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 A semana havia passado rapidamente, ao menos para mim. Diversas coisas haviam acontecido durante os últimos três dias, e aquela mudança estava me deixando, confuso talvez, não sei bem como eu me sinto em relação a tudo que está acontecendo. Na cafeteria, Liam está mais falante, me contou sobre seu encontro com um homem misterioso e Elisa está servindo como sua conselheira amorosa, enquanto a mim, bom, eu apenas escuto o que eles dizem. Na faculdade as coisas estão indo bem, surpreendentemente até nas aulas de Jones estou me saindo bem. Já em casa, as coisas não poderiam estar melhores, a alegria de Dália contagiava aqueles cômodos, e nossas conversas noturnas era algo que eu apreciava e muito. Em apenas três dias ouvi diversas histórias de sua infância, o como ela fugia das regras de sua mãe e era acobertada pelos empregados, descobrir detalhes de seu passado me fez perceber o quão diferente a ruiva era de seus pais e o quanto eu estava interessado para descobrir mais sobre ela.

Como todos os dias, o caminho até em casa foi tranquilo. Eu estava ansioso para chegar, sabia que a ruiva estaria a minha espera no sofá com uma xicara de chá nas mãos e um dos meus livros. Estávamos criando uma rotina, que aparentemente não aconteceria naquele dia.

Um carro estava parado na frente de casa, nunca fui chegado a marcas ou modelos, no entanto, o modo como a lataria brilhava com a luz dos postes, soube que era alguém com muito dinheiro. Minha confirmação foi quando vi uma figura musculosa parado na frente da construção, na frente do enorme homem estava Dália, conseguia reconhecer seus cabelos a distância. Aquele era o pai do bebê? Decidi não os atrapalhar, dei meia volta na rua e voltei pelo caminho que eu havia acabado de fazer.

Andei por longos dez minutos até voltar para casa, quando finalmente adentrei o local o carro já não estava mais lá e casa estava no completo escuro. Dália não me esperava no sofá para podermos conversar sobre como havia sido nosso dia.

Adentrei a cozinha atrás da chaleira que ficava sobre o fogão, a ruiva sempre a largava ali para que eu pudesse tomar chá junto a ela, no entanto, não havia nada. Suspirei, deixando minhas coisas na sala e voltando para a cozinha, escolhi comer o resto de macarrão que havia ali. O silencio do cômodo estava me incomodando, não estava mais acostumado com aquilo, nem mesmo Elin havia se levantado para falar comigo.

Suspirei cansado, retirei a blusa que usava e segui para meu quarto. Dália dormia do lado direito da cama – ela havia decidido que aquele era seu lado -, seu rosto não parecia sereno e o sorriso que sempre brincava sobre seus lábios não estava ali. Resisti minha vontade de acordá-la para perguntar o que havia acontecido, quem era aquele cara e o que fez com ela. Deitei-me no meu lado da cama, e dormi horas depois no total silêncio. Naquela noite, eu não ouvi nenhuma história sobre si própria, muito menos ouvi sua voz.

[...]

- Acorde bela adormecida. – Sua voz tomou conta do silencio do quarto – Hoje começa nosso acordo.

- Bom dia para você também.

Abri os olhos, vendo seu belo sorriso. A palpitação voltou em meu peito, céus, como eu adoraria acordar dela maneira todos os dias. No entanto, minha preocupação da noite anterior voltou para meus pensamentos.

- Vamos lá, o que quer aprender hoje? – Perguntei, tentando de todas as maneiras tirar a noite anterior da minha mente.

- Algo fácil e que seja leve. – Sorriu.

- Leve?

- Sim, agora vamos, espero você na cozinha.

Dália sumiu porta a fora, me forçando a levar. Olhei rapidamente a hora no celular, vendo que não se passava das sete da manhã. Cedo demais para um sábado de folga, e para alguém que pouco havia dormido.

Adentrei a cozinha, vendo-a com um livro de receita nas mãos. Dália escolheu uma receita com frutas, não me recordo o nome que deram a receita, no entanto, eu nomearia uma salada de frutas com calda. Não era algo difícil de se fazer, muito pelo contrário, era muito simples, porém não questionei, ela estava apenas no começo.

- O que foi? – Olhei-a sem entender. – Está com uma cara nada agradável.

- Pensei que fosse aprender a cozinhar.

- É o que estou fazendo.

- Você cortou frutas Dália.

- Ainda não terminei minha aula.

A ruiva voltou sua atenção para o caderno de receitas, escolhendo uma torta holandesa para fazer. Seu olhar irônico era algo novo para mim. Oh, eu havia a irritado. Sem pedir ajuda ou me dar espaço para ajudá-la, Dália começou a preparar a torta.

- Pensei que eu a ajudaria a cozinhar.

- Fique quieto Johnny, está tirando minha concentração.

Olhei-a surpreso, desistindo de interferir no que fazia. Dirigi-me para a sala, me acomodando no sofá com o celular em mãos. Me aproveitaria daquele momento para estudar um pouco mais, precisava me manter ocupado ou pensaria demais sobre aquele homem.

- Bom dia querido.

- Bom dia mãe.

Levantei os olhos rapidamente, vendo-a sair de seu quarto ainda com seu pijama. Me alegrei ao perceber que ela não trabalharia hoje, Elin precisava de um descanso.

- Dália está na cozinha?

- Sim, e eu acabei de ser expulso de lá.

- O que você fez?

- Nada.

- John.

- Eu realmente não fiz nada mãe.

- Mentiroso. – A aparição de Dália nos assustou. – Seu filho disse que fazer uma salada de frutas não é cozinhar.

- Johnny!

Me mantive calado, não estava querendo arrumar confusão com nenhuma das duas. Elin dividia os olhares entre nós, esperando que alguém falasse primeiro. Voltei minha atenção para o celular em mãos, precisava terminar o que estava fazendo.

- Me mostre o que fez querida. – Elin quebrou o silencio do cômodo, seguindo a ruiva para dentro da cozinha novamente.

Após terminar de estudar, o peso na consciência me atingiu, eu não deveria ter falado daquela maneira para ela. Joguei-me para trás no sofá, deixando minha cabeça descansar sobre o encosto. Me mantive ali até o celular vibrar em minha mão, o que era estranho para mim.

[Liam] se não tiver nada para fazer (o que sei que não tem, afinal é seu dia de folga) poderia vir me ajudar?

[John] O que você precisa?

[Liam] Chamei Elisa Campbell para me ajudar.

[John] com dificuldade de lidar com ela?

[Liam] Sim.

[John] tudo bem, me mande a localização.

Segundos depois a sua localização apareceu em minha tela, trinta minutos até sua casa, ótima maneira de começar o dia. Levantei-me do sofá, disposto a trocar de roupa, o tempo do lado de fora estava péssimo. Peguei a blusa mais quente que eu tinha, vestindo-a rapidamente, conferi meus bolsos, pegando o necessário para sair de casa.

- Pensei que estivesse de folga hoje.

- E estou, mas um amigo me pediu ajuda.

- Ah.

Virei-me para a ruiva parada no batente da porta, analisei seu rosto sem expressão. Ela certamente havia percebido que eu a lia, e passou a se manter neutra.

- Tudo bem?

- Sim.

Conferi o horário no celular apenas para não a encarar, não sabia o motivo, no entanto, sair de casa estava sendo difícil com ela ali. Respirei fundo, guardando o aparelho no bolso da calça moletom cinza que eu usava. Passei por Dália, sentindo meu coração doer levemente. Mas que merda estava acontecendo comigo? Antes que eu pudesse desistir da ideia de ir até Liam, sai de casa. Caminhar me ajudaria a pensar e lidar melhor com as coisas.

Um amor de outonoOnde histórias criam vida. Descubra agora