Capítulo 4

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POV. Justin Lennon

Elly Grahan ferrava com meus pensamentos.

Eu não era muito diferente de qualquer outro garoto de dezesseis anos. Fazia o que faziam e agia como agiam. Não buscava garotas, mas depois de um tempo já não as dispensava mais. Não era algo importante ou significativo, só... desperdicei minhas primeiras vezes, e as segundas, bem talvez as quintas e as sextas também. O que fazia sentido, já que em certo ponto da idade, torna-se muito difícil para um garoto oprimir suas vontades. Perderia as contas se precisasse me lembrar de quantas vezes precisei de alívio e de como aquilo era doentiamente viciante quando se tinha uma ou duas garotas muito dispostas a satisfazerem sua vontade.

Eu, obviamente, não olhava assim para Elly. Preferia dormir olhando para a parede, assistir filmes até cair no sono, jogar algum jogo ruim, pois isso evitava esse tipo de impulso. Até então, Elly era linda de morrer e isso eu não poderia negar. Mas ela ainda era apenas a coisa mais surpreendente que já havia visto em toda minha vida. Ela ainda não era... gostosa.

Ao menos não nos meus pensamentos.

Não enquanto eu me recusava pensar que aquele bloco de concreto em minha garganta, que aparecia todas as vezes em que nos encontrávamos, poderia estar associado ao desejo. Não era óbvio que eu estava apaixonado.

Isso foi burrice, mas eu não era ingênuo sobre o amor. Amor não é algo somente para sentir do peito para dentro, é também o que se deseja dali para o externo. É a alma que deseja um corpo. Amor também é carnal.

E eu merecia apanhar até ficar inconsciente por isso.

Merecia porque aquilo era minha culpa. Perdíamos o limite porque quando estávamos juntos éramos livres. Talvez livres demais. Estávamos sempre próximos demais. E, apesar de querer negar, era ela quem me fazia perder a cabeça. Era ela quem me fazia chegar ao limite até recorrer a alguma garota com mais hormônios do que sentimentos. Era ela, e aquele maldito sorriso meloso, que me torturavam todos os dias durante a noite. E era dela de quem eu não conseguia me afastar.

Já era noite, a rotina ainda era seguida a risca dentro de casa, o que me permitiu poucos minutos de solidão, não demorou para que aquela coelhinha entrasse saltitando pelo quarto, já se esparramando no meu peito.

"Justin, você é um nojento desgraçado", pensei.

Meus olhos ardiam só de olhar para ela. Eu realmente queria chorar, e eu não era muito disso. Minha garganta estava estrangulada, minha cabeça mal pensava e tudo o que eu queria era olhar para ela. Mas eu não podia. Não podia ter esse tipo de pensamento com Elly. Não com ela.

— Seus amigos são bobos — a garota entrou no quarto reclamando. — Achei que garotos mais velhos eram tipo... hm, o príncipe da Cinderela.

Eu ri.

Ela é só uma garotinha.

— A vida não é um conto de fadas, Elly — lembrei-a. — Acho que não vai conhecer nenhum príncipe.

— Matthew me achou bonita — comentou em seguida. — Você acha que estou ficando bonita? O papai também acha. E o Robby, mas ele é muito pequeno.

Abaixei o olhar, engolindo a resposta que se formou em minha mente. Então a encarei, talvez tenha sido a troca de olhares mais difícil que já me aconteceu. Um filme, de repente, passou pela minha cabeça. Há três anos ela havia chego. Pequena, encantadora e adorável. Não pude me afastar, não conseguia ficar longe, tive de mimar, educar e proteger, porque ela era a minha menina. Minha garotinha. Bem, ao menos até o dia em que a olhei e não vi uma garotinha. Até agora, até perceber que sermos amigos não bastaria. Até perceber que minha amizade era tão falsa quanto aquela ternura que escondia qualquer outro sentimento depravado.

I am not your BrotherOnde histórias criam vida. Descubra agora