Mestre ou Escravo?

Reencontros e Despedidas

            "Tivô! Tivô Ford!" – gritou Dipper se atirando nos braços de Stanford, enquanto lágrimas corriam por seu rosto. O homem mais velho o estreitou nos braços e o beijou no rosto, murmurando:

           "Dipper... meu pequeno e precioso Dipper! Finalmente eu lhe encontrei, meu amado sobrinho!" - seus olhos se inundaram de lágrimas.

           O abraço durou um longo tempo. Como se ambos não acreditassem que estavam juntos, novamente. A saudade era tanta que não queria mais se afastar... Ford acariciou o rosto de Dipper e enxugou-lhe as lágrimas. Seus dedos deslizaram por seus longos cabelos castanhos. Ele o pegou no colo e sentou-se em um banco próximo.

            "Eu senti tua falta, meu amado Dipper! Nunca mais vou deixar você se afastar de mim... nunca mais alguém vai nos separar, de novo, eu prometo!"

             "Eu também senti a sua falta... de todos vocês! Eu... eu amo vocês!" – Dipper soluçava.

              "Eu também te amo, meu pequeno! Todos nós te amamos... nossas vidas não eram mais as mesmas, desde que você desapareceu! Você era a luz que iluminava tudo... sem você, a tristeza e o vazio pareciam intermináveis."

            Jack, que assistira a tudo, se afastou um pouco para não perturbar o momento que se desenrolava na sua frente. A cena era tocante e até ele, mesmo sendo um ser desprezível, sentiu uma pontada de emoção. Sabia que os seres humanos eram emotivos e sentimentais. E agora tivera uma clara demonstração disso! Quase podia sentir inveja...

           Estava tão absorto que não percebeu que Lorde Scanor estava ao seu lado. O soberano se inclinou e sussurrou:

           "Muito bem, Jack Caolho! Agora você os levará de volta para seu mundo... e trate de não tentar nenhuma gracinha!" – o Lorde ordenou. "Depois, volte para cá! Creio que nós dois poderemos chegar a um acordo bem satisfatório! Eu seria um tolo se não soubesse reconhecer e aproveitar um talento, bem específico..."

           "Como desejar, Alteza!" – Jack se inclinou respeitosamente e sorriu. "Será feito, imediatamente!"

            Jack se aproximou de Stanford, que ainda abraçava Dipper, e avisou:

            "Creio que está na hora de irmos... posso lhes levar até Gravity Falls em segurança!"

             Ford ergueu os olhos, colocou Dipper sentado no banco e se levantou. Ele concordou com um aceno e murmurou:

            "Só me dê um minuto..." - Ford dirigiu-se até lorde Scanor e se curvou. "Não sei como poderei agradecer a Vossa Alteza por tudo!"

             "Não me agradeça, senhor Pines... Fiz apenas o que um governante justo faria!" – Scanor respondeu.

            "Mesmo assim... não posso deixar de agradecer por ter de volta o meu amado sobrinho Dipper! Muito obrigado, Alteza!"

             "Cuide bem desse garoto! Ele tem um longo caminho para percorrer até chegar ao seu verdadeiro destino!"

            "Eu cuidarei... Dipper será sempre amado e protegido por todos nós!" – Ford fez uma reverência. Lorde Scanor se limitou a sorrir e inclinou a cabeça.

              Ford pegou Dipper no colo e o carregou em direção ao portal aberto pelo Caolho. O rapaz não se mexeu deixando a cabeça encostada em seu ombro. Uma olhada para o governante e então eles entraram no portal e desapareceram.

             Não perceberam uma figura que os observava, com um olhar triste, de uma das janelas superiores...

          

              Depois que Bill deixou Dipper com Lorde Scanor, ele subiu até o segundo piso e entrou em seu quarto. Da janela do aposento, pôde ver o reencontro emocionado. Não perdeu nem um movimento e reconheceu o anão corcunda que acompanhava o Lorde. Bill se lembrava de Jack Caolho, um anão desprezível e trapaceiro... Provavelmente, fora ele o autor da denúncia. Em outros tempos, Bill o faria se arrepender amargamente! Mas, agora nem se incomodou...

            Phironika bateu à porta e entrou de mansinho. Ela se aproximou de Bill e perguntou:

           "Nem vou perguntar como está... já vi que está péssimo! E agora, o que pretende fazer?"

            Bill a encarou e apenas murmurou: "nada..."

            "Não acredito no que estou ouvindo... o grande Bill Cipher está desistindo assim?" – espantou-se ela.

             "O que quer que eu faça, Phironika? Que eu fuja? Seria um erro maior ainda! Não consegui nem pedir perdão a ele... O Conselho já sabe de tudo! Dentro de pouco tempo, serei julgado e condenado! Terei sorte se for condenado a passar alguns milênios na Prisão do Tempo..."

             "Pare de falar assim... você ainda não foi condenado! Eu e com certeza, Scanor também, faremos o que for possível para evitar o pior... a sentença ainda não foi proferida. Podemos reverter essa situação!"

              "Faça o que quiser, Phironika. Eu estarei no subsolo esperando o meu fim..." – Bill se afastou e saiu do quarto sem olhar para trás.

               Phironika estava de queixo caído... realmente, esse garoto tinha mais poder que supunha. Um simples garoto humano vencera Bill Cipher e agora o deixara de joelhos, totalmente derrotado! Phironika não pretendia desistir. Bill era seu amigo, apesar de tudo, e ela era leal aos amigos! Decidiu procurar Lorde Scanor para pedir a ajuda dele com esse problema... Juntos eles encontrariam um modo de salvar Bill, mesmo que ele não quisesse ser salvo!

            Um portal se abriu na floresta, próximo à Cabana do Mistério e duas figuras surgiram: uma baixa e a outra carregava uma terceira pessoa que parecia desacordada... Ford se afastou um pouco e agradeceu ao Caolho novamente pela ajuda.

           "Não foi nada, Ford! Eu lhe ajudei e você me ajudou... devo começar a trabalhar para Lorde Scanor em breve! Como pode ver, eu saí ganhando nessa história!" – o anão respondeu sorrindo.

             "Mesmo assim obrigado, Caolho! Não me esquecerei disso... acredite!"

             "Você tem muitos amigos no Multiverso, Ford..." – Jack Caolho bateu o punho contra o próprio peito, duas vezes. "Também não se esqueça disso!"

             Dizendo isso o anão desapareceu e Ford olhou para Dipper, que ainda estava desacordado, e com um sorriso murmurou:

             "Vamos para casa, meu pequeno... Tem muita gente com saudades de você!"

             Com determinação, Ford se dirigiu à Cabana... sua longa jornada estava quase terminada. Ford sabia que teria muito a fazer, principalmente em relação ao Dipper. O rapaz devia estar traumatizado e precisaria de todo o carinho e o apoio dos amigos e da família. Porém, após ter que reconstruir a cidade e passar quase um ano à procura de Dipper, o futuro parecia mais suave.

             Ele empurrou a porta e entrou. Felizmente, todos estavam dormindo porque já passava da meia-noite. Então subiu até o quarto de Dipper no sótão e o deitou na cama. Após lhe tirar os sapatos, Ford o cobriu com um cobertor e o deixou em paz. O quarto de Dipper fora mantido sempre limpo e arrumado – graças à Mabel!

           Após ir para o próprio quarto, Ford finalmente podia dormir tranquilo... Seria a primeira vez que, desde o ano anterior, que ele teria uma noite de sono completa. Amanhã seria um novo e longo dia...