Parte II - Widowmaker

466 58 27
                                    

O relógio marcava 20 horas, o céu estava escuro, sem nuvens, o ar úmido e pesado. Do alto de um hotel, o gatilho foi acionando, abrindo caminho sem hesitação pelo cano do rifle de precisão, até a cabeça do alvo em movimento. Segundos após o corpo cair inerte, a autora do disparo, inicia o desmonte da arma de forma calma e mórbida, observando a direção onde seu alvo estava caminhando alguns instantes passados. A rua não estava cheia quando o tiro ecoou, entretanto, em poucos minutos a aglomeração em volta do corpo começou a se formar. O primeiro momento costumeiramente era correria, as pessoas sempre achavam que era algum tipo de tiroteio ou assalto, quando percebiam que havia apenas um alvo e já tinha sido eliminado, aglomeravam-se como mariposas em volta da luz. Estava mais que acostumada com seu trabalho de ceifar as vidas que se tornaram inconvenientes, a adrenalina não cegava mais seus sentidos, tornou-se apenas instinto e um leve metodismo. Gostava de ser chamada "WidowMaker", já que a maioria de seus alvos eram homens casados e desprezíveis, exercia seu trabalho como assassina de aluguel com maestria e sem remorso. Nunca sendo preciso mais que um disparo para que o alvo fosse eliminado, tendo aprimorado sua técnica para que nunca fosse encontrada nenhuma pista sobre sua real identidade ou que a ligasse a assassinatos.

Após arrumar todo seu equipamento na mochila, curvou-se em direção ao parapeito do prédio e tomou um lufada de ar. Em verdade, não precisava de todo esse cuidado, sua fama já era conhecida, sabiam quando um assassinato tinha sido obra sua, acima de tudo, as autoridades sabiam que nunca conseguiriam fazer ligações que a encontrassem. O alvo dessa vez não era ninguém importante à primeira vista, ninguém que geraria mais que 15 minutos no noticiário da manhã, um contador qualquer, essa era a vida civil que o nojento apresentava entretanto, a verdade que não passava de um maldito pedófilo que tentou abusar da enteada, trabalhos assim davam até gosto de serem realizados, o avô da menina não hesitou em pagar com antecedência.

Não matava alguém realmente importante ou influente alguns meses. Chefes de Estado estavam muito comportados em uma falsa campanha de amizade entre nações, tentando evitar a qualquer custo uma terceira guerra, empenhando-se em encontrar e deter os autores dos atentados que estavam ocorrendo pelo mundo ultimamente, ninguém assumia a autoria dos crimes, nem mesmo os grupos mais radicais. Assim, a renda atual de Kara, estava focada em tirar a vida de aparentemente "zés ninguém", que metiam seus narizes estúpidos onde não eram chamados e malditos pervertidos, hoje obviamente não foi diferente.

Já na entrada da escada de emergência, sem nenhuma pressa, descia perdida em devaneios sobre o que faria com o dinheiro da morte da noite. Nada parecia lhe chamar atenção à primeira vista, nem viagens luxuosas naquele momento despertavam o interesse da mulher. Sirenes começavam a soar ao fundo, chamando sua atenção, não precisava se preocupar com interrogatórios, era apenas uma hóspede que estava em seu quarto assistindo qualquer porcaria na televisão, apenas precisaria chegar em seu quarto antes dos funcionários do hotel. Sempre procurava se hospedar em lugares que não chamassem muita atenção e pudesse ir embora com facilidade. Um hotel de médio orçamento que mal teve a altura correta para que Kara pudesse montar seu equipamento de forma segura, com uma fachada branca que já estava começando a ficar suja.

Fingindo ser apenas uma mochileira, apresentou documentos falsos, alegou estar de passagem pela cidade e precisava de um quarto por duas noites. Até pediu recomendações de pontos turísticos, para que não levantar suspeitas. Entrando no corredor de tom pastel, olhou em volta não encontrando nada mais que portas fechadas e o marcador do elevador movimentando-se. Não se atrevia a reservar quartos no último andar, era erro de principiante estar tão próximo do lugar onde se posicionaria. Chegou em frente de seu quarto, uma porta de madeira antiga que parecia ter sido pintada recentemente, o cheiro de tinta barata exalava levemente do material, o número em um dourado fosco e com lascas saindo denunciava que não havia tanto cuidado com o lugar de fato.

The Dead EndOnde histórias criam vida. Descubra agora