Anjo das sombras | Livro 2: Mistérios de Cambridge

Capítulo Um

Victor Decker:

Viver imerso no mundo da magia era uma tarefa árdua, repleta de desafios e perigos. No entanto, essas experiências moldaram meu entendimento de uma lição vital. Entre as fadas, essa lição era clara como o cristal: nunca aceite qualquer oferta de comida de um feérico, e, mais importante ainda, nunca, sob nenhuma circunstância, faça um acordo com eles usando seu nome.

Claro, haveria momentos em que simplesmente não teríamos escolha, como foi o meu caso. Às vezes, nos víamos encurralados, sem opções, e tínhamos que fazer um acordo para sobreviver ou ajudar alguém que se tornara querido para nós. Um exemplo disso aconteceu quando o rapaz que estava prestes a me ajudar a descobrir quem estava tentando me sequestrar acabou sendo sequestrado. Nessa situação, você precisa persuadir uma fada que ostenta brilho em todas as suas roupas a ajudá-lo a encontrar e resgatar seu amigo, em vez de mantê-lo preso em sua luxuosa casa para sempre. Negociar essa ajuda com as fadas não era tarefa fácil, e sempre havia um preço a pagar por seu auxílio, pois as fadas adoravam barganhar de sua própria maneira. Você tinha que escolher suas palavras com extrema cautela ou acabaria em um contrato com uma fada, e uma vez feito, não havia como voltar atrás, a menos que estivesse disposto a enfrentar consequências desastrosas. As fadas eram mestres em cobrar suas dívidas, mesmo que levasse anos, pois o tempo não significava muito para elas.

Assim, me encontrei caminhando na área em frente a uma floresta de Nevernever para cumprir minha promessa, enquanto desejava intensamente poder voltar no tempo, quando eu era apenas um adolescente normal. No entanto, quando tomei a decisão de descobrir a identidade da pessoa que queria me sequestrar, não havia como voltar atrás. Se eu tivesse olhado para trás naquela época, talvez tivesse perdido minha sanidade e desejado retornar à minha casa, fingindo que tudo o que estava acontecendo era impossível.

Agora, estava ali, ao lado do Príncipe Caleb, o segundo filho do Rei da Corte das Sombras, um mestiço em busca de seu lugar no mundo. Dias atrás, quando nos conhecemos, ele me ofereceu sua proteção como uma espada. Assim, tivemos que confiar um no outro quando Léa, uma fada autointitulada como a Rainha dos Exilados, nos lançou no centro da cidade de Cambridge, deixando-nos com uma missão urgente.

Léa proclamou com seu brilho extravagante em suas roupas: "Prioridades primeiro. Se desejam encontrar uma das criaturas, devem localizar um Trod que está desequilibrando o mundo mortal. Parece que a criatura é atraída por lugares com magia do reino das fadas ou por mestiços." Suas palavras foram seguidas por um leve derramamento de glitter de suas vestimentas.

Os Trods eram os caminhos das fadas entre o mundo real e o Nevernever, portais diretos para a terra das fadas. Eles podiam estar em qualquer lugar, em qualquer porta: uma antiga cabine de banheiro, o portão de um cemitério, a porta do armário de uma criança. Ir a qualquer lugar do mundo através deles era possível, desde que se soubesse qual Trod usar. No entanto, atravessá-los era uma questão diferente, já que muitas vezes estavam guardados por criaturas desagradáveis deixadas pelos feéricos para evitar visitantes indesejados.

Enquanto passávamos pelo portal de Léa, a cidade assumiu uma aura sombria, como se estivesse prestes a revelar fadas sombrias em busca de vingança ou de uma oportunidade para me utilizar novamente. Um vento gélido sibilou entre os prédios, quase como se estivesse implorando para que fugíssemos, e eu tremi involuntariamente.

Caleb segurou minha mão e me puxou para si, rapidamente nos afastando do beco de onde emergimos. Num piscar de olhos, um cavalo materializou-se sob nós. Caleb habilmente preparou a sela e as rédeas e, sem perder tempo, começou a correr.

— Segure-se firme— ele me alertou, enquanto eu envolvia meus braços em torno de sua cintura. Caleb acionou os calcanhares, fazendo o cavalo disparar à frente e minha cabeça ser jogada para trás.