Aquele que eu não consigo lembrar do título

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Akaashi sentou no banco da praça, soltando um suspiro ruidoso. Eles estavam atrasados, e nem mesmo deram qualquer tipo de explicação decente. Nem uma mensagem o informando sobre a atual localização deles. Nada.

Akaashi tornou a suspirar, pegando o celular. Tentou ligar mais uma vez, mas tanto Kuroo quando Bokuto o encaminhou para caixa postal.

— Está tudo bem, mocinho? — ele se assustou, só então notando a senhora ao seu lado. Akaashi quase riu, fazia tempo que ninguém o chamava de "mocinho" — Não deveria suspirar tanto, vai afastar a felicidade.

— Está tudo bem, sim — respondeu, educado e simpático, apesar da raiva que estava dançando em seu sangue. — É apenas o meu encontro que atrasou.

— Ah, isso é completamente normal. Talvez o trânsito esteja ruim.

— É, talvez seja isso — disse Akaashi, sorrindo, a fim de terminar aquela curta conversa. Ele voltou sua atenção ao celular, mandando mensagem no grupo com os namorados. Mas a senhora não havia terminado de falar com ele.

— Lembro do meu último encontro — disse ela — Foi com meu falecido marido. Aqui mesmo nessa praça, nos encontrávamos toda quinta feira a tarde. Tomávamos sorvete, naquele tempo tinha um gosto diferente, sabe? Não era essa massa de gordura e trigo que é hoje, era bem mais gelado — ela riu, como se tivesse acabado de lembrar de uma piada interna. — Mas ele adorava. O de morango era seu favorito.

Akaashi guardou o celular de volta ao bolso, dando total atenção a senhora. Ele sabia como os idosos adoravam contar histórias sobre o passado. Os avós de Kuroo eram assim. Sempre que os visitava, eles passavam horas conversando sobre o tempo que não voltaria mais.

— Eles também adoram sorvete de morango — diz Akaashi, quase sem perceber.

— Eles?

— Ah — Ele corou. Como ia explicar para alguém da geração passada que ele estava em um relacionamento poliamor? — Meu encontro. Eu tenho dois namorados.

— Oh, céus — a senhora colocou a mão sobre a boca. — Mocinho, como consegue? Um homem só já dá trabalho, imagina dois.

Akaashi piscou alguma vezes, confuso, antes de começar a rir.

— Realmente, eu tenho um trabalho dobrado, em vários sentidos.

A senhora riu, entendo o significado daquelas palavras.

— Sabe, eu tive muitos amores — ela tornou a falar —, alguns chegaram a brigar por mim. Não querendo me gabar nem nada, mas eu era um pedaço de mal caminho...

— Que isso, a senhora ainda está ótima.

— Ora, sei disso, mas antes tudo era no lugar e menos molenga, sabe? — Ela riu novamente, divertida. — Em determinado momento, eu me vi indecisa. Claro, eu amei meu marido e sinto falta dele todos os dias. Mas sempre que estava com ele, ainda na época de namoro, me via olhando para outro, e me sentia culpada por achar que estava traindo aquele quem escolhi.

— A senhora amou os dois?

— Acredito que sim — ela inclinou a cabeça para trás, olhando para o céu. — Às vezes me pego pensando como teria sido se tivesse escolhido ele ao invés do meu marido. Provavelmente sentiria a mesma coisa, estaria com ele e olhando para meu marido.

— E se tivesse escolhido os dois?

A senhora então olhou para Akaashi, e ele viu o sorriso antes brilhante se apagar. Ela balançou a cabeça.

— Eu queria ter tido essa opção na minha época.

— Eu... eu sinto muito.

— Ah, vamos, mocinho. Não fiquei triste de novo — Ela riu, dando tapinhas em seu ombro. — Isso são águas passadas. Fico feliz em saber que vocês têm mais oportunidades hoje em dia, até mesmo em relação ao amor.

Akaashi não sabia o que falar, então apenas sorriu, concordando com a cabeça.

Seu telefone deu sinal de vida, e ao longe ele pode ver Kuroo e Bokuto correndo, enquanto gritavam e acenavam por ele.

— Olha lá, devem ser o seu encontro — disse ela. Akaashi riu, se levantando.

— Vou indo. Foi um prazer conhecê-la.

— Igualmente, mocinho. Se divirta.

Akaashi de despediu com um aceno, correndo para encontrar seus amantes.

— Desculpa a demora, Keiji. Alguém reconheceu a gente, tivemos que parar pra tirar foto — disse Bokuto, tomando fôlego.

— O Kou quase chorou, não acreditando que tinha fãs reais. — Kuroo diz.

— Eu chorei? E você que ficou todo besta e enrolando as palavras?

— Ei! Prometemos não falar disso!

— Você mesmo que começou, bocó!

Akaashi riu. Então ficou entre os namorados, segurando o braço de cada um, os levando.

— Você parece de bom humor. — Kuroo comenta.

— É, Keiji, aconteceu algo bom? — pergunta Bokuto.

— Mais ou menos. Estava conversando com uma senhora fofa enquanto esperava por vocês.

Bokuto e Kuroo se encaram por cima da cabeça de Keiji, as sobrancelhas franzidas em confusão.

— Olhos de anjo... — começou Kuroo.

— ... Você tava sentado no banco sozinho. — Bokuto completou.

Akaashi parou de andar. Olhando para os namorados. Ele então olhou para trás. Encontrando o banco que estava antes vazio. Seu corpo inteiro se arrepiou.

— Misericórdia, vamo embora — disse ele. E os três começaram a correr para longe dali.

Três é demaisOnde histórias criam vida. Descubra agora