Encontrei um caminho sem caminho, os mestres que conhecem bem a arte do aporismo podem explicar o que sinto. Para mim não é necessário que expliquem a origem desta palavra, já sabemos que tudo vem dos gregos, nós os filhos da língua portuguesa não nos é permitido esquecer que o latim e o grego são os pais biológicos da nossa mãe. A bio tem lógica, mas eu em particular recuso-me à uma tal maternidade, ela é muito fraca, suas expressões e palavras não conseguem dizer a realidade sentida, a verdade é que essa é uma insuficiência clara em todas as línguas dos homens, mas existem em outras línguas palavras mais poderosas em relação as outras, por exemplo enquanto eles dizem OBRIGADO nós dissemos NGASSAQUIDILA e a um significado maior nesta palavra para expressar agradecimentos. No fundo a língua portuguesa não se mostrou tão fraca assim, emana dela uma palavra muito poderosa: SAUDADES, que é bem casual por explicar exatamente o que estou sentindo no momento, esta palavra é um recurso exclusivo da língua portuguesa, sendo que não é encontrada em outro idioma, sinto-me neste momento abençoada, tenho ao que chamar as minhas lágrimas, o tormento no fundo deste abismo, a escuridão da minha alma, onde as opções se ausentam, os caminhos se escondem, a esquerda e a direita, o paraíso e o inferno, tudo foi ofuscado da minha mente, nada é visível, nada é alcançável, nada é desejável, pior que escolher a opção errada é estar sem opções, sinto-me no final do túnel de amargura, sem sentidos, sem direções.
Por que ela se foi? – Minha alma rasga-se sem respostas, pergunto as razões ao nada, pergunto ao silêncio, pergunto a solidão e ninguém me responde. Uns dizem que a morte não tem explicação - eu concordo - os médicos biólogos vão dizer o nome da doença que a matou e nem isso explica a razão da sua morte, muitas pessoas já tiveram a mesma doença e não chegaram a morrer, quem nos mata é a morte e não há razões só nos resta chorar, encher as almofadas de lágrimas, e hoje a saudade faz-nos chorar muito mais em relação ao dia do enterro, porque entramos para a vida e descobrimos que ela não está ao nosso lado.
Eu ia batendo a bola e passava entre as pernas, ficava repetindo e repetindo o processo para ver se rompia aquela muralha, tinha de desequilibrá-lo de qualquer forma e encestar a bola, já estava perdendo de forma absurda tanto que até perdia a conta, na verdade não importava o quanto perdia encestar uma vez apenas já ia aliviar a dor da derrota, mas ele era mesmo uma muralha! Eu por outro lado já estava cansada de bater a bola e irritada porque ele não baixava à guarda, era mesmo uma muralha! Daquelas que só derrubam após sete dias dando voltas. Falo do meu amigo, meu melhor amigo, e vocês devem estar a pensar que ele é alto, não! Não é ele que precisa abaixar-se para passar por uma porta, esta sou eu, e quando se trata de basquetebol o clichê básico entre nós não acontece, com ele descobri que nem sempre os altos dão-se bem no basquetebol, era uma vergonha estar a perder com alguém mais baixo do que eu, mas já ia inverter o quadro ou talvez não, nunca iremos de saber o telefone tocou neste momento.
- Alô Pai! – Tive de atender as pressas estávamos passando por situações difíceis e não era prudente ignorar qualquer telefonema, nem o desejo de encestar impediu-me de atender ao telefone – está tudo bem? – Perguntei.
- Não está – respondeu ele com a voz meio hesitante.
- O que se passa? – perguntei com o coração meio apertado rezando para não ser o que estava pensando, e como era! Pois ele disse:
- A Tia Edrul morreu.
A notícia paralisou-me, não disse nada após ouvi-la, nem me lembro de ter desligado o telefone apenas o tirei da orelha, deixando meu Pai dizendo sei lá mais o que... Fui para o quarto deitei-me no chão, estava fresco e frio como todo aquele momento, nada mais importava, ela se foi meu Pai não ia brincar com uma notícia dessas, a realidade caiu sobre os meus ombros, naaaão! – Gritei desesperada. O Nóslinde meu amigo veio consolar-me e segurou-me nos ombros, dizendo o que sempre dizem: A vida é assim! Não entendi como encontraria calmaria naquelas palavras, entender que a vida é assim era exatamente o tormento, olhei-o e o abracei, não, era o que devia ter feito, apenas o olhei e voltei a abraçar o chão frio do quarto estiquei os braços e voltei a gritar: Não! Não, Não pode ser – berrei. Entregando-me à dor que me era estranha, pois minha alma nunca havia experimentado uma dor tamanha. Minha Tia MÃE! Minha Mãe! Não acredito que ela se foi; Na verdade nunca acreditamos que tal coisa pode acontecer até que realmente acontece, as pessoas quando estão vivas, são tão vivas que não dá para acreditar que um dia hão de morrer. Como um ser que fala pode deixar de falar? Um ser que ouve deixar de ouvir? Deixar de ver, sentir! Um ser que ama deixar de amar, como?! Não dá para acreditar! Quando crianças nos diziam que alguém quando morre vira uma estrela, a morte é tão escura que eu passo a descrer desta afirmação. Ela brilhava muito mais! Já tentei consolar-me com as estrelas, e não encontro nelas o brilho que ela tinha, digo tinha porque vi o quanto ela perdeu o seu brilho, a morte não deixou rastos de luz apagou-a completamente, seu rosto estava sem expressão, o corpo magro via-se o esqueleto e podiam-se contar os ossos. Eu olhava parada na porta sem forças para entrar, tentava ganhar forças, mas não conseguia e também o corpo estava rodeado de gente, minha mãe biológica e mais algumas irmãs choravam e faziam promessas, vamos cuidar do teu filho - disse uma. Oh meu Deus! – gritou outra. Muita dor! Aí que dor! - Chegou mais uma que passou por mim deitada na porta, entrou no quarto para chorar ao lado do corpo eu em meio aquele cenário todo perguntei: Já contaram ao mano?
- Sim. Vamos fazer como filho ele tinha de saber - respondeu a minha Tia Etet que tinha o rosto coberto de lágrimas, chorava e gritava sem parar, caminhou um pouco e jogou-se no chão... Aí mana! – Gritou. Eu não conseguia parar de pensar no meu irmão e como ele estava se sentindo naquele momento, sozinho longe da família e ter de receber a notícia da morte de sua própria mãe, no momento minha dor parecia estar a multiplicar-se ainda mais, não sei na verdade o que causava-me mais sofrimento, se era a morte dela ou imaginar como meu irmão estava se sentindo.
Ganhei coragem e entrei no quarto, foi duro ver seu corpo estendido na cama sem vida, olhei para os olhos que estavam semiabertos e deu-me a impressão que queria dizer alguma coisa, mas não disse nada, estava dura e muda, e ela nunca foi de ficar calada, não conseguia acreditar... Como está morta se seu corpo ainda estava ai presente? No momento brotou em mim uma pequena esperança das mais ínfimas que existe, aproximei-me quase que acreditando que era um mal entendido, dizem os médicos que só o coração para de forma instantânea, mas o cérebro morre gradativamente, - será que o encéfalo ainda está vivo? – Pensei. Mas caio sobre mim uma verdade cientificamente aprovada, o encéfalo não permanece vivo após uma hora da paragem cardíaca, entre todas as possibilidades nós não tínhamos nenhuma, já haviam passado mais de quatro horas deste a sua morte e não tinha como ainda estar viva. Isso rebentou comigo, meus pensamentos eram monstros que devoravam meu intimo, meu olhar seco, sem ter como derramar lágrimas, às vezes a dor nos atinge de tal modo que nem forças para chorar temos, sentei num chão qualquer, olhei para o céu e quis orar, mas faltaram-me palavras, então voltei a olhar para baixo inclinando a cabeça, pus as mãos por cima dela e ouvia meu coração batendo e batendo: BUM BUM! BUM! BUM BUM! BUM! – Batia lento meio que apertado, as lágrimas não saiam, parecia que se acumulavam dentro de mim inundando o meu coração até sufoca-lo, por um momento não sentia o mundo, nem a mim mesma me sentia, apenas aquela dor que subtraio o chão de baixo dos meus pés, e até hoje não sei como descrever o resto...
Dois dias antes do funeral meu irmão chegou de viagem, chegou à noite e pela manhã o encontrei sentado na cama, foi uma surpresa o encontrar sorrindo, estava conversando com um amigo, cheguei e o cumprimentei segurando-me para não derreter em choros, ele pediu que eu sentasse ao seu lado e continuamos conversando e chegando alguns outros membros da família, ficamos todos reunidos, ele queria-nos todos ao seu lado, apesar do momento havia uma pequena alegria no ar, os lábios se esticaram para sorrir, uns chegaram até a gargalhar, tínhamos saudades dele e ele também tinha saudades nossas, conversamos e sorrimos, nos atrevendo a viver apenas a alegria daquele momento, a saudade que tínhamos era tanta que vê-lo vez radiar o nosso dia, então sorrimos, sei que foi muito atrevimento mostrar os dentes em meio aos corações quebrantados, mas sorrimos, eu achava tudo aquilo meio estranho, sempre pensei que não iria sorrir em um momento como aquele, então olhei para os rostos e vi nos olhos que a tristeza ainda lá morava, e conclui que éramos almas divididas que estavam a “rir de dor” e entendi naquele momento, que até no tormento e no sufoco, há sempre espaço para um sorriso.
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LENDA URBANA
Short StoryEsta é uma coletânea de contos, que acredito eu ter conceitos essenciais para a vida. Quanto ao título não é a condicional das temáticas dos contos e sim um manifestar de um desejo do autor. Ou seja, não é o que os contos são, mas o que eles irão de...