Destinada à perdição

13. Chá e desconforto

Aquela fresta das cortinas que permitiram que meigos raios de sol tocassem meu rosto me deu todas as energias que eu precisava. Após me arrumar, desci as escadas com uma velocidade e ânimo jamais vistas. Passo pelos aparadores repletos de vasos apreciando todos os aromas das mais diversas flores. Rodopio por toda a sala de visitas cantarolando uma melodia em sintonia com pequenos passarinhos das proximidades...

"Madame" ao ouvir aquela voz sou imediatamente retirada de meu encanto e olho a dona com uma cara assustada. "Acordou de bom humor viu" falou Ellen.

"Sim... Me desculpe por essa cena" dei uma risada nasal "Precisa de alguma coisa?"

"Na verdade, chegou uma carta para a senhorita" falou entregando-me a correspondência "De um tal de Christopher Thomas Allen".

Ao escutar esse nome senti um frio na barriga e minhas bochechas queimando.

"Devem ser bem íntimos" riu Ellen.

Peguei a carta de suas mãos e apalpei-a. Nunca havia recebido uma carta destinada a mim e pensar que Chris a havia escrito fez o meu estômago todo borbulhar. Após ela se retirar, me sentei em um dos sofás claros da sala e olhei-a novamente, confirmando o remetente e o destinatário. "Para Amélie Hughes" tateio sua bela caligrafia com meu nome de forma que a pudesse guardar para sempre em minhas mais felizes memórias. O fato dele ter colocado o sobrenome de Richard pouco me importou, ele tinha escrito para mim!

Abro o envelope delicadamente com um sorriso tolo nos lábios. Retiro o papel e abro-o.

"Hampshire (Inglaterra), 2 de setembro de 17XX

Cara Amélie..."

>> ❉ >>

Já lida a carta fui a procura de Richard. Ainda era cedo, provavelmente estava em casa. Fui às diversas salas da casa e o encontrei em seu escritório folheando o jornal.

"Richard" chamei-o, torcendo para que ele não ficasse bravo por estar incomodando.

Passado algum tempo ele tirou a atenção do papel voltando-se para mim, com certeza esperando uma notícia importante por eu estar toda ofegante.

"Christopher nos convidou para um chá a tar-"

"Não perco meu tempo com essas bobagens! Pode ir sozinha se quiser!" e voltou a ler o jornal.

Fiquei um tempo esperando que reconsiderasse, mas percebendo que ele praticamente ignorou minha presença, torci o nariz e fui pisando forte para me arrumar para o compromisso.

>> ❉ >>

"Obrigada pelo convite" falei me sentando.

"Eu que agradeço pela radiante companhia" sorriu "E Richard? Não virá?"

"Ele está ocupado com os negócios, mas pra não se desfazer de seu convite decidi vir desacompanhada."

"Entendo." Senti uma pontada de tristeza em sua voz, mas que logo fez questão de esconder "Como prefere o seu chá?" perguntou preparando duas xícaras.

"Morno e com três cubinhos de açúcar por favor"

"Morno? Mas não é mais saboroso quente?"

"Não gosto de queimar minha língua" ri.

"É exatamente o que a minha mãe diz" falou deixando de lado os preparativos e me olhando com um sorriso brincalhão no rosto "Mas ela é uma senhora".

Essa última parte fez com que eu ficasse em dúvida se era uma provocação ou um... elogio péssimo? Não sei, mas ri e logo fui acompanhada pela sua risada rouca.