the paralysis

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"E sempre que você sentir dor,
Ei, Jude, contenha-se,
Não carregue o mundo em seus ombros" -The Beatles

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Mais uma manhã chegava aos céus e Louis assistia de seu sótão pelo simples fato de não conseguir dormir até seu despertador finalmente tocar. Minuto a minuto o dia vinha ganhando forma e devagar o sol ia se acendendo para anunciar mais uma manhã maçante para o jovem garçom. Havia sido mais uma noite agitada, na qual Louis acordara de súbito, sentindo todo seu lençol molhado de seu suor de agonia. A morte assombrava seus sonhos todas as noites, com raras exceções. Aqueles olhos que suplicavam por ajuda, por piedade, jamais saíram de si. Embora não conseguisse decifrar quem eram, tudo aquilo parecia tão real, que sentia em sua pele a dor desenfreada de quem havia ficado, de quem havia perdido um amor.

Com seu café expresso em mãos, Tomlinson partia para mais uma jornada diária, com a certeza de que chegaria à casa com algo fora de seu devido lugar. Desde o dia seguinte em que dormira na casa de Zayn, aquilo se tornara uma rotina. Todos os dias algo seu aparecia em outro lugar, em outro cômodo. Louis sentia-se uma piada ali, sentia-se uma resistência burra, lutando contra algo que nem ao menos podia visualizar. Por vezes, pensou em desistir de tudo aquilo e voltar para debaixo da barra da saia de sua mãe. Só queria chorar no colo de Jay e a pedir que lhe dissesse que tudo ficaria bem, que tudo se encaixaria, mas não era uma opção. Sentia a vida adulta lhe puxando cada vez mais.

Como desgraça pouca é bobagem e a vida adorava brincar com a cara de Louis, não avançara nem 5m de seu campus e alguém lhe derrubara o café na blusa branca, tornando humor mais amargo que a bebida que impunha em mãos, anteriormente. Rezaria para que aquele dia voasse o mais depressa possível. Assistindo acordado aos seus três tempos de aula do dia, o rapaz trocara sua blusa por seu inseparável casaco verde exército e correra para seu trabalho, chegando com o horário apertado, coisa que detestava. Não sabia determinar qual expediente lhe cansava mais, a faculdade ou o restaurante, mas sentia seu corpo à beira de um colapso, uma boa noite de sono lhe fazia muita falta.

Tudo que o garoto mais desejava no momento, era que aquele relógio batesse 18h. Os ponteiros pareciam estar travados no mesmo horário. Estáticos, não se moviam, aumentando, assim, a ansiedade de Louis. Queria chegar à sua casa e passar pelo menos meia hora em sua banheira antiga, com água quente caindo insistentemente em suas costas, mas ainda não se passava das 16h, e pra completar, um enorme temporal começara a se formar do lado de fora. Chegaria encharcado em casa, Tomlinson concluíra, pois havia gasto o único dinheiro que levara no dia, com lanches na faculdade, sendo impossibilitado de pedir um carro por aplicativo ou ao menos um táxi de rua. "Podia ter esperado o horário do almoço, merda!" foi justo o que lhe viera na cabeça ao observar o dilúvio já inundando a rua, enquanto servia mais uma mesa e sentia suas pernas doloridas de tanto ficar de pé.

Após notar que aquele forte temporal não pararia tão cedo, Louis começara a implorar ao relógio que dessa vez, demorasse à passar os minutos, retardando seu banho de chuva forçado, mas como tudo sempre parecia dar errado para ele, logo era 18h. Não tinha outro jeito, a não ser pegar sua bike, aceitar seu fardo da noite, e ir para casa.

-Não quer esperar essa chuva diminuir, meu bem? -Dona Laura colocara a mão quentinha sobre a bochecha gelada do garoto, que olhava para a porta, tentando criar coragem.

-Acho que não vai diminuir tão cedo, dona Lau. Melhor eu ir para casa, estou exausto. Vejo a senhora amanhã, certo? -Disse pondo seu capuz e depositando um beijo na testa da adorável idosa. Tomlinson saíra do restaurante e logo tratara de destrancar a corrente a que sua bicicleta ficava presa, para então subir nela, e começar a pedalar para casa. Os céus já estavam completamente escuros, repletos de nuvens carregadas e parecia que toda aquela água era infinita. O garoto tentava pedalar depressa, mas precisava tomar cuidado com os carros que o cercavam, pois certamente estariam com seus vidros embaçados naquela altura.

Not so lonely [L.S] Onde histórias criam vida. Descubra agora