Capítulo 3 Para a verdade

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I

Ao se acomodar no conforto de sua casa com seu favorito macarrão instantâneo em copo, Hideki ligou a TV para se distrair, no entanto sua atenção não se parava sobre ela. Seus pensamentos fora de ordem estavam tentando entender tudo que havia acontecido naquele curto período de tempo, ou pode-se dizer longo, afinal ficou dois dias lá, dormindo, fato que ele pode confirmou ao chegar em casa.

Enquanto sentado no sofá ele correu seus olhos pelos arredores, a sala era grande, o cômodo não tão mobiliado. Seus olhos pararam por um segundo perante a cozinha que era visível de onde estava, mas logo se voltaram para onde estavam por conta da preguiça.

Quando a ficha começou a cair ele passou a se sentir paranoico. Pensou no que o senhor Yuichi disse, sobre vampiros serem iguais a humanos. Mas isso não encaixava em sua cabeça, como se faltasse uma peça. "Mas vampiros se alimentam de humanos para viver... certo?" e embora tivesse esse pensamento também tinha pleno conhecimento de que não conhecia nada sobre vampiros ou o mundo no qual acabou por ser apresentado. Portanto, certamente não pode deixar de pensar "se eu não tivesse desviado do caminho de casa nada disso teria acontecido" ou "se eu não tivesse tentado resgatar aquele senhor e ido direto para casa..." Pensamentos que logo foram seguidos por um ainda mais incomodo: "Mas no fim estou apenas me lamentando... Patético."

Perdido em pensamentos sua consciência foi se esvaindo ao passar de comerciais ridículos sobre salgadinhos que pareciam totalmente fora de contexto. Ele colocou o copo de macarrão inacabado no chão e se deitou no sofá, as palavras que saiam da tela a sua frente passaram a se tornar estranhas e confusas. Ele se ajeitou melhor e sem perceber começou a fechar os olhos, ainda era cedo, mas ele não sequer percebeu que estava começando a cochilar. Quando a última luz foi se esvaindo de sua visão, ele viu ambos os olhos de Sakura a sua frente, o resto de seu corpo não estava lá, apenas os olhos. Então, ele adormeceu.

De seu ponto de vista ele começou a sonhar instantaneamente. Estava novamente sobre sob aquele céu longínquo, vasto, de um azul muito vivo e nuvens brancas como algodão. Deitado sobre algo que ele ainda não sabia o que então nem fez esforço para olhar. Se encontrava mais lucido dessa vez, não o suficiente para controlar o sonho, faz ao mínimo para interagir com ele. Olhou para baixo e pode ver os grandes campos verdes com montanhas mais a frente e teve uma sensação prazerosa. "Esse é um ótimo lugar... Agradável", pensou.

Enquanto se aconchegava mais sobre aquela pelugem que ele não podia ver, mas parecia conhecer com a palma de sua mão, reparou numa tremulação em sua visão. E olhando melhor reparou estar lá desde o começo, foi então que reparou que estava em chamas, coisa a qual o fez se sentir estranho, o normal era se assustar, mas as chamas não pareciam ameaçadoras. Não estavam quentes, estavam mornas, como raios de sol em sua pele pela manhã. A fonte das chamas pareciam ser a pelugem na qual ele estava deitado e algo que parecia lhe fazer cocegas no topo de sua cabeça.

O fogo não parecia exatamente fogo ao olhar melhor, parecia como uma energia. Chamas que se moviam graciosamente, diferente de algo sendo queimado violentamente, como se na verdade fosse água, sim, a sensação que lhe passava era exatamente essa. "Fogo fluindo como água", um pensamento que se encaixa perfeitamente na visão que lhe estava sendo apresentada.

As chamas começaram a ficar mais forte, de forma que começaram a lhe envolver por completo, como se estivesse sendo queimado. A sensação não era desagradável, no entanto. Tal que parecia que sua alma estava sendo envolvida pela sensação macia da pelugem contra suas constas.

Um som estridente, no entanto, começou a dissipar as chamas. Um som incomodo que não parecia fazer parte daquele lugar.

—Pare. —Disse tentando afastar o som, que é claro não obedeceu.

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