eu acabei de ser roubado

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— Tá, me conte mais coisas sobre você... — ele me pede, esticando as pernas por debaixo da mesa e hesitando um pouco a falar, sinônimo de que o álcool realmente está fazendo efeito.

— Já te contei várias ontem — arrasto sobre a mesa um copo cheio d'água que pedi ao garçom assim que ele levou nossos pratos vazios.

— Me conte sobre... Sei lá... Sua família ou sobre coisas que você já fez ou gosta... Ou sente... Qualquer coisa — sacode a mão, rejeitando a água, mas eu empurro mesmo assim.

— Me dê um tema e eu digo.

Taeyong leva alguns segundos olhando para o chão, distraído, então ergue o copo e dá um longo gole na água. Se engasga, recompõe e depois surge com uma expressão de cientista que fez a descoberta do século.

— Família, então — me sugere, pousando o copo sobre a mesa.

Eu cruzo os braços.

— Por que quer saber sobre minha família?

— Porque eu tenho interesse em você e tu veio de lá, né? — dá de ombros. Típico dele.

— Hm, bem... — inclino meu corpo para frente, pondo ambos cotovelos sobre a mesa. Taeyong só fica me observando com a carinha de idealizador dele. — Minha família é minha família.

Acho que Taeyong não sabe que eu não gosto de falar sobre isso...

— Ah, parabéns, entendi tudo... — ele bate palmas, chamando atenção. Preciso segurar suas mãos para acalmá-lo. Tudo isso porque eu deixei ele beber um copo a mais que eu do tal Raki. — Diz qualquer coisa. Você sabe mais sobre minha família do que eu sei da sua.

— Justo — concordo. — Mas não sou obrigado a dizer.

— Vou meter um soco em você.

— Tá... — eu rio, vendo ele debruçar o peitoral sobre a mesa. — Mas ainda sim é injusto também. Sei coisas sobre sua família, você não sabe muito sobre a minha. Mas eu nunca tive contato com alguém da sua família, mas você já teve com alguém da minha.

Taeyong aperta as sobrancelhas numa explícita confusão. Suas expressões são tão fofas e exageradas...

— Tive não.

— Teve — toco sua franja e fico tentando ajeitar, mas acabo por fazer carinho. — No dia que nos conhecemos. Eu estava sentando com minha irmã. Só que você estava indo tão mal que nem percebeu ela lá...

— Quê? — agora ele está olhando para a janela, provavelmente tentando se lembrar de detalhes daquele dia. — Quê? Quê? Quê?

— Foi, sim. Ela viu seu vexame também — rio. Ai, nunca vou esquecer de todas as piadas internas que fiz sobre Taeyong naquele dia. Acho que fui um pouco cruel.

— Sua irmã estava com você? — o olhar pousa em mim, buscando mais confirmações.

— Sim, Taeyong... — reviro os olhos.

— Se eu tivesse uma máquina do tempo, eu voltaria para aquele dia e já iria chamá-la de cunhada — ele mesmo ri da brincadeira.

Eu estou ???? Que intimidade toda é essa?

— Nem namoramos, então isso não teria  sentido algum — lhe respondo. Afinal, é a verdade. Fatos, apenas fatos. — É bem melhor não forçar nada.

Taeyong solta um suspiro, com um rosto mais fechado,  depois se levanta. Fico olhando como ele, apressado, checa os bolsos da calça. Eu gosto dele, só não gosto quando ele força. Às vezes ele força. Forçar que somos namorados e que deveríamos agir como tal, como muitas vezes ele sugere com gestos. Eu não gosto quando ele fantasia demais e fica falando, porque significa que para ele aquilo é verdade... Mas não passou por um filtro, não foi acordado, não foi medido. Não quero ficar brincando de namoro com ele, eu prefiro ser bem objetivo. Ele diz que dessa vez vai ser melhor. Melhor o quê? Não é tão fácil para mim decidir quando ter um relacionamento estável. Não é fácil. Isso me assusta.

thé et fleurs༶✎༶tae. tenOnde histórias criam vida. Descubra agora