eu gosto de quando é só nós dois

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Algumas coisas não há como compreender, e uma dessas coisas é o porquê de Taeyong sentir prazer em arrancar-me a paciência logo quando estou preocupado sobre nosso destino. Ele diz que já aceitou que iremos ser raptados, e eu preciso mandá-lo ficar quieto quinhentas vezes. Entramos no primeiro ônibus que nos apareceu. Como sei como é a fachada da mansão, acredito que eu venha a reconhecê-la caso passemos em frente. Uma moça no ponto de ônibus nos disse que seria melhor pegarmos esse, pois não há muitos ônibus em circulação e esse passa por inúmeros lugares. Então aqui estamos nós, sentados no lado do sol.

— Se eu aprender a dançar pole dance, será que virarei o favoritinho do cabaré que iremos trabalhar na Turquia? — Taeyong pensa alto ao meu lado. Estou prestes a levantar e sentar com o adolescente gótico lá do fundo.

— Taeyong, fecha a porra dessa latrina, por favor? — dou um tapa na minha coxa só de ódio. Meu Deus, que vontade de descer o murro nele!

— Tá bom, mademoiselle... — vira-se para a janela e me deixa em paz por um tempo.

Ele deixa minha mão sobre a minha, começando um carinho gostoso e distraído. Ele costuma ser assim mesmo, do nada me vem com essas coisas, acaba até por chamar minha atenção. E eu, que nunca achei que mereceria Taeyong algum dia, encosto a cabeça em teu ombro e fico olhando as pessoas, a natureza, as lojas e restaurantes deste paraíso. Ilhas gregas são incrivelmente lindas.

E passamos bastante tempo assim, encostados um no outro, olhando o sol rasgar tudo que toca. Ele acariando minha mão. Eu derretendo em seu ombro. Eu gosto disso.

— Taeyong... — começo. Ele vira um pouco a cabeça na minha direção, mas não pode olhar totalmente o meu rosto. — Você não pode se vingar pelo dia dos botões.

— Posso, sim — ele sorri e se remexe um pouco.

— Não mesmo — torço o nariz e fico alguns segundos em silêncio. — Você... gostou de ter trabalhado comigo? Eu aceito a crítica de boa.

— Gostei, mas... — ele vira minha palma esquerda para cima e encosta as pontas dos próprios dedos nas minhas linhas. — Você é muito bravinho.

— Não sou, não.

— Então eu sou hétero.

Afasto minha cabeça do seu ombro e encaro seu rosto.

— Por que eu seria 'bravinho"? — questiono. Afinal, tenho que saber, né?

— Você grita, é impaciente, quer as coisas do seu jeito, perfeccionista, comenta coisas meio cruéis acerca do trabalho alheio e surta toda hora — o resumão dele me faz batê-lo com o olhar. — E faz essa cara de quem vai meter a porrada na pessoa.

— Acho que você não entendeu o que eu quis dizer com "trabalhar comigo" — explico, afastando minha mão do seu carinho. — Eu quis saber de uma maneira mais... Sabe... Condições de trabalho, horários, salário, benefícios...

— Ah... — ele ri envergonhado ou de nervoso ou os dois. — Eu só passo vergonha com você.

Eu rio disso.

— Deixa de ser idiota, menino — dou uma leve sacudida num dos seus ombros. — Você sente falta de trabalhar lá?

— Até que sim — dá de ombros. — Foi legal... Por quê?

— Por que o quê? Só estou querendo saber...

Taeyong estreita os olhos ao mesmo tempo que monta um beicinho.

— Tá bom, então, mademoiselle...

— Pare de me chamar disso.

— Tá bom, mademoiselle — ele está pedindo para apanhar.

thé et fleurs༶✎༶tae. tenOnde histórias criam vida. Descubra agora