I - Bem-vindos à Freeze Mountains

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     Em uma pacata cidade nos dias de semana, e agitada nos finais de semana por conta do turismo, Freeze Mountains contava com aconchegantes chalés no estilo suíço, um longo bairro apenas feito de restaurantes e atrações para os turistas, muitas cachoeiras e trilhas espalhadas em um grande parque ecológico verde (Green Falls) que abrigava diversas aves exóticas e dóceis, além de lugares para acampar. A parte turística podia ser grande, mas a parte da população local também, o que Freeze Mountains escondia de seus turistas era a pobreza que alguns de seus bairros possuía. O prefeito não dava sua atenção para esses bairros, ele apenas focava no que poderia dar lucro nos finais de semana.

     Em um dos poucos bairros de classe média — dentre os bairros esquecidos e os extremamente ricos — morava uma garota chamada Amber, que tinha grandes ambições de se tornar uma escritora no futuro. Ela morava com sua avó, Belinda, em uma casa lilás e branca, que atendia todas as suas necessidades como jovem adulta. Amber havia terminado o ensino médio a alguns anos e ainda não tinha um trabalho fixo para ajudar em casa. A avó havia ganhado a casa em que moravam de herança, e as sustentava com o dinheiro da sua aposentadoria. Elas tinham condições de se cuidar, mas não de fazer tudo aquilo que queriam. Apesar de já ter vinte e dois anos, Amber não se preocupava em fazer uma faculdade — ao contrário da maioria de seus antigos colegas de classe, que já estavam quase formados em algum curso popular, na opinião dos pais — ela tinha certeza de que conseguiria publicar suas histórias e ganhar a vida com isso, e sua avó a apoiava. Em uma manhã de domingo, Amber foi convidada, por suas três amigas mais próximas (Rita, Evelyn e Brooke), a ir à um torneio de tênis na parte turística — e glamourosa — da cidade. Ela aceitou na hora! Mas quando questionou as amigas, elas disseram que não estavam indo pelo esporte, mas sim pelos jogadores. Amber deu aquela revirada de olhos, mas não perdeu seu tempo respondendo, ela não era conhecida por se apaixonar tão facilmente, ao contrário de suas amigas desesperadas por um pouco de atenção masculina. 

     Rita foi buscá-la com conversível que havia ganhado de aniversário, e que não parava de gabar pelo mesmo. Evelyn e Brooke já estavam nos assentos traseiros, só comemorando o evento do dia. 

     — Preparadas? — Rita perguntou quando Amber entrou no carro.    

     — Preparadas!! — Evy e Brooke gritaram escandalosamente, enquanto Amber ria do jeito delas.

     — Sabe, Amber, se você não estivesse tão fechada para relacionamentos amorosos, talvez poderia encontrar alguém legal hoje. — Rita continuou.

     — Eu não estou fechada, só não vejo o porquê de ficar procurando tanto.

     — Ela acredita que o destino vai trazer sua perfeita alma gêmea e... — Brooke zombou, mas logo foi interrompida.

     — Ai, já pode parar, Brooke. — Amber revirou os olhos novamente enquanto as outras meninas riram da situação.

     Ao chegarem perto do Clube Barrow, elas notaram que o local já estava mais cheio do que imaginavam.

     — Uhuuul! Era por esse movimento que estávamos pedindo! — Brooke comemorou.

     Rita entrou com seu conversível, para procurar uma vaga, e claramente atraiu a atenção das pessoas.

     — Eles estão encarando. 

     — Esse é o objetivo do meu carro, Amber.

     — Olhem, meninas! Os filhos do dono do Clube, perto da segunda quadra! — Evelyn se animou.

     — Meu Deus, eles realmente são o que dizem... talvez até melhor. — Brooke comentou mas Evelyn logo a cortou:

     — Pois é... Mas se você quiser se arriscar, vá atrás do irmão mais novo, ouvi dizer que o mais velho é problema. — Amber e Rita deram atenção à conversa — Parece que o mais novo é muito mais talentoso, e por isso o pai deles parou de treinar o mais velho, fazendo-o perder seguidos torneios e a desistir do tênis profissional. 

     — Ele não joga mais?

     — Dizem pela cidade toda que não, mas talvez ele nos surpreenda. Seja como for, ouvi dizer que ele tem ataques de raiva e vários outros problemas internos. Fiquem longe, meninas. — Evelyn concluiu tão bem que Amber voltou seu olhar para o irmão mais velho, tentando encontrar qualquer traço de verdade do que a amiga acabou de dizer. Ele estava com uma expressão séria, observando tudo a sua volta com cautela, ao lado do irmão mais novo, descontraído, que conversava rindo com um outro jogador. 

     — Bem-vindas ao Clube, meninas. — Um dos funcionários abriu a porta para elas, educadamente. — Os jogos vão começar em cerca de cinco minutos, vocês reservaram algum assento?

     As meninas ficaram sem saber o que dizer, mas Rita tinha uma surpresa preparada:

     — Tickets vips, meus amores! A primeira fileira que nos aguarde! — Ela mostrou os ingressos e, é claro, Evelyn e Brooke fizeram outro escândalo. Você já consegue imaginar a reação de Amber...

     Elas se acomodaram em seus assentos segundos antes do primeiro jogo começar, e estranharam muito quando viram James — o irmão mais velho — se aquecendo de um lado da quadra.

     — Mas o quê? Ele vai jogar? — Rita não foi a única a ter comentado, a maioria das pessoas estavam se perguntando o mesmo, e um burburinho na plateia havia começado por causa disso, mas não durou muito.

     O silêncio para o início da partida foi pedido pelo juiz, e o jogo começou.

     Todos ficaram mais concentrados do que o normal, até mesmo Amber, que já não tinha interesse em mais nada além de seus livros, não conseguia tirar seus olhos de James. 

     Ele certamente sabia o que todos estavam comentando, mas agia como se não houvesse ninguém vendo. Seus olhos estavam fixos na bola e suas mãos firmes na raquete. Amber até achou uma certa beleza em seus movimentos — que ele estava executando com perfeição — como se tivesse treinado para aquilo incontáveis dias e noites. James estava se comportando como um jogador sereno e tranquilo, até que começou a perder e tudo mudou...

Montanhas GeladasOnde histórias criam vida. Descubra agora