Capítulo 5

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POV. Elly Grahan

Ele estava vinte minutos atrasado.

Ainda era meu primeiro mês de aula e Justin já se atrasava pela terceira vez. Aquilo me irritava, aliás, tudo nele estava se tornando um pouco irritante. Os óculos escuros, o chiclete de canela, o carro preto e aquela jaqueta ridícula. Ele não era o mesmo Justin de sempre. Bem, há um ano eu já nem me lembrava do que significava "o mesmo Justin de sempre".

— Acho que vou aceitar a companhia — falei claramente constrangida ao garoto que se oferecia para me levar em casa.

— Sorte a minha — correspondeu sorridente. — Seu pai te esqueceu de novo?

— Meu pai jamais me esqueceria — fingi ofensa, mas Luke achou muito engraçado. — Justin foi embora sem mim, de novo.

— Justin Lennon? — Dessa vez ele parecia surpreso.

As turmas mais novas achavam que aquele babaca sem comprometimento era um tipo de deus. Todos adoravam Justin Lennon naquele lugar, era engraçado, já que, para mim, ele era só o Justin.

Eu concordei, fazendo-o arregalar ainda mais os olhos.

— Ele não é muito velho para te dar caronas?

Pude perceber o receio em sua voz, meu cenho franziu imediatamente ao notar o que ele estava supondo. Luke era novo na escola, havia entrado há apenas alguns dias.

— Somos meio que irmãos — a palavra tinha sabor amargo, eu não tinha o costume de usar aquela palavra para nós.

— Achei que fosse Elly Grahan — enfatizou meu sobrenome.

— Me adotaram — expliquei, foi engraçado ver Luke constrangido. — Tudo bem, eu adoro eles.

Nós estávamos na porta de casa quando me dei conta que pela primeira vez estava a sós com um garoto que não me via como uma pirralha invasora de lares. Engoli em seco, não sabia exatamente como agir com uma pessoa do sexo oposto. Minha experiência tinha nome, cheiro e braços cada vez mais musculosos, mesmo que nunca tenha sido real, mesmo que tudo nunca tenha verdadeiramente significado algo, eu jamais me esqueceria.

Ninguém pode esquecer um fenômeno da natureza como Justin. Ele era aconchegante, meu olhar se perdia quando ficávamos juntos e era como se tudo fosse ele. Por isso eu o amava. Por isso eu jamais o esqueceria, ainda que ele já não se importasse muito comigo.

— Você quer, hum, entrar? — minhas bochechas ruborizaram ao indagar.

— Não tem problema? — devolveu a pergunta.

Meu coração disparou no seio, quase podia senti-los se movendo, mas disse que não.

Luke entrou em passos incertos, como se estivesse nervoso por estar dentro da minha casa. Meus pais foram gentis com ele, inclusive o agradeceram por não ter me deixado vir sozinha. Eles não eram pais muito comuns, eram do tipo que orientam e te deixam fazer suas próprias escolhas, mas te ajudavam a encarar as consequências. Talvez seja por isso que mal se moveram quando Luke entrou em meu quarto e se sentou na cama.

— Tem mais irmãos?

— Robby — dei de ombros. — Deve estar tirando uma soneca, mas pode conhecê-lo outro dia... ah — ri baixo, entendendo porque estava perguntando aquilo. — Nós ainda dividimos o quarto.

— Justin?

Ele levantou num único salto.

— Ele nunca fica em casa — resmunguei, não conseguia esconder a falta que sentia dele.

I am not your BrotherOnde histórias criam vida. Descubra agora