• Final

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Quando a lua pousou ao alto do castelo e iluminou todo o quarto, aos poucos, a rosa despertou de seu sono, se sentindo mais quente,— uma sensação que nunca havia experimentado antes.

Era estranho, mas não ruim.

Se virando para trás, ainda em meio a sonolência da madrugada, a rosa teve o vislumbre de algo ao redor de seu vaso, como: dois braços, uma cabeça, um corpo... o jardineiro. Surpresa e desorientada, a rosa ameaça em levantar seus espinhos e afasta-lo imediatamente de sua presença; afinal, como um jardineiro se atreve a toca-lo enquanto estava dormindo? Enfurecida pela audácia, a rosa desperta todos os seus espinhos que ocupavam o quarto. No entanto, no minuto em que perfuraria sua pele e cravejaria seu corpo, algo pegou a rosa totalmente desprevenida ao perceber o vermelho saindo dos braços do rapaz.

De alguma maneira, o Jardineiro já estava terrivelmente machucado.

Suas pernas, seus braços, suas mãos, e até mesmo seu rosto que se aninhava no vaso; como se a rosa fosse uma espécie de tesouro valioso.

A rosa ficou desnorteada com a cena.

Tentando relembrar o que teria acontecido para tudo estar daquela forma, o rosa observou outro ponto que estava lhe passando despercebido inicialmente: seu vaso e sua terra seca, haviam sido trocados. O cheiro do lodo que continha debaixo de seu vaso não existia mais. Nem mesmo a dor que estava sentindo... ah, sim... agora ela se lembrava.

Se virando para o rosto machucado do jardineiro, a rosa sentiu um pesar em cada uma de suas pétalas ao perceber o quanto estava equivocada.

— Por que você cuidou de mim? - Ela questionou, querendo se afastar do jardineiro que segurava seu vaso com tanta determinação. - Por que você fez isso?! - Ela diz cada vez mais alto, acabando por despertar o jardineiro que acorda num susto ao pensar que havia machucado a rosa. - Eu não consigo entender... Por que cuidou de mim?

Entendendo a aflição da rosa ao vê-lo daquela forma, o jardineiro sorriu, exausto, acariciando uma de suas folhas em meio ao bocejo, quando disse de maneira carinhosa:

— Porquê eu quero cuidar de você.

A rosa o encara, indignada.

— Como pode dizer isso depois de eu ter te machucado? - Ela questionou novamente, fazendo o jardineiro se afastar um pouco, com um semblante entristecido no rosto.

— Você estava mais machucada do que as minhas mãos estão agora. - Ele afirmou, fazendo a rosa se calar por alguns segundos. - Está tudo bem, eu não me importo em me machucar um pouco se for para garantir que você ficará bem.

A rosa negou, comentando:

— Deveria ter saído deste quarto no primeiro momento em que te machuquei.

— Não sou capaz disso. - O jardineiro declarou, sorrindo mais aberto enquanto a rosa o encara sem entender. - Acho que me apaixonei por você desde a primeira vez em que te vi!

— Que besteira está dizendo? - Ela retrucou, surpreendida por sua sinceridade.

O jardineiro sorriu ainda mais largo.

— Estou dizendo que não quero sair do seu lado. E que mesmo que não goste da minha presença, ficarei aqui até que melhore.

Soltando um suspiro, derrotada pela gentileza do jardineiro, a rosa fechou os seus olhos, soltando mais de 10 pétalas que caem sobre a mão no jardineiro que a olhou espantando.

— O que está fazendo?

Abrindo os olhos, a rosa indagou:

— Se vai ficar do meu lado, isto significa que eu também tenho que cuidar de você. - Ela prosseguiu, envergonhada demais para encara-lo após sua confissão. - Durma aconchegado nas pétalas, não nos meus espinhos.

Alegre e feliz, o amável jardineiro sorriu para rosa, completamente imerso em sua felicidade pela aceitação da pequena flor;— sabendo que dali em diante, jamais ousaria sair do lado da marrenta rosa. 



Fim.






A ferida de uma Rosa, e a paixão de um JardineiroOnde histórias criam vida. Descubra agora