Capítulo III

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Pov's Manu

É engraçado ver como é o destino. O melhor dia da minha vida se tornou um dos piores apenas com uma frase. Eu não posso perder o Dylan. Cacete, esse moleque é tudo pra mim. Ele é meu baú de segredos, meu porto seguro, meu tradutor (algumas vezes), meu pai nas horas vagas. Ele é meu melhor amigo...

Aquilo me pegou de um jeito que minha tontura voltou de jeito e, se não fosse pelos meninos, eu teria caído bonito e de cara no chão.

- Meu Deus Manu – escutei Shawn dizendo isso antes dele me segurar nos seus braços.

- Temos que voltar com ela pro quarto – disse Dylan, que ajuda Shawn a me pôr na cama novamente.

- Eu vou chamar o Dr. Hayes novamente pra checar ela – disse Shawn antes de sair correndo pelos corredores a procura do doutor gato que nos atendeu.

- Você é um filho da puta do cacete. Nossa Dylan, eu não tenho palavras para expressar o quanto eu te odeio nesse momento – digo olhando nos olhos de Dylan que estão cobertos de lágrimas – Como você tem a puta da coragem de esconder que a merda do seu câncer está no estágio III ? – explodo com ele com o pouco que me resta de forças – Porra, você comeu cocô ?

- Acabou ? – perguntou o desgraçado.

- Explique – se – disse de uma vez para escutar quais eram as desculpas.

- Tudo começou quando fui fazer meu checape e o doutor, ao avaliar meu exame de sangue, notou alterações. Fiz alguns outros exames e fui diagnosticado com a leucemia no estágio II. Eu ia começar a quimio porém estávamos na agitação da faculdade, provas, mudanças, trabalho meio-período, e tudo mais. Acabei adiando o tratamento. Contudo, alguns sintomas pioraram e decidi voltar ao médico. Foi quando eu descobri que o câncer avançou de estágio. Eu entrei em desespero pensando na sua reação, na dos meus pais e eu quase explodi. Mas eu juro que ia contar para vocês após seu aniversário. Só precisava de um tempo para processar e começar a quimioterapia. Agora, você sabe... – explicou Dylan.

A esse ponto não tinha mais lágrimas para chorar. Não entendo como ele conseguiu passar por tudo isso sozinho. Ele realmente é meu pequeno guerreiro. Apesar do nosso desentendimento e minha explosão, eu estou muito grata por ele ter aberto seu coração. Só quem conhece o Dylan sabe a dificuldade que ele tem em se abrir.

Levanto da cama e vou a sua direção para agarrá-lo. Não consigo mais fazer nada a não ser dar o máximo de carinho e atenção que ele merece.

- Só vamos para casa. Prometo cuidar de você pedrinha. – prometi ao meu melhor amigo – Eu não consigo imaginar a possibilidade de te perder Dylan, você precisa sobreviver – desabei novamente. É hoje que eu desidrato.

- Olha pra mim – disse Dylan segurando meu rosto – Você nunca vai me perder. Mesmo eu estando em outro plano de espírito, eu vou estar te assombrando – prometeu Dylan arrancando a primeira gargalhada minha desde aquela notícia.

Arrumo minhas coisas e vamos atrás do Shawn que, na verdade, estava cochilando nos bancos do corredor esse tempo todo. Além de lindo, a desgraça é fofa também.

- Aí ó Dylan. Você é o culpado pela demora. – acusei o cabeçudo antes que ele falasse algo de mim.

- É né, porque fui eu que desmaiei em cima do Shawn por desnutrição, sua cabeçuda. – devolveu ele. Só não bato nele porque estamos no hospital.

- Meu Deus, vocês estão brigando já ?  - perguntou Shawn que acabou acordando por conta do nosso escândalo. A vergonha meu Deus.

- Meu Deus, desculpa Shawn. Não queríamos ter te acordado. – disse me desculpando – Aliás, muito obrigada por tudo que você fez hoje que, apesar de todas as descobertas, foi um dia inesquecível.

- Que nada, eu fico muito feliz de fazer esse tipo de surpresa. E pode contar que esse dia está gravado nas minhas memórias também. – confessou Shawn – Tá tudo bem com você ? Seu rosto está ficando vermelho. – afirmou Shawn tocando nas minhas bochechas.

Misericórdia, eu já estava corando por conta do contato visual. Agora o bendito resolve tocar no meu rosto. Se alguém passa, certeza que vão me confundir com um tomate da feira. Ou o Caveira Vermelha da Marvel. Tenha piedade de mim Senhor.

Pov's Dylan

Jesus, se eu ficasse mais um pouco ali naquele corredor, eu começaria a pegar fogo porque eu deixei de ser vela faz muito tempo.

- Gente, só avisando que tenho hotéis pela redondeza. Vou pedir um táxi, ok ? – avisei a eles e saí andando antes que o tomate ambulante me atacasse.

Graças a Deus tinha vários taxis na porta, entrei no primeiro que vi e fui para a casa.

No caminho fui refletindo como minha vida mudou desde a minha chegada em NY. Tenho uma casa, estou morando com uma mulher que não está nas melhores faculdades mentais, mas que amo, estou me formando numa boa faculdade e tenho câncer. Que final merda. 

De acordo com o doutor, tenho grandes chances de reverter essa situação agora que comecei o tratamento. Além disso, estou na fila para a transplante de medula óssea. Quem sabe eu não dou sorte.

Não demora muito para que eu chegue em casa. Vou direto para o banheiro tomar meu banho. Após isso, faço um lanche e, finalmente, vou dormir.

Algumas horas depois...

Estava no melhor do sono, até que a Manuella entra em casa como se fosse uma fugitiva da Interpol. Sobe as escadas igual uma cavala e arromba minha porta. Quando eu digo que ela não está sã, as pessoas não acreditam em mim.

- Você não acredita no que rolou – diz a fugitiva do sanatório.

Lá vem bomba...


Dupla Parada Dura (revisada)Onde histórias criam vida. Descubra agora