Capítulo 4 (Nigel)Doze Anos Antes
"Feche os olhos e eu te beijarei
Amanhã sentirei sua falta
Lembre-se que sempre serei verdadeiro
E quando eu estiver longe
Vou te escrever todo dia
E mandar todo meu amor pra você
Vou fingir que estou te beijando
Os lábios dos quais sinto falta
E torcer pra meus sonhos virarem realidade"(All My Loving, The Beatles)
Depois de nosso embaraçoso tropeço na escada, convidei Mily para me acompanhar até a pista de voo, foi a primeira e única vez que levei uma garota pra me ver saltar.
Descobri tarde demais pra falar a verdade que Mily era filha do meu superior encarregado e pude assistir como o homem era super protetor com a sua primogênita.
O nosso primeiro beijo aconteceu semanas depois, numa sorveteria, com a irmã caçula dela nos chantageando a todo momento, um beijo em troca de bolas extras de sorvete.
Não foi uma namoro fácil, brigávamos com frequência, Mily era ciumenta e eu não era um namorado muito presente, gostava de sair com os meus amigos e ela era uma garota presa em casa pelos costumes rígidos do pai.
A matemática dos dias de namoro dava muito pouco tempo juntos para muitos separados, não havia ainda tido sexo entre nós e eu sentia que o meu corpo estava cada dia mais exigente nesse aspecto.
Mily era sonhadora, eu sempre fui pé no chão, a não ser quando estava voando, não combinávamos, mas tínhamos nos apaixonado e queríamos que desse certo entre nós, forçamos a barra, deveríamos ter desistido quando ainda havia tempo.
Eu frequentava festas loucas, bebia, experimentei drogas, Mily cantava ópera, fazia balé, era delicada, com seu cabelo loiro e olhos azuis de anjo, sua luz acabou sendo corrompida pelo meu lado escuro.
Nossa primeira vez no sexo foi num show de rock, foi assim que perdeu a virgindade, Mily se apaixonou aí por rock in roll, mas ela foi além, se apaixonou pelo o meu jeito de viver, experimentou álcool e drogas e se perdeu num beco sem saída pra nós dois.
Capítulo 4.1 (Nigel)
Doze Anos Antes
"Olhei até ficar cansado
De ver os meus olhos no espelho
Chorei por ter despedaçado
As flores que estão no canteiro
Os punhos e os pulsos cortados
E o resto do meu corpo inteiro
Há flores cobrindo o telhado
E embaixo do meu travesseiro
Há flores por todos os lados
Há flores em tudo que eu vejo
A dor vai curar essas lástimas
O soro tem gosto de lágrimas
As flores têm cheiro de morte
A dor vai fechar esses cortes"(Flores, Titãs)
As vezes não há forma melhor de salvar alguém que amamos do nosso mundo complicado do que desistir e virar à página.
Em um dia qualquer acordei certo disso, deixaria Mily voar por suas próprias asas, porque até então tudo o que fazia era pegar carona nas minhas, e os meus voos estavam ficando cada vez mais perigosos para ela.
Foi um dia difícil, até hoje quando fecho os olhos consigo sentir as suas lágrimas misturadas as minhas, quando a beijei no que seria a nossa despedida.
Todavia o destino não brinca em serviço e a vida sabe fazer as suas travessuras, porque quando virei a página esta não estava em branco, mas sim com Mily bem no topo dela como parte dos meus dias.
Assisti o meu recente passado voltar para o meu presente, sem nada poder fazer a não ser aceitar que eu não era o único a ter uma mancha escura no meu coração.
Porque até mesmo um ser de luz pode carregar sua própria nuvem negra, faz parte do que somos, ninguém é totalmente bom ou ruim.
Somos um misto de ambas, em alguns de nós uma predomina sobre a outra, mas isso não quer dizer que qualquer uma delas deixe de nos habitar.
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🚦🚧 POR FAVOR NÃO LEIA ESTE LIVRO
RomanceJuliet Pólvora é uma autora de romances que por uma decepção amorosa deixou de acreditar no amor. Com dificuldade de escrever seu novo livro, resolve trilhar uma manobra arriscada, buscando reencontrar no seu ex namorado o motivo que a levou um dia...