ser castigado por Deus... De ser rejeitado pelas pessoas que gosto... Medo de ficar sozinho.

— Jimin-hyung... — Deixou-se suspirar uma segunda vez. — Essa é uma conversa que precisaríamos ter com mais calma, e com mais tempo. — A ponta de seu polegar alisou o dorso da minha mão levemente. — Mas eu sei exatamente como se sente.

Mesmo que o rosto de Jungkook transparecesse verdade, não dava para acreditar que alguém tão resolvido como ele pudesse ter passado por algo semelhante. Na minha cabeça, ele estava dizendo aquilo por pena.

— Só quero que você saiba que não está sozinho. Eu estarei aqui por você. Mesmo se o retiro já tiver acabado e você precisar de alguém pra conversar, pode me procurar. Eu só peço que você não guarde isso. Não sofra sozinho, por favor.

Meu coração ficou eufórico diante da declaração. Olhei nossas mãos unidas. Elas eram de tamanhos diferentes, mas pareciam se completar. Jungkook continuava sendo um garoto amável e sensível, mesmo depois de todos os anos.

— Voltei! — exclamou Jihyo colocando a bolsa transparente na espreguiçadeira ao nosso lado.

Seus olhos de radar captaram minhas mãos e as de Jungkook unidas e um sorriso — quase imperceptível — brotou no canto de sua boca. No reflexo, puxei o braço bruscamente, abandonando as palmas de Jungkook no ar. Ele ficou um pouco sem graça e escondeu as mãos entre as coxas, esfregando umas nas outras.

— Agora você não pode reclamar. Estou protegido dos pés à cabeça.

— Excelente! Obrigada por colocar juízo na cabeça desse teimoso, Jimin. — disse Jihyo desferindo alguns golpes de leve na cabeça de Jungkook. Acabei deixando escapar um risinho. — Ça tape! — Resmungou a ruiva abanando o ar perto do pescoço.

Um Crush Espiritual || JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora