CAPÍTULO 1

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São Paulo, 28 de janeiro...

Queria muito estar feliz com o resultado que tinha acabado de chegar, porém era impossível vendo a situação da minha família. Meu pai desempregado a quase seis meses, e minha mãe que não consegue largar o alcoolismo por nada. Ela até já tentou trabalhar mas sempre chegava no trabalho bêbada ou nem ia. Com aluguel atrasado, contas de água, luz, gás e a escola do Pedrinho atrasada, meu pai já não sabia de onde tirar dinheiro, ontem mesmo o proprietário da casa veio avisar que queria a casa semana que vem. Eu e meu pai tínhamos tentado colocar currículo mas foi em vão, todos dizia que não precisava ou que caso precisasse chamaria, mas quando chamaria? Se estamos precisando do dinheiro pra ontem.

Eu tinha acabado de saber que tinha passado no melhor colégio de São Paulo, mas como não tinha dinheiro pra pegar o ônibus eu nem sabia se iria, já que o colégio era longe e não tinha como ir à pé. Esse colégio sempre foi um sonho pra mim, isso me daria um futuro lá na frente.

Em frente ao notebook olho a lista com os nomes dos aprovados pra ter certeza que era eu.

— Parabéns meu amor, você merece muito — meu pai falou segurando em meu ombro — Só lamento não estar tão feliz.

— Tudo bem pai — tentei dar um sorriso mas saiu forçado.

— Pedro! Vem pegar esse carro que você deixou aqui na sala! — minha mãe gritou o Pedrinho enquanto  assistia TV e passava todos os canais — Esse colégio de rico ainda vai dar ruim, todos cheios de carro importado, enquanto você Mel, não tem nem a passagem do ônibus e muito menos roupa. Os bolsistas do Rotary group devem ser humilhados diariamente, e você sabe disso.

Minha mãe era a única que discordava de eu estudar lá, sempre com as mesmas falas.

— Não coloca coisa na cabeça da menina, Débora. Ela só estar correndo atrás do sonho dela.

— E desde de quando sonho leva alguém em algum lugar?! Olha nossa situação, Romario. Cheios de contas pra pagar e quase sendo despejados! Se eu não tivesse comessado a fazer faculdade e tivesse ido trabalhar hoje nós teríamos uma casa! — cuspiu cada palavra.

— Não posso nem pensar em ter um futuro agora? Que saco! — falei estressada fechando o notebook.

Do nada a luz começou a falhar e tudo se apagou.

— Será que faltou energia? — meu pai tentou ligar mas não acendeu.

— Mel! Mel! Tá escuro — o Pedrinho veio correndo de dentro do quarto e pulou em meu colo me abraçando.

— Lógico que não, já tem cinco meses sem pagar.

— Vamos morar no escuro? — Pedrinho perguntou assustado.

— Lógico que não, meu amor, vamos dar um jeito — tranquilizei ele, que colocou a cabeça no meu ombro.

Acendemos velas por toda a casa.

Tudo aquilo que estava acontecendo na minha vida era um pesadelo.

— Vamos dormir, amanhã eu vou fazer um serviço com o Jonas, ta bom  — meu pai me abraçou e deu um beijo no Pedrinho que já dormia em meu colo — Daí te dou o dinheiro do ônibus, ta bom?

— Se preocupa com outras coisas, pai. O resto eu dou um jeito. — dei um sorriso fraco — Boa noite.

Levei o Pedrinho pro quarto e coloquei ele na caminhada e cobri com o lençol.

Deitei na minha cama mas todos os problemas ecoavam em minha cabeça.

Que pesado meu Deus.

[...]

Outra euOnde histórias criam vida. Descubra agora