I
Sakura estava deitada na cama de Hideki agarrada com uma camisa que ela pegou do cesto de roupas sujas. O cheiro do garoto que já estava saindo da veste era a única coisa que fazia Sakura se sentir um pouco menos mal desde que não era mais possível o ver.
Quase duas semanas haviam se passado a partir dos incidentes com a encarnação do sofrimento. Com o sumiço dele a gigantesca arvore desmoronou em cima da cidade criando grande estrago e como ela se desfez, não sobrou resquícios físicos do que ali havia acontecido. Toda a destruição foi tratada com um ato terrorista que várias organizações mal intencionadas tentaram atribuir a si mesmas. Mas estava obvio que com um incidente em grande escala como aquele, a única forma de terem atribuído aquilo há um ato terrorista era que houvessem pessoas manipulando a mídia por de trás dos panos.
No entanto, ao que dizia respeito a Sakura, nada daquilo era problema dela. Ela havia ficado na casa de Hideki, mesmo que soubesse que eventualmente iriam notar sua ausência por lá e ela seria obrigada a ir embora. Mas ela não tinha forças para sair dali naquele momento, não desde a última semana difícil que ela tivera. Também não poderia retornar para a moradia da família Hono, sendo assim a única coisa que ela queria fazer era ficar deitada e sentir o cheiro de Hideki em suas vestes.
Ela nunca havia parado para reparar no quarto do garoto, mas agora olhando bem era o esperado, um pouco bagunçado com alguns pôsteres de jogos e filmes que ele gostava. Em um canto havia uma escrivaninha de madeira na qual o garoto provavelmente estudava, ela estava um pouco surrada com alguns cortes. Mesmo assim, chamou atenção de Sakura o suficiente para que ela sentisse uma mínima vontade de se levantar e ir olha-la mais de perto.
Ao chegar na escrivaninha, Sakura passou a mão pela cadeira, a puxou e se sentou de frente com uma boa postura. Ela estava tentando imaginar como Hideki costumava estudar ali. "Pensando bem, ele sempre lia deitado, não é?" pensou Sakura, indicando que a escrivaninha era provavelmente uso exclusivo para deveres de casa escolares e não para estudos em geral.
Ela aproveitou que de alguma forma conseguiu se levantar e desceu para o andar de baixo ainda abraçada com a camisa do amigo.
Chegando lá em baixo, ela passou pela sala, olhou para a televisão e considerou jogar vídeo game pois assim talvez sentisse que estivesse mais próxima de Hideki de alguma forma. No entanto a ideia de jogar sem Hideki com ela, naquele momento também lhe soava como uma maldição. Sendo assim, ela rejeitou totalmente a ideia como se fosse algo tão estupido que nem deveria ter sido considerado para começo de conversa.
Passando pela sala, ela se dirigiu até a cozinha e então a geladeira. Ela pegou o último suco de soja que havia na casa e voltou até a sala onde se deitou parcialmente no sofá. O lugar estava repleto de copos de macarrão instantâneo, embalagens de comida de micro-ondas e caixinhas de suco de soja.
—Você me apresentou a tantas coisas maravilhosas. —Ela disse enquanto olhava para a caixa de suco ainda fechada em suas mãos. Uma lagrima escorreu pelo vale de seu jovem rosto.
Ela pensou em todas as coisas novas que ela havia aprendido desde que conheceu Hideki. Nem todas eram boas, mas ela sempre estava feliz quando estava com ele. Seja em relação há algo simples como comida, ou algum entretenimento popular entre os jovens, nada disso importava desde que estivessem juntos.
Só então que ela furou a caixinha e se pôs a beber o suco. Por ser o último ela o saboreou lentamente, mas antes que chegasse ao fim foi interrompida pelo som da campainha. Aquilo lhe irritou profundamente, ela normalmente não atenderia a menos que Hideki lhe pedisse, ela nunca foi do tipo de que interage com as pessoas sem a necessidade, isso é claro a exceção de Hideki. Ela pensou em ignorar, mas como aquilo poderia lhe trazer problemas posteriormente e principalmente porque ela não queria que nada acontecesse a casa do amigo ela se levantou, foi em direção a porta, bebeu o resto do suco de uma só vez e deixou a embalagem cair no chão.
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Flamma Memorias
Teen FictionUm garoto jogado no meio de um mundo de magia invisível há olhos comuns. Um mundo violento no qual ele está sendo caçado bem em frente as pessoas e ele nem sabe mais se é... humano. Mas seria tudo tão ruim afinal de contas? Não ser humano? Um mundo...