☂️five

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O fim de semana foi uma tortura, o choro inevitável e todos os espelhos de casa cobertos não eram o suficiente para repor minhas forças. Todas as noites meu corpo despertava, o suor escorrendo juntamente com as lágrimas, meus lábios clamando um nome que eu não deveria proferir, meu coração apertando cada vez mais e no fundo, talvez nem tão fundo assim, o desejo de sufocar de vez me consumindo. Sem saber se era costume ou outro fator oculto, eu me despia e deixava as gotas frias do chuveiro congelarem meu corpo pouco a pouco. O banho era uma tortura, as trocas de roupa, as refeições, mas nada era tão ruim quanto a lembrança de que na segunda eu teria que sair de casa. As pessoas da rua não merecem me ver, não posso punir ninguém tanto assim.

No momento eu estava jogada na cama enquanto Chan me ouvia chorar, ele estava sentado na cadeira giratória esperando o momento certo para falar, mas como a boa tagarela que sou não o deixei nem mesmo respirar.

- Eu devo ter sido alguém tão ruim na minha vida passada, Chan - choraminguei.

- Sonhos tem significados, Li. Vamos supor que você sonha uma única pessoa várias e várias vezes, e um dia acaba esbarrando nela, isso não pode ser coincidência então sim, sonhos tem significados. Você só tem que dar ouvidos para eles - o loiro explicava de forma calma e clara.

- É diferente, eu só tenho sonhado com coisas que já aconteceram, só que é mais bagunçado.

O Bang pareceu pensar um pouco antes de responder, talvez se perguntando o quão louca eu estava.

- Então é só o seu cérebro te confundindo. Quem é?

Meus olhos arregalaram, meu sangue recém gelado começou a alternar de temperatura, um misto de frio na barriga e...felicidade? Não não, eu nem deveria estar pensando no meu amigo colorido e agora meu corpo fica todo felizinho só de lembrar dele. Devido a demora em responder, Chris se aproxima devagar e coloca a mão na minha testa.

- Você não está com febre e parece estar saudável. O que é isso, Li? Doença no coração?

- Sim, Bang, é uma droga de doença no coração e ela vai me matar em questão de dias.

- Você está apaixonada - ele diz, fazendo meu corpo reagir um pouco rápido demais.

- Não, é amor de amigo.

- Não perguntei que tipo de amor era, eu afirmei que você está apaixonada.

Absorvi as palavras duras dele, e isso não foi uma escolha muito boa. Acabei viajando por algumas das noites que passei no apartamento de Minho, era tudo tão tranquilo, a forma como nossas risadas se tornavam respirações descompassadas e logo tudo estava silencioso, minha parte favorita acabava sendo o escuro, o silêncio, o som do ventilador apenas me dando sono, e o cheiro do shampoo que o Lee usava no cabelo, tudo isso acabava me embriagando da melhor forma possível. Era frustrante a forma como tudo acabou, quer dizer, provavelmente eu estaria com ele de novo sendo a garota suja que era, mas isso demoraria um pouco e até lá eu sentiria saudade dele.

Não percebi quando Chan saiu, nem quando escureceu mais, a única coisa que pude fazer foi tomar um banho e dormir, claro que foi um sono turbulento e muito, muito cruel.

Pela manhã eu já estava na escola, sozinha, com um humor péssimo, totalmente destruída. Aquela foto estava por aí, Minho estava por aí, uma vez que eu não o vi no pátio. Encarei o celular me perguntando se eu deveria ligar, mas depois das quatro tentativas de mais cedo, eu desisti e apenas encarei o celular mesmo. Niki apareceu e me fez perguntas, mas eu não estava estável o suficiente para responder.

Durante a aula eu nem conseguia prestar atenção, minhas notas implorando para que eu abrisse o maldito livro e fizesse aquelas merdas entrarem na minha cabeça. Eu ouvia? Não, o grilo falante que se dane, eu não queria ser uma menina de verdade, não ansiava por nada mais do que Lee Minho na minha frente dizendo que se importa, porque, porra, meu corpo já estava acostumado a receber suas carícias e meus ouvidos nunca estariam fartos de ouvir "é claro que eu me importo".

Seungmin jogou uma bolinha de papel na minha direção, nem me importei em devolver, invés disso uma ideia brilhante surgiu. A lâmpada na minha cabeça clamava por uma ação minha, mais especificamente jogar a bolinha de papel na lousa, e logo eu e Seungmin estávamos no corredor.

- Se você queria se ferrar eu não ligo, mas tinha que me trazer junto? - o Kim perguntava massageando a cabeça.

- Você vai me ajudar, Minnie, nós vamos entrar na sala das câmeras e descobrir quem usou o computador às 22:30.

- Ninguém usou computador algum da informática nesse horário, Li, estavam todos deitados em suas camas - ele falou colocando suas mãos em meus ombros e me fazendo encarar seus olhos.

- Se não tem ninguém, não faz mal checar, né?

Eu obviamente venci, Seungmin agora vigiava a porta da sala de câmeras enquanto eu procurava a pessoa que estaria ferrada nas minhas mãos. Quando encontrei a gravação correta, consegui ver uma loira invadindo a sala de informática e usando um dos computadores, se não fosse pela tiara em seu cabelo eu não saberia quem.

Lembro vagamente de Minho se vangloriando de ter confeccionado uma tiara nova para sua namorada, isso nem faz muito tempo, foi o meu pior dia dos namorados, afinal eu estava solteira.

Com os punhos cerrados levantei da cadeira e abri a porta, Seungmin pulou de susto e senti seus olhos pesarem em mim quando cruzei o corredor com fogo nos olhos. Os passos do garoto se aproximaram apressadamente, ele devia saber minhas intenções e se sabia, estava ciente de que a melhor opção não era me interromper.

Avistei Cho Hee sentada em um dos bancos, talvez prestando algum serviço 'pra esconder que era uma cadela. Aprovei a distração da garota e grudei minhas mãos em seu lindo cabelo sedoso, torcendo pra ter arrancado uma boa quantidade. A garota foi ao chão e me encarou incrédula, eu não perdi tempo - caso contrário ela me agarraria e nem Seungmin me tiraria dali - puxando novamente aquela cabeleira loira que ela tanto gostava, minhas mãos apertaram suas bochechas com força e em seguida desferi um tapa no local.

- Vou arrancar seus dentes - falei baixinho, estávamos próximas o suficiente.

Me preparei para dar um soco na boca dela, mas alguém me agarrou e foi nos afastando aos poucos. Relutei, mas Seungmin só me soltou quando trancou a porta do quartinho de limpeza.

- Porra, Seungmin, eu ia matar aquela vagabunda! - gritei, torcendo para que ela ouvisse.

- Certeza? E quando ela conseguisse te pegar? Ia dar um mata leão nela com seu meio metro? - ele aumentou seu tom, o igualando ao meu.

Ok, talvez eu realmente estivesse alterada, se aquela garota me pegasse eu estaria lascada, até Seungmin sairia apanhando, então nós decidimos ficar naquele armário apertado mesmo. Sentei no chão frustrada, minhas mãos ainda sedentas, ele deveria ter me deixado dar um soco ao menos.

- Não faz mais isso, tudo bem? - Seungmin diz cabisbaixo, eu deveria saber que acabaria assim.

- Como é?

- Não faz mais isso. O que eu ia dizer para os outros? Que deixei você ser espancada por uma garota que tem a minha altura?

Uma risada saiu de meus lábios, era incontrolável, Seungmin estava preocupado comigo ou com nossa vaga na escola?

- Eu prometo que...

Um estrondo, e logo depois a claridade alcançando minha pele de Seungmin, alguém abriu a porta, e era Minho. Ele estava com o rosto vermelho, sério, bravo, talvez furioso.

- O que diabos vocês fizeram?! - ele gritou, uau, nós nunca gritamos um com o outro.

Casual - Lee MinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora