Mãos amarradas junto á árvore, flechas miradas em suas direções como se pudessem defender-se, homens de tangas, peles avermelhadas, aos gritos e exibindo ações agressivas e gestos aterrorizantes.
-Ia! Iaka, iaka, ia! Iaka! – Eles os rodeavam para causar pavor, mas não era possível causar mais do que ele já sentia. O medo embrulhava o estômago do pobre Calebe e fazia seu coração bater à 150 ou mais se pudesse calcular, parecia que o coração iria arrombar o peito batia tanto que o som chegava aos ouvidos do ancião que estava consigo amarrado, Sr Donald, que tentava acalmá-lo quase que implorando para ele confiar em Deus, e o pobre acólito olhando para aquela situação, pensava no quanto tinha razão, pelo que havia avisado para que não fossem naquele lugar e o pânico que o consumia como normal de qualquer homem que se sente a beira do mar da morte, fazia-lhe optar ao que aos seus olhos achava um absurdo, orar para que naquela noite a lua fosse um QUARTO MINGUANTE.
Calebe o pobre acólito teve um pesadelo, a princípio eram homens depois pareciam ser outra coisa, talvez feras ou bestas, animais ferozes, caçando um Javali e ele olhando como perseguiam o pobre animal ria-se dele. Ainda no sonho parecia estar gostando do cenário da tal criatura sendo caçada, que por sinal foi alcançada mas parece que a carne do javali não satisfez aqueles seres estranhos e então viraram-se para ele quebrando-lhe o sorriso, começaram a caçá-lo com os mesmos esforços que investiram no animal, e houve flechas e lanças, pedras, machados, facas e armadilhas, para piorar tinha seus pés pesados como o natural em todos os pesadelos que envolve perseguição, parecia que quanto mais corria menos avançava e as feras aproximavam-se cada vez mais, e mais, já estava para ser alcançado quando abriu os olhos de forma brusca, interrompendo o sonho que o frustrava, a brutalidade com que interrompera o pesadelo fez com que as imagens ainda retidas em seu cérebro viessem a realidade, e ele viu-as todas desfilando na parede branca do quarto, cobriu os olhos com o lençol e as imagens não lhe saiam da mente, tal facto lhe pôs em gritos por todo o quarto: é uma visão! É uma visão! É uma... Vi-são. Os gritos desesperados acordaram o senhor Francisco que veio apressadamente à correr de toalha, parecia que estava se preparando para o banho, pois saí muito cedo para ir ao trabalho.
- O que se passa rapaz? - perguntou o tio Franci, como era carinhosamente chamado, era um homem muito conservador só uma situação de emergência como um hóspede apavorado precisando de ajuda lhe faria sair de toalha fora de casa.
- Tive uma visão! Eu tive uma visão senhor Francisco – Comunicou aos gritos, preso no entusiasmo.
- Tu sabes que custa-me muito crer nessas coisas rapaz – disse o Tio Franci, enquanto endireitava a toalha que quase ia caindo. Não podes ter um episódio noturno qualquer e chamar de visão – acrescentou.
- Ah! O senhor é meio que cessacionista já desconfiava, mas o que aconteceu comigo hoje prova que sua ideologia teológica, não é tão certa assim - disse o rapaz tentando ser modesto, mas no fundo sentia que devia ser mais absoluto em sua defesa.
- O cessacionismo não é minha ideologia, mas não quero discutir isso, só pare de gritar ainda acordas mais alguém - tendo dito isso foi-se e o jovem Calebe ficou na ideia de ter sido mesmo uma visão.
O senhor Francisco Manuel era o dono da casinha que ele arrendava um quarto e sala apenas, que pagava com a ajuda do Sr Donald que depois de muita insistência conseguiu romper as barreiras do seu orgulho, não ia bem aos negócios, teve mesmo de aceitar, na verdade nunca rendeu tanto e naqueles dias estava pior. Vendia livros na cidade onde vivia, Saurimo, uma pequena cidade no leste de Angola. Cidade não muito estratégica para o mesmo negocio sendo que é desprovida de árduos leitores, o grupo desses subdivide-se em: Alguns que não lêem nada a não ser se houver uma exigência acadêmica; Outros que já terminaram poucos livros sendo que a maioria das vezes só lêem a metade e concentram-se em memorizar algumas partes para depois dizer aos amigos que já leram o livro x ou y; E uns poucos que até lêem, mas vivem emprestando e são receosos ao comprar, esses considerados como reis dos argumentos nos poucos debates que se organizam. A remanescente nesse grupo não chega à média 10% entre a população do munícipio, falo daquele leitor árduo e sério que compra, lê e estuda, esses são mesmo raros se calhar até menos da média que apresentei à pouco.
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LENDA URBANA
Short StoryEsta é uma coletânea de contos, que acredito eu ter conceitos essenciais para a vida. Quanto ao título não é a condicional das temáticas dos contos e sim um manifestar de um desejo do autor. Ou seja, não é o que os contos são, mas o que eles irão de...