Capítulo Nove

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Victor Decker:

Havia escurecido do lado de fora desde que emergimos das sombras, e uma passagem se iluminou com tochas, projetando estranhas sombras dançantes nas paredes enquanto Caleb me guiava por uma escadaria de pedra. Os degraus eram antigos, côncavos no centro, onde gerações de pés os haviam desgastado. As paredes eram ásperas, e as pequenas janelas que costumavam existir em intervalos agora se abriam para o vazio, sugerindo que estávamos nos subterrâneos.

— Caleb — chamei, meus nervos à flor da pele devido à escuridão e ao silêncio. — Você pode me dizer para onde estamos indo?

— Enquanto você estava fora com Caroline, estive fazendo contatos com os feéricos da cidade. — Caleb resmungou. — Encontrei um ótimo lugar para obter todas as informações que precisamos.

Ele parou diante de uma parede de pedra e tocou-a. Um letreiro pendurado acima da porta surgiu, com uma mancha vermelha na placa, que eu preferia pensar que fosse tinta. De qualquer forma, esperava que não fosse sangue. Caleb abriu a porta, revelando um longo e estreito corredor, e depois se virou para mim.

— Este lugar é frequentado por uma multidão. Não fale com ninguém suspeito e esteja atento às pessoas ao nosso redor. — Caleb avisou.

Entramos em um corredor estreito, com ele à frente. O beco levou-nos a um pequeno pátio onde uma cascata suja escorria. Entramos em uma sala pequena, escura e vermelha. Das sombras, ao longo da parede rosa, algo enorme, verde e com olhos vermelhos brilhantes e ferozes, repleto de dentes, revelou-se como um troll feminino. Fiquei desconfiado e dei um passo para trás; meu último encontro com um troll não tinha sido nada fácil nem seguro para mim.

— Por que um feérico trouxe...— Ela resmungou, bloqueando nosso caminho. De perto, ela media cerca de oito pés de altura, com pele verde-pântano e longos dedos equipados com garras. Seus olhos vermelhos redondos me observaram de sua impressionante altura. — O que é esse rapaz? Ele tem um cheiro estranho, diferente. Não gosto de ficar confusa.

— Ele está comigo. — Caleb falou, movendo-se rapidamente para bloquear a visão do troll. — Ele não representa ameaça, você pode confiar em minha palavra.

As narinas do troll se dilataram enquanto ela nos olhava novamente, suas garras prontas ao seu lado. Ficamos parados, e eu notei que as sombras sob o troll começaram a se mover. Toquei no ombro de Caleb, que me olhou relutantemente, mas diminuiu sua aura, então parou.

A enorme feérica finalmente recuou.

— Claro, vocês podem passar. — Ela murmurou, apontando com sua garra negra e curva para mim. — Mas se forem atacados ou algo der errado, não venham choramingar.

— Nós vamos lembrar disso. — Respondi, passando por ela com Caleb seguindo atrás de mim.

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De todas as possíveis decorações sinistras, o lugar acabou por ser nada mais do que um bar e uma boate, embora certamente atraísse uma multidão um tanto macabra. As paredes eram revestidas de tijolos escuros, e as luzes vermelhas lançavam um brilho carmesim sobre tudo. Uma música alta de uma banda de rock ecoava pelo ambiente. Havia humanos sentados no bar, segurando seus copos, mas a minha atenção estava totalmente voltada para os seres inumanos presentes ali. Goblins, sátiros, phouka, redcaps, e até um ogro solitário, no canto, que bebia diretamente de um jarro de um líquido roxo escuro.

— Achei que os humanos não soubessem sobre este lugar. — Comentei, e Caleb apenas balançou a cabeça.

— Eles sabem que é um lugar muito secreto, mas o glamour ajuda a esconder a verdade, embora você consiga ver além disso. — Caleb respondeu. — E há uma regra de ouro aqui: ninguém inicia brigas com nenhuma das partes.

Anjo das sombras | Livro 2: Mistérios de CambridgeOnde histórias criam vida. Descubra agora