A viagem não foi tão longa quanto eu imaginava.
Pra falar a verdade, pegar estrada nunca foi um problema para mim. Enjoo, tédio, desconforto no corpo... Nada disso me incomoda durante viagens de carro ou de ônibus. O único medo que me assombra é a possibilidade de o celular ou o carregador portátil acabarem a bateria. Aí sim eu passo mal.
Quanto aos detalhes da viagem, de fato eu estava um pouco desapontado em relação ao novo comportamento de Jimin, mas isso não me impedia de sentir os escassos pelinhos do meu corpo se arrepiando, toda vez que as coxas dele, presas pela calça jeans justa, tocavam as minhas nas curvas da estrada.
Nosso ônibus parou na entrada de uma propriedade no meio do nada. Essa era a proposta dos retiros espirituais. Isolar-se em algum ponto remoto para fugir da rotina caótica dos centros urbanos e expandir a espiritualidade, o que não era o meu caso. Eu estava ali pelo dinheiro.
Era uma Hanok muito charmosa e rodeada de verde por todos os lados. Lembrava um pouco os cenários de animes que se passam na Era Edo. Um lugar aconchegante, mas não nas circunstâncias pelas quais estávamos. Espiritualidade nunca foi o meu forte.
Logo que a porta abriu, todos se apertaram no corredor entre as poltronas para descer. Jimin foi um dos que se espremeu na fila para sair mais rápido. Como se o ônibus fosse embora... Eu não tinha essa sorte.
Senti o bafo de ar quente soprar meu corpo como um forno recém aquecido assim que pisei na grama. O sol estava fazendo perfeitamente o trabalho de me assar. Segui em direção ao bagageiro para pegar minhas malas, mas antes que chegasse minha vez, Taehyung me puxou para um canto.
— Vou cortar uma parte do seu pagamento. — Ameaçou pressionando meu antebraço, conforme me arrastava pela grama. — Você não se comportou.
— Ah, me comportei sim. Até demais. — Retirei seus dedões fortes de mim com a mesma delicadeza de ogro que ele me apertava.
— Você provocou aquele menino, Jungkook. Não dava pra esperar nem uns dois dias pra mostrar as garrinhas?
— Quem eu provoquei, gente? Jimin?
— Não estou falando do seu amigo... Estou falando do mauricinho de cabelo preto. — Abaixou um pouco o volume da voz.
— Aquele com cabelo "boi lambeu"? — Assim que a frase saiu da minha boca ele me apertou pela parte de trás do pescoço, forçando-me a curvar para frente.
— Esse mesmo.
— Nada disso. Ele quem me provocou e eu revidei. Além do mais, eu disse somente a verdade. Esqueceu que mentir é pecado?
— Deixa de ser cara-de-pau, Jungkook. Você mentiu sim. Aquele celular nem era seu, pra começo de conversa. Eu conheço as músicas que você escuta.
— Whatever, se você diminuir o valor do meu pagamento, eu posso piorar meus atos a partir de agora, caso julguemos necessário. — Cruzei os braços, dirigindo-me a ele num tom abusado.
— Ai, filho da... mãe — Rosnou entre dentes. — Tudo bem. Não vou diminuir. Só peço pra você maneirar um pouquinho na militância, tá?
— Vou tentar.
— Jungkook... Por que eu tenho a impressão de que você não vai nem tentar?
— Tenha fé, irmão Taehyung. Deus opera milagres.
Depois da pequena discussão, pegamos nossas bagagens e seguimos por um caminho de pedra. Já estava arrependido do tamanho da bolsa que havia levado, mas Taehyung estava numa situação ainda pior que a minha.
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Um Crush Espiritual || Jikook
HumorA grande amizade entre Park Jimin e Jeon Jungkook teve um final inesperado no início da adolescência, quando foram pegos brincando de um jeito suspeito no banheiro da igreja. Anos depois, o acaso decide reuni-los novamente num retiro espiritual para...