Parte IV - A briga

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Haviam-se passado quatro dias desde que Luthessa e eu chegamos no esconderijo. A situação do lado de fora piorava a cada dia, explosões podiam ser ouvidas ao longe, gritos inundavam as ruas. A cidade parecia ter passado por uma demolição, havia carros virados na rua em que estávamos escondidas, janelas quebradas, paredes pichadas, placas derrubadas. A maior parte do tempo, não se via ninguém nas janelas, as poucas que sobraram, estavam trancadas e o interior se escondia com cortinas ou pedaços de madeira, entretanto, as vezes podia vislumbrar alguém espiando por entre as brechas, assim como eu, tentando averiguar a situação.

Durante as manhãs, não acontecia muita coisa, à tarde e à noite, eram motivos de apreensão. Grupos encapuzados saiam as ruas e incitavam mais violência, gritando palavras de repúdio ao governo, seguiam em uma marcha violenta, não observei violência contra pessoas, entretanto tenho quase certeza que havia. Em algumas noites, os números de mortos eram informados aos gritos por alguém em um local próximo, para gerar mais revolta. Dentro do prédio, a situação também não estava nada boa, Luthessa passava 24 horas irritada e apreensiva, seu passatempo era soltar comentários maldosos sobre meu papel em relação a ela. Boa parte das vezes, eu ignorava, tentando manter minha cabeça ocupada da melhor forma possível, trabalhava a noite, já que era quase impossível dormir, tentando economizar o máximo de bateria em meu notebook, só o utilizava para necessidades; mandava também mensagens para Alex, mentindo sobre o trabalho, fazendo-a ficar tranquila. Durante a manhã e à tarde, tentava dormir, entretanto, o chão do lugar não era a melhor cama, principalmente devido aos machucados que tinha em meu corpo. Agora já estavam um pouco melhores, todavia ainda era bem doloroso alguns movimentos.

Encontrei um maço de folhas em um dos armários da cozinha, não tinha certeza se eram de Luthessa, porém, os peguei mesmo assim, decidi fazer um diário de tudo que estava acontecendo, pensando que poderia utilizá-lo quando retornasse aos Estados Unidos. Estava sentada no canto do apartamento, contando os mofos do teto, quando ouvi Luthessa gritar no quarto, levantei e me direcionei para o cômodo rapidamente, encontrando a mulher indignada olhando para a tela do notebook.


— Cortaram a eletricidade da cidade —. A mulher olhou para mim quando adentrei no local.


— Como assim? —. Perguntei procurando esclarecimentos, pois não era como se tivéssemos algum tipo de energia dentro do apartamento, sobrevivíamos no escuro por meio de um par de velas e algumas lamparinas a bateria.


— A cidade foi isolada. Cortaram os cabos de energia para que os grupos insatisfeitos se rendessem por falta de comunicação —. Luthessa empurrou o notebook para longe, levantou indo em direção a janela.


— A cidade vai desmoronar... —. Comentei em tom baixo.


— A cidade já está desmoronando, Kara Danvers, não sei se você percebeu! Já estamos presas aqui há dias —. Respondeu em tom irritado.


— Mal havia notado, querida Lulu, sua companhia é tão agradável —. Revirei os olhos, enquanto a mulher parecia ficar mais irritada. "Lulu" foi o apelido que dei a Luthessa na segunda noite, a mesma quase me esfaqueou com a faca de cozinha ao ouvir, repetindo que não éramos amigas para eu chamá-la assim, desde então, evito, apenas pronunciando-o quando quero provocá-la.


— Não me chame assim —. Advertiu secamente.


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