Capítulo Dois

2.8K 374 134
                                    

Tom Riddle Sr se casou novamente alguns meses após a morte de Mérope. Camille Leblanc não gostava do filho do primeiro casamento de seu marido. Ele era uma criança estranhamente quieta e quase não chorava mesmo quando bebê, o ar ao seu redor tinha uma sensação fria e perigosa. Aquela criança também tinha olhos vazios, como se não existisse uma vida ali.

Camille deu mais filhos a Tom Sr e o primeiro herdeiro foi gradualmente esquecido e isolado em uma parte remota da mansão. Ele cresceu como uma criança de beleza fria, com cabelos escuros como a noite, pele branca como a neve e lábios vermelhos como sangue. Ele se parecia demais com um vampiro e isso assustava as outras crianças.

Tom Riddle cresceu sozinho, passando a maior parte do seu dia praticando esgrima ou na biblioteca, com sua única amiga, a única pessoa que não tinha medo de estar ao seu lado. Seu nome era Nagini, ela tinha sido trazida do oriente como uma escrava e foi comprada pelos Riddle para cuidar do herdeiro esquecido.

Ela não falava muito, mas isso não era um problema já que o garoto também não. Eles se entendiam muito bem no silêncio da ala norte da mansão.

Tom Riddle tinha dez anos quando as coisas começaram a dar errado em sua vida. Foi nessa idade que ele perdeu tudo.

Era um fim de tarde agradável de verão, porém as cortinas estavam firmemente fechadas, apenas um candelabro iluminava parte da sala, bloqueando a luz do pôr do sol. Nagini lia um conto sentada no chão enquanto Tom brincava com seu cabelo, fazendo uma trança. Os dedos finos manipulam com calma os fios escuros, tecendo com calma e lentidão uma trança simples, porém bem arrumada. No fim, ele prendeu a ponta com uma presilha azul celeste e colocou a trança terminada sobre o ombro da mulher, esboçando um sorriso fraco. A presilha era bonita, com pequenos desenhos pintados em dourado e uma pequena pedrinha de ágata azul, a única coisa de valor que Nagini havia trazido consigo de sua terra natal.

Nagini não sabia de onde vinha o fascínio de Tom por seu cabelo, bem, talvez ele só gostasse de ter algo entre os dedos para se distrair. Era assim que se passava a maior parte de seus dias, eles liam, jogavam um pouco de xadrez, ou Nagini apenas assistia enquanto Tom praticava esgrima. Ela não entendia muito, mas sabia que Tom era bom naquilo apenas pela fluidez e leveza com que manuseava a espada, como se ela fosse uma extensão de seu braço. Ele tinha apenas dez anos, mas já era muito mais inteligente do que se esperava.

Estava tudo muito calmo, até que os gritos começaram. Nagini saiu para ver o que aconteceu e voltou horrorizada, ela agarrou Tom e o disse que precisavam ir embora naquele instante. Tom não entendeu o que estava acontecendo, mas ele nunca tinha visto a mulher tão assustada. Na pressa, o candelabro que iluminava a sala caiu no chão, iniciando um pequeno incêndio quando o fogo chegou até as cortinas. Mas eles não tinham tempo para se importar com isso, Nagini correndo com Tom pelos corredores atrás da saída.

A visão de todo aquele sangue, membros separados dos corpos, alguns até mesmo pareciam ter sido cortados ao meio, sangue, ossos e órgãos internos se misturando numa bagunça nojenta e nauseante. Toda a mansão fedia a sangue e morte. E, posteriormente, a queimado quando o incêndio se alastrasse para o resto da residência. Porém Tom nem teve chance de absorver tudo aquilo quando o som de uma risada horripilante chegou aos seus ouvidos, ele parou de andar, junto com Nagini.

Um homem caminhava lentamente em sua direção, ele estava sujo de sangue da cabeça aos pés, os olhos verdes como esmeraldas brilhando no meio daquela destruição. Ele sorriu, expondo as presas sujas de sangue. E Tom sabia muito bem o que aquilo significava: ele seria o próximo. E essa mensagem ficou ainda mais clara ao olhar um pouco mais para baixo e ver o que as garras do vampiro seguravam.

Era a cabeça de seu pai.

O sangue fresco pingava no chão.

O horror gravado em sua face. Os olhos azuis vazios.

E mesmo que Tom não sentisse nada pelo seu progenitor, aquela imagem ainda o aterrorizou e ficou em seus pesadelos durante anos.

Nagini foi a primeira a sair do estado de choque. Ela tinha que proteger aquela criança, era o seu único dever. Olhou uma última vez para Tom e o garoto sabia o que aquele olhar significava. Era um adeus.

Ele correu, correu pela sua vida. Ele ouviu os gritos de sua única amiga morrendo para o proteger. Ele não podia fraquejar, ela havia morrido para ele poder viver.

Mesmo com as risadas macabras o seguindo por todo o caminho, ele não olhou para trás uma única vez. Ele passou pelo jardim até chegar a chamada floresta proibida no fundo da propriedade. Ele continuou correndo, mesmo quando não ouvia mais a risada, chegando fundo na floresta. Tom tropeçou e caiu muitas vezes, mas sempre se levantava o mais rápido que podia e continuava correndo

Ele só parou quando chegou ao seu limite, caindo aos pés de uma árvore. A pele encharcada de suor, sangue e terra. Seu coração batendo tão rápido que ele conseguia sentir a pulsação em cada parte de seu corpo. Sua cabeça doía.

Minutos se passaram e no silêncio da floresta, apenas a respiração do garoto poderia ser ouvida. E Tom nunca teve tanto medo do silêncio em toda a sua vida. Ele sentiu seu corpo pesar com o cansaço e seus machucados começando a doer. Apenas lhe restava um pequeno fio de consciência.

E naquele momento, quando tudo se acalmou um pouco, Tom pode finalmente pensar em outra coisa que não fosse sobreviver. Ele havia perdido sua melhor amiga, sua casa, sua família. Tudo. Todos estavam mortos.

Tom Riddle era uma criança estranha, mesmo quando bebê ele não chorava muito. Mas naquele momento, ele não conseguiu fazer mais nada a não ser chorar como um recém-nascido. Um choro angustiante de uma criança que havia perdido tudo rasgavam o silêncio da floresta, os soluços rasgavam sua garganta e a dor emocional superou a dor física.

Ele chorou até não conseguir mais e sentir sua consciência se esvaindo aos poucos, sendo puxado para o silêncio do descanso. Ele viu algo se aproximar de si, fios loiros pálidos brilhando a luz da lua. Tom queria lutar e se proteger, mas não conseguiu mexer um só dedo antes de apagar.

Quando Tom acordou, ele sentiu uma sensação macia abaixo de si e a luz do Sol incomodando seus olhos. Por um momento, ele pensou que talvez tudo aquilo tivesse sido um pesadelo muito ruim, porém, quando abriu seus olhos e viu um teto desconhecido sobre sua cabeça, ele soube que tudo aquilo havia sido real.

Ele se sentou na cama, os olhos vazios observando seu entorno. Era um quarto simples, com uma única janela. Ele se levantou e foi até ela, piscando algumas vezes para se acostumar com a claridade. Do lado de fora, tudo que ele pode ver foi a clareira em que estavam e depois árvores e mais árvores. Uma névoa cercando a floresta proibida.

Sentiu calafrios percorrerem sua espinha, ele cresceu ouvindo histórias sobre os monstros que habitavam essa floresta e por um instante ele se perguntou se aquele vampiro também vinha daqui. Seja lá quem morasse nessa casa, não era bom e ele estava em perigo.

Quando ele abriu a janela e estava pronto para calcular uma rota de fuga que não o machucasse muito (estava no primeiro andar, se ele pulasse dali provavelmente deslocaria ou quebraria um osso, além do barulho que iria fazer), ele ouviu as dobraduras da porta rangendo, virando-se em alerta. Seus olhos procuraram algo próximo para tentar se defender, mas não havia nada.

-"Olá, que bom que está acordado." - Uma voz gentil e sonhadora soou e Tom finalmente olhou para a pessoa na porta. Era uma garota, parecia ainda mais jovem que Nagini. Ela era baixa, magra, tinha cabelos loiros pálidos e olhos cinzentos. Ela sorriu quando Tom a olhou, não parecendo ver o quão assustado e em alerta o garoto estava. - "Você deve estar com fome, vem, eu fiz o café da manhã. Ah, a propósito, meu nome é Luna, e o seu?"

Schneewittchen Onde histórias criam vida. Descubra agora